Parabéns Fúria Azul!

A Fúria Azul, grupo de associados belenenses, comemora hoje o seu 23º aniversário. Não só por se tratarem os editores da BAM de elementos activos na F.A., mas por elementar justiça, queremos deixar aqui expressos os nossos parabéns a todos os furiosos de hoje e de "ontem". Transcrevemos igualmente um texto muito pessoal publicado originalmente em Setembro de 2005, ou seja, aquando do 21º aniversário furioso.

"21 anos de existência!
Como o tempo passa!
Lembro-me como se fosse hoje: em 1985 ou 1986, tinha eu 11 ou 12 anos, abandonei para sempre os cativos (onde me encontrava com os meus pais) e juntei-me à Fúria Azul, aquele mundo tão maravilhoso e colorido que observava, à distância, tão ou mais atentamente que o próprio jogo.

Tudo me fascinava: as bandeiras enormes, as faixas, os tambores; as pessoas, os seus cânticos, os seus capacetes das obras azuis com autocolantes, os extintores abertos que transformavam o Restelo numa nuvem de fumo.

Mas antes mesmo de descer até a bancada geral e penetrar naquela realidade ainda somente por mim fantasiada, tentei reproduzir o que via no meu sector - o oito - e juntamente com alguns, poucos, miúdos da minha idade que também assistiam aos jogos com o pais, desci os degraus até ao varão do sector e aí, separados dos "adultos", fizemos a nossa pequena "Fúria".

E tínhamos as nossas próprias bandeiras, imploradas às nossas mães e aos seus dotes de costureiras; e também cantavamos tão alto como podíamos, tentando acompanhar a Fúria lá tão em baixo, mas ao mesmo tempo tão perto...
Não me lembro de toda essa miúdagem do sector oito, mas posso dizer que um deles edita, actualmente, este blog comigo e ainda canta na Fúria com o mesmo brilho no olhar que tinha à 20 anos atrás...

E, finalmente, o grande dia chegou! os meus pais deixaram-me finalmente "descer" aqueles pouco degraus, juntamente com a minha irmã mais velha, que me separavam daquele já meu amor, e a minha vida mudou...

Não me lembrou exactamente do meu primeiro jogo com a Fúria, mas calculo que com a excitação tão própria das crianças me tenha sido difícil adormecer naquele noite.

O tempo foi passando, a paixão Belenense foi crescendo, os amigos foram-se acumulando, e lá estava eu, na praceta onde morava com o rádio colado ao ouvido e o coração junto dos furiosos que fizeram a viagem: o Belenenses jogava em Barcelona! Lembro-me de toda a excitação que me invadia à medida que os minutos íam passando e o resultado permanecia nulo. Procurava desesperadamente ouvir, por detrás da barreira de palavras do relato, o grito de Belémmm, entoado pela Fúria Azul.

90 minutos de jogo; preparava-me já para festejar quando os catalães marcaram súbitamente um golo. Embora triste, pensei que o resultado era ainda assim satisfatório. Depois aconteceu: o Barcelona, aos 93 minutos, elevou o resultado para 2:0, o arbítro apitou pela última vez, e uma lágrima rolou-me pela face... sozinho, desapontado, regressei simplesmente a casa.

Já após o regresso dos furiosos, ouvi atentamente, bebendo as suas palavras, as histórias daquela presença inesquecível da Fúria Azul no estrangeiro. Não tinha mais de 14 anos, mas disse para mim mesmo: na próxima vez... eu lá estarei!

Pouco antes, em 1986, desloquei-me ao Jamor, para aquela que seria a minha primeira, e também da Fúria, final da taça de Portugal: o adversário, tal como voltaria a ser três anos volvidos, era o benfica.
Então com 13 anos, tudo ainda se mantinha tão fascinante para mim como no primeiro dia, e lembro-me ter vestido orgulhosamente a t´shirt azul celeste - dizia Fúria Azul por entre uma espécie de nuvem e um raio - que me fazia tão "furioso" como os restantes. Curiosamente, aquela mesma t´shirt, pensada especialmente para aquele jogo, funcionava como bilhete, tendo entrada livre todos que a envergassem.

Já dentro do estádio, fiquei deslumbrado com o mar azul que me envolvia, e ainda hoje penso que nunca a Fúria Azul esteve tão presente numericamente num jogo, como naquela tarde de sol.

Na época 1987-88 já era, segundo pensava, suficientemente "crescido" para ir aos jogos fora com a Fúria Azul. Até esse momento ia geralmente com os meus pais de carro, e só no estádio me juntava ao grupo. Após um longo verão de lamúrias e de ansejos, a minha mãe ficou tão farta que lá autorizou que eu fosse no autocarro juntamente com todos os restantes furiosos.

Lembro-me ter assistido a quase totalidade dos jogos do Belém fora do Restelo, naquela que seria, até hoje, para os Belenenses da minha geração, a melhor época desportiva do nosso clube.
Chegada a última jornada, disputavamos o terceiro lugar do campeonato com o sporting, sendo necessário somente empatar com o varzim, num jogo, devido a castigo dos da casa, realizado em Felgueiras.
A Fúria Azul, como sempre, esteve presente, acabando no final por festejar esse tão ambicionado terceiro lugar, que nos colocava novamente no seio da Europa do futebol.


E a "próxima vez" tinha efectivamente chegado: durante todo o verão de 1988, então com 15 anos, trabalhei numa obra enquanto servente, entregando baldes da massa e sonhando com o Belenenses europeu.
E o sorteio lá se realizou: Leverkussen, iríamos à Alemanha defrontar, para a Taça UEFA, o detentor do troféu.

Nos últimos dias de Setembro desse ano aconteceu: tinha chegado o momento de partir rumo a terras desconhecidas.
O autocarro partia, à meia-noite, defronte dos pastéis de belém... devo lá ter chegado, carregado com comida para três, com umas três ou quatro horas de antecedência!

Foi uma viagem de cinco dias inesquecível, que atravessou "meia" europa, com histórias incríveis passadas em diversos países. Quem lá esteve nunca esquecerá a visita a Paris e a noite que vivemos em Bruxelas...

E tivemos mesmo direiro à "cereja em cima do bolo"! Na Bayer Arena, perante largos milhares de alemães, cerca de três ou quatro centenas de Belenenses, entre os quais algumas dezenas de furiosos, fizeram a festa e trouxeram a vitória para Lisboa.

Repetindo-se o resultado - 1:0 - no Restelo, todos esperamos ansiosamente o que a sorte nos iria reservar: Velez Mostar, da então Jugoslávia.
O dinheiro não daria certamente para tão dispendiosa viagem, mas certamente na terceira ronda, que o Belenenses, todos acreditavamos, disputaria, quem sabe...

As expectativas no jogo fora não foram infundadas, o Belenenses obteve um animador 0:0 que perspectivava a fácil resolução da eliminatória no Restelo.
Tal não se verificou... com o sector da Fúria repleto, assistimos à permanência do nulo durante 90 minutos, e depois por mais 30 augustiantes minutos extra.
Penaltis: o sonho europeu do Belenenses dependia da roleta-russa das grandes penalidades.
E o sonho tornou-se um pesadelo: foi, sem sombra de dúvidas, o pior jogo da minha vida e, pela última vez até ao presente, chorei pelo Belenenses.

A vida continua, e em 1989, lá regressei novamente ao Jamor com a Fúria Azul, e contribui, cantando, para a mítica vitória da Belenenses.

Seguiram-se anos negativos quer para a Fúria Azul, quer para o Belenenses, com o nosso grupo a se auto-extinguir, pelo período de seis meses, devido a divergências com a direcção da época e com o nosso clube a regressar, pela segunda vez na sua história, à 2ª divisão.

Na precisa época, 1991-92, que disputamos o campeonato inferior do nosso futebol, a Fúria Azul regressou com força e vigor, demonstrado que é nos maus momentos que se distinguem os verdadeiros Belenenses.

E o resto até a actualidade é, como se costuma dizer, História e Memória!

Nestes 21 de existência (23 presentemente), a Fúria Azul encontrou-se sempre ao lado do Belenenses, com paixão e entusiasmo, continuando a ser em 2005 (e em 2007!) o que sempre foi: um exemplo de paixão clubística e uma escola de Belenensismo.

Na Fúria Azul, no decorrer destas mais de duas décadas, efectivamente milhares de jovens aprenderam a ser Belenenses. Mais: apreenderam os valores que regem a nossa instituição, e tornaram-se Belenenses para toda a vida.

E a Fúria Azul não é um conceito abstrato, não é betão da sua sede: a Fúria Azul é sangue, carne e veias dos que a amam, tal como ao Belenenses, verdadeiramente.

A Fúria Azul não é os furiosos de hoje, mas sim os furiosos de sempre e os que vierem amanhã.

A Fúria Azul não se vê somente no sector onde se encontra nos jogos, mas por todas as restantes bancadas e aspectos da vida do clube. Mesmo que não activamente integrados na Fúria hoje, inúmeros associados do nosso Belenenses pertenceram, num momento ou noutro, ao grupo: e estes furiosos de hoje e de ontem são a alma e o futuro do nosso clube; encontram-se presentes na direcção, nas bancadas, em todo o lado onde o Beleneses vive!!!

A Fúria Azul é, enfim, todos nós, mais velhos ou mais novos, que amamos o Beleneses de forma especial".