Belém até Morrer On Tour: Guimarães

No Domingo, mais uma vez, os ultras da Fúria azul foram confrontados com um jogo à noite a 350 quilómetros de Lisboa, o que significou chegar a casa já madrugada avançada para poucas horas volvidas, manhã cedo, estar de pé para ir trabalhar. Ditadura da sportv? Indiferença da Liga Portuguesa de futebol para com os adeptos? Conivência generalizada dos clubes? Sim, sim e sim. O futebol deixou definitivamente de ser dos adeptos para passar a ser um produto televisivo milionário que concorre directamente com novelas e filmes hollyodescos. Por quê Moises ir à montanha se a montanha pode vir até ele? Pois é, quem não ama verdadeiramente o seu clube, quem não faz todos os sacrificios para o apoiar no estádio jamais compreenderá o que um verdadeiro adepto sente. Enfim...
Restelo, Domingo, 13h30: local, dia e hora para mais uma deslocação azul, desta vez até à terra minhota de Guimarães. Sempre um jogo aguardado com alguma expectativa pelos furiosos, muito devido à amizade que os ligam com os grupos ultras vimaranenses, em especial com os Insane Guys; jogo todavia "especial" este ano devido a situação de ambos os clubes na tabela classificativa.
Primeira nota de destaque para o facto da direcção do Belenenses, depois de Coimbra e Leiria, ter voltado a organizar a deslocação, facto que ainda assim não foi suficiente para encher o bus. Ainda assim cerca de 40 belenenses, entre os quais 20 furiosos, desafiando o frio e a hora de início do jogo, lá compareceram à hora marcada para ficar 20 minutos a espera do Lou, como sempre atrasado, mas também "carregado": garrafão de água pé e ainda umas garrafitas de vinho de bucelas. Antes já havia chegado o Jorge, furioso "infiltrado" na Central de Cervejas, também com as mãos cheias de ice tea de cevada - a festa, ainda antes de andarmos um metro sequer, estava já assegurada.
A viagem para cima fez-se com boa disposição mas sem novidade, ocupando-se o tempo bebendo, conversando, cantando e lendo os jornais desportivos diários - 3000 vimaranenses num treino antecipavam um ambiente infernal no Afonso Henriques -, tudo temperado com diversas paragens de circunstância nas estações de serviço já que a bexiga tem limites e o stock de cerveja necessitava de ser renovado constantemente. Na Antuã, como habitualmente, juntaram-se a nós alguns elementos da F.A. de Ovar, e a festa continuou.
Com o bus a andar bem, depressa cruzamos as águas do rio Douro, sendo cerca de 18 horas quando, já na A3, se efectuou uma última paragem antes do nosso destino para renovar as forças com alimentos sólidos... e mais alguns liquidos...
Pouco antes das 19 horas avistamos o Afonso Henriques, e, escoltados sem sabermos bem porquê, lá fomos visitar, como habitualmente, a esquadra da psp de Guimarães. Que dizer destes senhores infelizmente vestidos de azul? Simplesmente a pior polícia do país quando se trata de policiar espectáculos desportivos. Rodeados de robocops aspirantes a rambos percorremos então as poucas centenas de metros que nos distanciavam do estádio, tendo ficado as nossas bandeiras e estandartes no bus, exigência dos senhores da psp. Estes, por nós questionados acerca do estádio do vitória ser o único do país onde não entravam bandeiras, estandartes e megafones, responderam orgulhosamente: "Nós sabemos!..."

Já na bancada, trocamos os primeiros cumprimentos ultras com os amigos dos Insane, ao mesmo tempo que colocavamos engenhosamente as faixas já que depois dos confontos com os robocops do ano passado devido à publicidade, fomos obrigados a utilizar cordas para assim a faixa ficar abaixo da publicidade. De notar que o sector onde nos encontravamos não foi isolado pela psp, podendo adeptos do Vitória ver o jogo, como se diz no norte, "à nossa beira", mas o inverso já não era possível, ou seja, os adeptos do Belenenses tinham obrigatóriamente de assistir a partida naquele sector. Quem agradeceu a convivência próxima entre os adeptos dos dois clubes foi o Skyter, ultra azul, que entretanto travou conhecimento, durante os 90 minutos, com algumas adeptas do Vitória - só foi pena estas terem bigode...

Entretanto juntaram-se à Fúria 4 ultras da Alma Salgueirista, que se deslocaram propositadamente do Porto a Guimarães. Mais uma vez e como sempre agradecemos aos nossos amigos de paranhos. Com o aproximar da hora do início do jogo as bancadas foram enchendo, acabando o Afonso Henriques por registar uma impressionante assistência de 17.000 pessoas. Embora visualizando mentalmente, com tristeza, o nosso Restelo em dias de jogo, vou-me abstrair a mim mesmo de fazer comentários.

Quanto ao jogo propriamente dito vou ser breve, porque quase todos o viram e entretanto também já leram sobre ele. Primeira parte razoável do 11 azul mas não obstante receosa, com ponto alto no golo de Romeu, festejado entusiásticamente pelos cerca de 60 belenenses presentes, um dos quais, o Lou, só de cuecas. Precisamente aquando da celebração do golo, os robocops da psp resolveram estragar a festa detendo sem razão aparente um ultra da Fúria de Ovar, que após poucos minutos, depois de ser identificado, regressou às bancadas. Devido à agitação entretanto gerada, a maioria dos furiosos não viram o golo do Vitória, que através de Dário empatou o encontro. Impressionante a explosão de alegria no estádio, com cânticos de elevada carga decibélica a ser entoados em uníssono por quase todos os espectadores afectos a equipa da casa. Sem tempo para mais, chegou o intervalo. O resultado não era o ideal, mas do mal o menos...

Os segundos 45 minutos trouxeram um vitória ainda mais ofensivo, criando imediatamente algumas jogadas de grande perigo para as nossas redes, mas depois de 10 minutos o "gás" parece ter se esgotado parcialmente. Ainda assim, quando o jogo já havia acalmado consideravelmente surge o golo do ponta de lança polaco do vitória, assistido (!) pelo seu guarda-redes. Desconcentrada, a defesa azul viu a bola passar, sendo todavia o remate perfeitamente defensável, mas o Marco Aurélio foi incapaz de suster a bola. Nova explosão de alegria nas bancadas, mas, tal como sucedeu com a nossa própria festa na primeira parte, de curta duração. Já com Djurdjevic nas 4 linhas em lugar de um desinspirado Silas, o Belenenses empata a partida por Rúben Amorim, após jogada do primeiro pela ala esquerda e centro rasteiro para a entrada da área. Bom golo, festa no sector onde estavam os torcedores azuis e enorme desilução em todo as restantes bascadas, sendo quase possível tocar com a mão no desespero que se instalou no ar. Não sei se esta situação foi visível no pequeno e amorfo ecrán da televisão, mas os jogadores do vitória reagiram ao golo azul com um desânimo tal que todos os belenenses presentes pensaram que ainda sairiam do Minho com três preciosos pontos no bolso. Puro engano. O 11 azul e seu treinador tinham conseguido o que tinham vindo buscar a guimarães, ou seja, uma não derrota, sendo aflitiva a falta de ambição de uns e de outro. Assim, se Couceiro ainda lançou Paulo Sérgio na partida em lugar de Fábio Januário, pouco depois todos perceberam qual a sua verdadeira intenção já que retirou das 4 linhas Ahamada, substituído por Pinheiro: iriamos defender (e sofrer) até ao último minuto do encontro. Que dizer dos últimos 10 minutos? Só uma palavra me ocorre: sorte, muita sorte. Tal como em Coimbra, estacionamos o bus à frente da baliza e rezamos para que a bola não entrasse. E não entrou. Seguiu-se a festa entre as hostes azuis, já que como isto anda um pontinho pouco brilhante, ainda por cima injusto, brilha como ouro.

Couceiro comentou a sua falta de ambição e visão da seguinte forma:

«O jogo teve várias fases, nós nesta parte final baixámos em excesso, jogámos muito próximos da nossa área, por isso este ponto não tem sabor a vitória, foi apenas um ponto importante porque mantemos a vantagem sobre um concorrente directo como é o V. Guimarães. Mas não saio satisfeito porque podíamos ter tido um resultado superior. Foi um resultado positivo, mas o Belenenses tem capacidade para fazer mais. Se tivemos sorte no resultado? Sei que fizemos um golo com alguma sorte, mas também sofremos um golo que me parece em fora-de-jogo. Por isso não me parece que seja por aí. Até porque nos dois golos do V. Guimarães houve erros nossos. As duas equipas mostraram ansiedade, o que é normal, e por isso cometeram-se erros».

Depois de alguns minutos num estádio já quase deserto, onde só uma divertida personagem de óculos, sozinha e noutra bancada sem acesso à nossa, irada não sem bem com o quê, animou a nossa espera, lá fomos encaminhados até ao bus rodeados de dezenas de robocops, onde ainda podemos conviver por alguns minutos com o pessoal dos Insane. O lou teve até direito a um beijinho de uma ultra vimaranense. A viagem para baixo decorreu sem novidade, somente animada pela sempre conversadora Dona Neusa, já que os ultras, cansados e ressacados em alguns casos, íam colocando o sono em dia. A chegada ao Restelo ocorreu cerca das três horas da manhã. Obrigado sportv.