
História de Matateu: 9.ª e 10ª parte

O resultado final da partida foi favorável à nossa equipa por 3-1, sendo um dos golos obtido pelo nosso interior esquerdo, Matateu.
Após a excelente exibição naquela partida, Lucas da Fonseca tornar-se-ia um dos jogadores efectivos na equipa das “quinas”.
Assim, sete dias depois do encontro com a África do sul, Matateu voltava a vestir a camisola nacional.
A Áustria foi o adversário que se seguiu e o jogo disputou-se também no Estádio Nacional. A maioria dos jogadores austríacos conheciam já o fogoso avançado da selecção portuguesa. Tal circunstância originou que a acção de Matateu fosse vigiadíssima por parte dos defesas antagonistas. Como no Domingo anterior tinha acontecido com os jogadores da África do Sul, também os austríacos consideraram Lucas da Fonseca um dos mais perigosos dianteiros da Europa.
Não obstante as grandes esperanças dos adeptos do Belenenses, não seria ainda naquela época que a popular colectividade veria concretizado o seu maior sonho: ser novamente campeão.
Igualmente Matateu continuaria a sua carreira sem conhecer, por enquanto, a alegria de um título.
Na sua já (em 1960) longa carreira futebolística, Lucas nunca conseguiu concretizar tão almejada pretensão.
Em contrapartida, os êxitos individuais continuavam cada vez maiores.
Para colaborar na festa de homenagem a Grazina, o extraordinário “gigante” do Olhanense, a equipa do Belenenses deslocou-se à pitoresca vila de Olhão, com todos os seus elementos titulares.
Esse jogo jamais será esquecido por aqueles que tiveram a felicidade de a ele assistir. Primeiro por se tratar da homenagem a um dos mais correctos e populares jogadores portugueses, depois pela exibição que Matateu fez: Dos doze golos obtidos pela equipa azul, Matateu fez seis. Autêntico festival de futebol oferecido pelo moçambicano do Belenenses. Dos seis golos marcados pelo internacional Lucas, não existiram dois marcados da mesma maneira. Cada um constituiu para os algarvios autênticas inovações na forma de bater os defesas antagonistas.
Novamente Matateu foi chamado à selecção que defrontaria a Bélgica, na cidade de Bruxelas.
Em 14 de Março de 1954, Matateu jogava pela primeira vez em representação da turma nacional no estrangeiro. O resultado do jogo foi um inexpressivo 0-0. Embora não marcasse, Matateu foi o grande gigante da nossa equipa, o melhor elemento em campo. A sua figura irrequieta e desconcertante foi uma preocupação constante para os adversários. No final do encontro o público entusiasmado pela extraordinária exibição do jogador do Belenenses levou-o em triunfo. Matateu conquistara os adeptos do futebol na Bélgica. No dia seguinte ao do encontro, os jornais de Bruxelas publicavam os mais elogiosos comentários à actuação do interior esquerdo da equipa de Portugal.

Terminado o Campeonato Nacional em que o Belenenses se classificou em 4º lugar, deu-se início à Taça de Portugal. Ao clube de Belém coube disputar o primeiro jogo do torneio com o Marítimo do Funchal. Depois de ter eliminado o seu primeiro adversário, o Belenenses teve que competir com o Sporting, sendo a primeira mão no campo dos leões.
Novo triunfo de Matateu. Após uma excelente exibição de toda a equipa, o Belenenses venceu por 4-2. Matateu fez dois golos, o segundo dos quais deixou o guardião leonino (Carlos Gomes) bastante desmoralizado. Decorria o jogo no meio do maior entusiasmo. O Belenenses procurava obter mais golos que lhe proporcionassem maior vantagem para o encontro da segunda mão.
Numa jogada a meio campo Matateu capta o esférico e, na sua corrida característica, vai ultrapassando todos os adversários que se lhe deparam. Perto da grande área o jogado azul é derrubado por um defesa leonino (Gonçalves), que acaba por pisar o moçambicano.
Matateu foi retirado do rectângulo. Nas cabinas, o médico do clube concluiu, após o exame, que Matateu havia sofrido fractura da clavícula esquerda. Matateu começou a assim a pagar o seu tributo ao futebol.
O jogo da segunda eliminatória efectuou-se no Estádio Nacional. Matateu sentou-se no banco dos assistentes. O Belenenses acabou por ser eliminado pelo seu adversário.
Durante o defeso entre as épocas de 1953/54 e 1954/55, registou-se um acto da maior transcendência na vida de Matateu. Ele, que tantas conquistas contava já no seu palmarés de desportista, fora, enfim, conquistado pelo coração de uma mulher. O romance de amor entre o Lucas Sebastião e a Dona Matilde da Silva teve, num dia quente de Agosto, o seu natural desfecho: o casamento.
Este acontecimento teve grande influência na carreira futebolística do famoso jogador, pois, a partir desse dia, Matateu modificou um pouco o seu regime de vida que, naturalmente, passou a ser mais calma e sossegada. Tal alteração constituiu um grande benefício no capítulo físico, proveniente de uma vida mais regrada.
E começou nova época de futebol: 1954/55, que ficaria bem assinalada na história de Matateu.
Os primeiros jogos efectuaram-se no Estádio Nacional, num festival de homenagem aos internacionais António Feliciano e Rogério de Carvalho, do Belenenses e do Benfica, respectivamente.
Na semana seguinte começou então o campeonato, e, novamente, os adeptos dos azuis se encheram de esperanças. Seria naquela época? Tudo parecia encaminhar-se para que tal sonho se concretizasse, pois a equipa de Belém actuava em bom plano.
Entretanto, a equipa portuguesa inicia a campanha internacional de 1954/55 com um encontro disputado no Estádio Nacional, no dia 28 de Novembro, contra a Argentina.
Pela primeira vez Matateu alinhou, na selecção, a extremo esquerdo, lugar que havia ocupado uma única vez, desde que se encontrava em Portugal, num encontro contra o Vitória de Guimarães.
Logo nos primeiros lances do jogo, Matateu denotou grande nervosismo, coisa que surpreendia por constituir novidade nas actuações do jogador belenense. Nos primeiros quarenta e cinco minutos do prélio, a exibição do extremo esquerdo português não foi de harmonia com o que se esperava. Alguma coisa existia no espírito do famoso avançado que o preocupava excessivamente. E, na verdade, o caso não era para menos. A notícia foi-lhe transmitida pelo então seleccionador nacional, o saudoso Dr. Tavares da Silva, no intervalo da contenda: Matateu era pai de uma menina.
Na segunda parte do encontro Matateu fez uma excelente exibição, correndo a todos os lados, em fugas e fintas quase diabólicas.
A equipa dos Pampas venceu por 3-1. Matateu nunca esqueceu esse jogo, assim como a sua filha que, por ter nascido naquele dia, lhe deram o nome de Argentina.
Continuou o campeonato, encontrando-se o Belenenses bem encaminhando para a conquista do título e Matateu distanciado na tabela dos marcadores de golos, o que lhe prometia a conquista da Bola de Prata pela segunda vez.
Em 19 de Dezembro voltou a alinhar pela selecção, desta vez contra a Alemanha. Conheceu outro lugar: avançado-centro.
Este jogo foi, não obstante o facto de Matateu atravessar um período de grande forma, um dos seus piores encontros.
Os jogadores germânicos que haviam declarado temer o “extraordinário negro”, manifestaram a sua surpresa no final da partida.
Em contrapartida, o 1º prémio dos marcadores foi conquistado pela segunda vez, tendo obtido o recorde de golos marcados no campeonato da 1ª divisão.
Antes, porém, verificou-se o dia mais triste da carreira desportiva de Matateu e talvez da maioria de todos os belenenses.
No relvado das Salésias, o Belenenses jogava o seu último encontro do Campeonato Nacional. Adversário: o Sporting. O “velhinho” estádio encontrava-se cheio de uma multidão entusiástica e vibrante. Era um domingo de sol radioso. O Belenenses necessitava de vencer para alcançar aquilo que os seus adeptos tanto desejavam: a conquista do título. A quatro minutos do fim, o Belenenses vencia o seu antagonista pela diferença de uma bola. Os nervos eram contagiantes. O público afecto ao clube de Belém vivia momentos de delírio. Faltavam somente quatro minutos quando o drama aconteceu. Um remate colocado de Martins anichou o esférico na baliza dos azuis.
Era o fim de um castelo de sonhos arquitectado durante longas semanas, esperado durante alguns anos.
O Belenenses ainda reagiu e, no último minuto, Matateu apareceu isolado diante Carlos Gomes. O público emudeceu. Matateu rematou com força mas a bola saiu por cima da barra.
Quando o árbitro apitou para o final do encontro Matateu deixou-se cair na relva. O seu rosto suado era o rosto de um vencido. O suor e as lágrimas uniam-se, deslizando pela camisola encharcada. Matateu afirma hoje (1960), quando se fala dessa tarde dramática vivida nas Salésias no final da época 1954/55, ser o dia mais triste da sua carreira desportiva, e acrescenta:
- “E foi pena, pois essa época tinha sido das que melhores recordações me deixaram, tanto como futebolista como na minha vida particular.”
Este acontecimento teve grande influência na carreira futebolística do famoso jogador, pois, a partir desse dia, Matateu modificou um pouco o seu regime de vida que, naturalmente, passou a ser mais calma e sossegada. Tal alteração constituiu um grande benefício no capítulo físico, proveniente de uma vida mais regrada.
E começou nova época de futebol: 1954/55, que ficaria bem assinalada na história de Matateu.
Os primeiros jogos efectuaram-se no Estádio Nacional, num festival de homenagem aos internacionais António Feliciano e Rogério de Carvalho, do Belenenses e do Benfica, respectivamente.
Na semana seguinte começou então o campeonato, e, novamente, os adeptos dos azuis se encheram de esperanças. Seria naquela época? Tudo parecia encaminhar-se para que tal sonho se concretizasse, pois a equipa de Belém actuava em bom plano.
Entretanto, a equipa portuguesa inicia a campanha internacional de 1954/55 com um encontro disputado no Estádio Nacional, no dia 28 de Novembro, contra a Argentina.
Pela primeira vez Matateu alinhou, na selecção, a extremo esquerdo, lugar que havia ocupado uma única vez, desde que se encontrava em Portugal, num encontro contra o Vitória de Guimarães.
Logo nos primeiros lances do jogo, Matateu denotou grande nervosismo, coisa que surpreendia por constituir novidade nas actuações do jogador belenense. Nos primeiros quarenta e cinco minutos do prélio, a exibição do extremo esquerdo português não foi de harmonia com o que se esperava. Alguma coisa existia no espírito do famoso avançado que o preocupava excessivamente. E, na verdade, o caso não era para menos. A notícia foi-lhe transmitida pelo então seleccionador nacional, o saudoso Dr. Tavares da Silva, no intervalo da contenda: Matateu era pai de uma menina.
Na segunda parte do encontro Matateu fez uma excelente exibição, correndo a todos os lados, em fugas e fintas quase diabólicas.
A equipa dos Pampas venceu por 3-1. Matateu nunca esqueceu esse jogo, assim como a sua filha que, por ter nascido naquele dia, lhe deram o nome de Argentina.
Continuou o campeonato, encontrando-se o Belenenses bem encaminhando para a conquista do título e Matateu distanciado na tabela dos marcadores de golos, o que lhe prometia a conquista da Bola de Prata pela segunda vez.
Em 19 de Dezembro voltou a alinhar pela selecção, desta vez contra a Alemanha. Conheceu outro lugar: avançado-centro.
Este jogo foi, não obstante o facto de Matateu atravessar um período de grande forma, um dos seus piores encontros.
Os jogadores germânicos que haviam declarado temer o “extraordinário negro”, manifestaram a sua surpresa no final da partida.
Em contrapartida, o 1º prémio dos marcadores foi conquistado pela segunda vez, tendo obtido o recorde de golos marcados no campeonato da 1ª divisão.
Antes, porém, verificou-se o dia mais triste da carreira desportiva de Matateu e talvez da maioria de todos os belenenses.
No relvado das Salésias, o Belenenses jogava o seu último encontro do Campeonato Nacional. Adversário: o Sporting. O “velhinho” estádio encontrava-se cheio de uma multidão entusiástica e vibrante. Era um domingo de sol radioso. O Belenenses necessitava de vencer para alcançar aquilo que os seus adeptos tanto desejavam: a conquista do título. A quatro minutos do fim, o Belenenses vencia o seu antagonista pela diferença de uma bola. Os nervos eram contagiantes. O público afecto ao clube de Belém vivia momentos de delírio. Faltavam somente quatro minutos quando o drama aconteceu. Um remate colocado de Martins anichou o esférico na baliza dos azuis.
Era o fim de um castelo de sonhos arquitectado durante longas semanas, esperado durante alguns anos.
O Belenenses ainda reagiu e, no último minuto, Matateu apareceu isolado diante Carlos Gomes. O público emudeceu. Matateu rematou com força mas a bola saiu por cima da barra.
Quando o árbitro apitou para o final do encontro Matateu deixou-se cair na relva. O seu rosto suado era o rosto de um vencido. O suor e as lágrimas uniam-se, deslizando pela camisola encharcada. Matateu afirma hoje (1960), quando se fala dessa tarde dramática vivida nas Salésias no final da época 1954/55, ser o dia mais triste da sua carreira desportiva, e acrescenta:
- “E foi pena, pois essa época tinha sido das que melhores recordações me deixaram, tanto como futebolista como na minha vida particular.”
|