Naval 1 : Belenenses 1 - Análise Belém até Morrer.


A estreia do Belenenses na liga 2007-08 foi pouco auspiciosa, sobretudo se tivermos em conta a exibição e as expectativas criadas.

Mesmo antes do início do jogo, foi evidente para todos os presentes que seria impossível jogar bom futebol no Bento Pessoa da Figueira Foz: o vento forte que assolou a cidade quase assumiu o estatuto de tempestade, ficando a eventual diferença técnica entre as duas equipas imediatamente esbatida.

Tal como havíamos previsto, o Belenenses entrou em campo com Costinha; Alvim; Rolando e Devic; Cândido; Gabriel e Ruben; Zé Pedro e Silas; Mendonça e João Paulo.

As características das três duplas do meio campo e ataque azul ilustravam com clareza quais as intenções de Jesus: Gabriel e Ruben, a dupla batalhadora, deveria ganhar a guerra do meio-campo, recuperar através do pressing o máximo de bolas possível e imediatamente iniciar os ataques; Zé pedro e Silas, a dupla criativa, deveriam espalhar a sua magia pelas 4 linhas e servir convenientemente o ataque; Mendonça e João Paulo, a dupla possante e rápida, deveriam manter a sua veia goleadora e alvejar as redes adversárias sem piedade...

Acontece que os planos saíram furados, nunca conseguindo o Belenenses ser eficaz em nenhum dos capítulos do jogo que descrevemos.

Se Ruben e Gabriel, a dupla que apelidamos de "batalhadora", ainda conseguiu um nível exibicional relativamente positivo - o vento não foi tão penalizador neste sector do campo - Silas e sobretudo Zé Pedro tiveram uma péssima noite, nunca se conseguindo sequer vislumbrar resquícios do seu bom futebol da época transacta. Tal como havíamos prognosticado, Zé Pedro - cujos maus índices físicos são já crónicos - é uma sombra de si mesmo quando actua mais descaído pela esquerda, circunstância agravada pela forte ventania. Já Silas mostrou mais disponibilidade física, sem que todavia este facto significasse qualquer espécie de eficácia.

Depois de traçado este cenário, difícil seria que o ataque não sofresse de males consequentes: Mendonça e João Paulo tiveram pouca bola, realidade que significou poucas oportunidades de alvejarem a baliza. Se o brasileiro pouco as procurou - não obstante a entrega incondicional ao jogo - o angolano, fazendo jus à sua mobilidade e velocidade, ainda procurou ter bola e ensaiar nos primeiros 15 minutos do jogo alguns raids ofensivos de bom nível mas sempre inconsequentes (acabou por perder gás rapidamente, vendo-se mesmo substituído pelo "goleador" Fernando já no decorrer dos segundos 45 minutos).

Anulada a maior capacidade técnica dos azuis pelo vento - que soprou a favor dos navalistas na 1ª - os esforçados homens da casa foram sempre mais práticos, apostando num futebol mais vertical. Consequência disto mesmo, nunca se fizeram rogados quanto se tratou de explorar o vento e atirar à baliza: livre de Gaúcho aos 3 minutos que embate na barreira; incursão de Dudu pela esquerda que culmina num remate para as mãos de Costinha (10 minutos); remates ao lado de Hugo Santos e de Saulo (19 e 20 minutos respectivamente).

Pelo meio, a única jogada dos azuis merecedor desse nome: aos 12 minutos Zé Pedro progride pela esquerda, cruza para João Paulo, rematando o brasileiro ligeiramente ao lado da baliza à guarda de Taborda.

Mero fogacho belenense, já que a Naval, 3 minutos volvidos, beneficia de três cantos consecutivos que serviram como pronuncio para o que aconteceria já perto do final do encontro, aparecendo Marcelinho sozinho na cara de Costinha - que faz a "mancha" com eficácia - quando o relógio marcava os 21 minutos.

Os azuis acusaram o perigo, e equilibraram o jogo, que decorria sobretudo a meio-campo. Nos últimos minutos da primeira parte assistiu-se inclusive a uma melhoria do Belenenses, que até ao intervalo domina as operações e cria perigo relativo - Mendonça, por exemplo, aos 42 minutos, falha o remate de primeira quando, já dentro da grande área, poderia alvejar com perigo a baliza de Taborda.

Após o regresso do intervalo, tudo fazia crer que o Belenenses, agora a favor do vento, iria definitivamente embalar para a vitória, mas: puro engano!

Ao invés, a Naval surge mais perigosa, falhando Saulo a emenda ao segundo poste (46'). Dois minutos volvidos é bem anulado um "golo" de Marcelinho, jogador que pouco depois cabeceia ao lado após solicitação de Hugo Santos.

A Naval, independentemente de jogar contra o vento, continua mais prática, apostando sempre num jogo extremamente vertical com base nas alas.
Preocupado, Jesus reage no banco e faz entrar Fernando para o lugar de Mendonça (52') - o Belenenses passa a jogar mais em 4x3x3, com Zé Pedro mais ao centro, Silas pela direita e Fernando pela esquerda.

Todavia, o cariz do jogo permaneceu inalterado, continuando a Naval a dominar e a criar mais perigo - Davide continua em destaque.

Jesus, aos 63 minutos, compreende que o jogo estava a perder-se a meio campo, e faz entrar Hugo Leal para o lugar do apagado Gabriel - a Naval optava frequentemente por fazer sobrevoar a bola pelo meio campo defensivo azul e, simultaneamente, Gabriel mostrava-se ineficaz dentro das 4 linhas, consequência da sua lentidão de processos e falta de sentido prático (o futebol sul-americano é, como todos sabem, jogado a um ritmo menor, ritmo esse que acabou por ser apanágio do Real Madrid, na Corunha, enquanto Gabriel esteve em campo; talvez esteja aqui a chave da excelente exibição do panamiano nessa ocasião. Quando, tal como sucedeu hoje, o ritmo aumenta...)

Quase imediatamente o Belenenses ganha objectividade e verticalidade, sofrendo o jogo nova "reviravolta" os azuis voltam a comandar e a criar perigo, ainda que relativo - remates de Hugo Leal aos 71 e 74 minutos, sendo o primeiro destes direccionado à baliza. Pelo meio, Jesus esgota as substituições e faz entrar Rafael para o lugar de Silas, o que significou que Zé Pedro (?!?) realizou os 90 minutos.

A tal verticalidade azul continua a assustar os navalistas, sobretudo na sequência de perigosos passes de Hugo Leal para as costas da defesa dos da casa - tal sucedeu por exemplo aos 75 minutos, mas João Paulo chegou atrasado ao lance.

Pouco depois, a melhoria inconsequente do Belenenses dá finalmente frutos (ainda que algo injustos): Fernando, na sequência de um livre directo a mais de 35 metros da baliza, dispara um autêntica bomba que só pára quando se anicha no fundo das redes de Taborda. Loucura na bancada afecta às hostes belenenses.

O técnico navalista reage pouco depois - entrada de João Ribeiro e saída de Dudu -, mas poucos acreditavam no empate, que acabou por suceder, mais uma vez, pertíssimo do final...

Canto apontado da direita ao qual Paulão responde com um cabeceamento vitorioso. Não havia tempo para muito mais e estava feita justiça - nenhuma equipa mereceu ganhar.

Notas positivas para Rolando, Cândido, Fernando e Hugo Leal no Belenenses.

Nota negativa para o facto do banco azul estar deserto no que respeita a ponta de lanças.

Jesus na primeira pessoa:

"Quando uma equipa sofrer um empate a um minuto ou dois do final não pode achar bom resultado. De qualquer forma conquistámos um ponto num campo muito difícil, face ao vento que se sentia no relvado. A Naval teve mérito, é uma equipa que aproveita bem as bolas paradas e chegou ao empate devido a tudo o que fez. Foi um jogo muito disputado, com um ritmo intenso, e faltou-nos algum poder na frente, uma vez que como sabem perdemos os dois avançados titulares na época passada. Silas e Mendonça não são avançados, mas tive de colocá-los lá na frente. Os meus jogadores estiveram bem, mas faltaram-nos algumas componentes na zona de decisão: precisamos de jogadores para ajudar o João Paulo, que é o único avançado de raiz. É natural que venha mais algum jogador."

Mais: "Foi difícil jogar. Estava muito vento. Mas o jogo teve alguma intensidade, embora tecnicamente não fosse possível jogar melhor. Na primeira parte a partida foi dividida e senti que se chegássemos empatados ao intervalo iríamos ganhar, pois na segunda parte teríamos o vento a favor. Senti que o Fernando ou o Zé Pedro poderiam fazer golo de bola parada e isso aconteceu. Já não esperava era sofrer um golo tão tarde, mas o Paulão é um jogador muito forte nesses lances. Um ponto fora é positivo e reconheço que a Naval não merecia perder. Mesmo assim, não podia exigir mais à minha equipa. Com o Roncatto de fora e a saída do Dady não tivemos poder na frente. Tive que meter o Mendonça, o Silas e depois o Rafael Bastos naquela posição mais ofensiva"(flash interview).

"Acabou por ser positivo conquistar um ponto fora de casa. A Naval também, acreditou até ao fim, os seus jogadores acreditaram que podiam empatar o jogo. O Paulão é um jogador muito perigoso nas bolas paradas. Para além de ser grande é um jogador que acabou por merecer o golo. A divisão de pontos é justa. Não podia exigir mais à minha equipa, como eu vos disse, em função da ventania que estava... Vamos preparar-nos para o próximo jogo..." (rádio - Jesus visivelmente rouco).

O melhor da noite acabou por ser... Os adeptos azuis que compareceram em excelente número se tivermos em conta tratar-se de uma segunda-feira. Mais do que a quantidade, registo para a qualidade dos belenenses presentes que nunca regatearam esforços para incentivar a sua equipa (tantas vezes críticos, desta vez aplaudimos a massa adepta azul, que apoiou toda em uníssono, não se limitando a escutar os cânticos da incansável Fúria Azul. Parabéns a todos - de Lisboa, do centro e também do norte do país - que fizeram a viagem).

Última nota: pior que o empate, seria os belenenses duvidarem da sua equipa, duvidarem de si mesmos, afinal. O entusiasmo em redor da equipa não pode esmorecer: pelo contrário, terá que decaduplicar no jogo frente ao braga. Vamos, todos juntos, reeditar o "inferno" da meia final da taça.

GRANDES SOMOS NÓS!!!


Resumo do Jogo.