História de Matateu - 12ª parte

Após o encontro com o Real Madrid, o Belenenses defrontou a formação italiana do Milão, para apuramento do 3º classificado do torneio.
Embora o encontro não despertasse grande entusiasmo, já que não sairia dele o campeão latino, nem sequer estaria em jogo qualquer equipa francesa, o certo é que foi ainda bastante o público que acorreu a presenciar o prélio, mormente com o interesse de voltar a ver em acção a “vedeta” da taça que era, nem mais nem menos, que o jogador belenense Matateu. Efectivamente, a fama de Matateu era o maior cartaz publicitário para o encontro. E Matateu não desiludiu. Após excelente exibição, em que as suas extraordinárias faculdades mais uma vez foram postas à prova, o público estava rendido, a tal ponto que, quando o jogador belenense, depois de uma série de fintas diabólicas rematou imparável para o golo da sua equipa, o estádio foi sacudido por grande ovação.

De novo a crítica gaulesa exultou com a actuação do interior belenense, tendo até a revista “Miroir Sprint” considerado o número 10 de Belém como “a vedeta da taça latina dessa época”.
De regresso a Lisboa, o Belenenses estudou o convite para uma digressão aos países africanos de língua portuguesa.
Tudo se tratou. As propostas foram aceites e, em fins de Julho desse ano de 1955, Matateu, com os seus colegas de equipa, tomava o rumo daquele continente de onde tinha saído havia quatro anos.
Essa tournée constituiu para o fogoso jogador moçambicano uma jornada inesquecível, momentos que ele relembra (em 1960) a cada instante com uma réstia de saudade.
Quando o avião que transportava a caravana azul chegou ao aeroporto de Luanda, o entusiasmo foi enorme. Matateu era o principal objectivo da multidão que, em delírio, aclamava o seu ídolo. Só alguns minutos depois o cortejo estar formado, Matateu conseguiu chegar junto dos seus colegas. Tinha sido arrebatado pelo público que enchia o recinto.
Terminados os cumprimentos às entidades oficiais e desportivas da cidade, Lucas da Fonseca foi visitar os seus irmãos africanos ao bairro dos naturais daquele país. Este gesto do já famoso jogador foi bastante apreciado pela gente do referido bairro, que se mostrou sensibilizada com tão comovente atitude.


A recepção foi apoteótica. Em poucos minutos o jogador moçambicano era alvo das mais significativas homenagens por parte dos seus irmãos africanos. E depois de ter recebido várias ofertas, surgiu uma espécie de trono, onde Matateu se instalou. Os locais formaram então um cortejo que percorreu todas as ruas do bairro, sendo Matateu calorosamente saudado pelos milhares de admiradores. Noite alta e ainda os aplausos delirantes se faziam ouvir.

Lucas Sebastião da Fonseca era, naquele dia, o grande senhor daquele bairro, era o ídolo de toda aquela gente de alma grande.
A digressão não foi muito feliz para o Belenenses que, em certos jogos, demonstrou saturação. Mas se para o Belenenses a tournée não foi a todos os títulos brilhante, foi-o, sem dúvida, para o jogador moçambicano, que viu confirmada em terras de África a grande popularidade conquistada em outras paragens mercê da sua agilidade felina, mobilidade extraordinária, poder de finta e de “dribling” e pontapé fulminante.

Ao contrário do que se falava, Matateu mostrava já ser um verdadeiro jogador de equipa, ainda que reunisse uma série de características que o indicavam como um dos maiores marcadores de golos do futebol português.
Em Angola, mais uma vez, ele foi uma das pedras fundamentais da turma belenense. Actuando em todos os encontros disputados pela sua equipa, embora nem sempre no mesmo posto, marcou cinco golos. Um frente à selecção do Lobito e quatro em Luanda: três ao futebol C. de Luanda e um à selecção da capital angolana.

Terminada a digressão, a equipa regressou a Lisboa, começando um curto defeso para os homens do futebol belenense, que tinham tido uma época exaustiva, já que além das provas oficiais disputadas em Portugal, tiveram a deslocação a Paris para a Taça Latina e depois os jogos em Angola.
Durante o defeso, o nome do artilheiro azul não foi esquecido. Diariamente os órgãos da imprensa, mormente os da imprensa desportiva, publicavam grandes artigos em que o nome de Matateu aparecia como grande senhor, até porque ele continuava a ser um rematador temível e, como se sabe, o golo é o momento culminante do futebol, aquele em que se atinge a finalidade principal da modalidade; justamente por isso, os goleadores são, em regra geral, os grandes cartazes do futebol. Contingente de todos estes factores, Matateu era considerado pelo público “da bola”, um dos maiores cartazes do futebol português.

Em Setembro de 1955 começou nova época, e, como de costume, com uma festa de homenagem. O homenageado era o antigo internacional belenense Serafim das Neves.
Matateu, que fez uma exibição de modo a prometer uma época em cheio, foi o autor de três golos ao Torriense, adversário da equipa azul no citado festival.
Finalmente, a 18 desse mesmo mês, começava o campeonato nacional. O Belenenses defrontou a equipa da Associação Académica, no Estádio Nacional. Embora o Belenenses vencesse com natural facilidade, Matateu guarda (em 1960) uma recordação triste desse encontro, pois foi duramente carregado por um adversário, o que originou a expulsão deste e a saída do moçambicano durante bastante tempo para receber tratamento.

Oito dias depois, a equipa de Belém foi ao Porto empatar com os campeões do norte.
Matateu, depois de uma primeira parte demasiadamente fraca, subiu bastante no segundo período e obteve o golo do empate.