Saudades do "Imperador" Marco Aurélio?


Do jornal brasileiro on-line:
  • A Cidade


  • Ele foi ídolo por mais de 11 anos nos campos portugueses. É o goleiro com recorde de partidas consecutivas na Liga Nacional daquele país e ainda foi capitão por cinco anos do Belenenses. E imagine onde está hoje? Ajudando uma lanchonete no Centro de Ribeirão.
    Este é Marquito, goleiro revelado pelo Botafogo e que na Europa ficou conhecido como Marco Aurélio. Porém, quem pensa que o ídolo da torcida do Belenenses, time que defendeu por mais de nove anos, está em Ribeirão por falta de opção, está enganado. “Tive convite para continuar como treinador de goleiros, mas preferi voltar. A saudade bateu”, disse. Enquanto passa pela fase de transição entre jogador e ex-jogador, Marquito ajuda a família. “Meu pai tem a lanchonete há mais de 10 anos. Como sou formado em administração estou colaborando”, disse.
    A história de Marquito em Portugal começou em 1996. O Rio Ave, time pequeno daquele país, conseguiu acesso para disputar a Liga Nacional naquele ano. O time voltou seus olhos para reforços brasileiros, e Marquito foi um dos contratados. No ano seguinte, o goleiro passou a atuar pelo Farense, também da primeira divisão, sendo contratado no ano seguinte pelo Belenenses.

    De acordo com o goleiro, o clube sempre está lutando pelas cinco primeiras colocações da competição. “Em Portugal somente três clubes lutam pelo título (Porto, Benfica e Sporting). Mas, o Belenenses sempre está lutando pelas cinco primeiras posições”, afirmou o ex-capitão do clube. Entre os torneios mais importantes que ele participou, está a Copa da Uefa, segundo torneio mais badalado da Europa.
    Marquito é prata-da-casa. Chegou ao Botafogo em 1982, com apenas 11 anos. Jogou junto com nomes conhecidos da torcida do Pantera, como Nenê, Lucido, Jéferson e Paulo Roberto.
    Com eles, foi campeão júnior em 89. “Era um time muito bom. Depois fomos para o profissional, mas não tive muitas chances. Joguei pouco mais de 20 jogos pelo clube”, disse.

    Depois do início em Ribeirão, o goleiro percorreu diversos clubes. Passou pelo Gioânia, pelo Vitória de Santantão, em Pernambuco, onde se transferiu para grandes clubes. Primeiro defendeu o Náutico, onde conseguiu o acesso para disputar a primeira divisão do Brasileiro de 94. O título mais importante da carreira de Marquito foi o Pernambucano de 96, já defendendo o Santa Cruz.
    De volta à cidade, o goleiro aproveitou o final de semana para reencontrar amigos em uma partida beneficente que aconteceu ontem no estádio do Santa Cruz. Entre as conversas, estava a reclamação com um dos joelhos. “O que acabou me ajudando a definir minha aposentadoria foi o rompimento do ligamento cruzado. Perdi quase toda a temporada passada”, comentou.

    Sobre sua carreira, Marquito afirmou que não se arrepende de nada. “O futebol me deu muito. Conheci países, culturas, pessoas. Porém, nunca deixei me iludir. Sou de família humilde”, disse. Sobre a situação atual do futebol, onde jogadores são vendidos por milhões antes mesmo de criarem uma identificação maior com os clubes, Marquito aconselhou os mais jovens. “Apenas uma minoria consegue mudar de vida do dia para a noite. Quando era júnior eu tinha o sonho de ser jogador mais mesmo assim fiz faculdade (administração de empresas), este é um conselho que dou aos mais jovens”, afirmou.

    Reconhecimento e recorde em Portugal

    Os poucos jogos defendendo o Botafogo e sua saída ainda muito jovem, com apenas 21 anos, impediram o goleiro Marquito de ter uma grande identificação com o clube e a torcida do Pantera. Porém, sua história em Portugal é digna de grandes nomes do esporte.
    O jogador rapidamente caiu nas graças da torcida do Belenenses, jogando mais de 320 partidas pelo clube português. Sua regularidade dentro de campo e a grande aplicação nos treinamentos, o levaram a bater o recorde de um ídolo do esporte português. Marquito hoje é o recordista na disputa de partidas consecutivas da liga portuguesa, com 194 jogos.
    O antigo recorde era de Vítor Baía, um dos maiores ídolos da torcida do Porto, com passagens pelo Barcelona e titular a frente do gol da seleção portuguesa durante anos.
    “Em Portugal sou reconhecido, respeitado. Jogar 194 jogos consecutivos é um feito, que na Europa demora seis anos para ser construído”, disse.
    Marquito, conhecido como Marco Aurélio nos campos lusos, também não esquece de um jogo contra o Porto, no antigo estádio das Antas (hoje estádio do Dragão, onde o Porto manda seus jogos).
    “Vencemos por 2 a 1 aquela partida. O fato mais curioso foi que eu defendi um pênalti do Deco (hoje no Barcelona) e a bola foi para escanteio. Depois da cobrança do escanteio, o juiz mandou voltar para o pênalti, pois o bandeira assinalou que me adiantei. Por sorte o Deco bateu para fora”, disse com um sorriso no rosto.
    Em Portugal, Marquito tinha uma vida estabilizada. Sua esposa trabalhava e sua filha, hoje com 9 anos, foi criada naquele país. “Agora estamos todos passando por uma fase de adptação. A saudade falou mais alto. As raízes sempre ficaram por aqui. Mas, estou aberto a possibilidades”, afirmou.