História de Matateu - 11ª parte

Em Maio de 1955, Matateu volta a envergar a camisola da selecção nacional. O jogo efectuou-se na Escócia. Não obstante o resultado ter sido de 3-0 a favor dos escoceses, a crítica deste país teceu os maiores elogios à actuação do jogador belenense a quem cognominaram de “o rei da finta”. Todavia, seria no encontro contra a Inglaterra, disputado dezoito dias depois, na cidade do Porto, que Matateu viria a fazer uma das melhores exibições de sempre na sua carreira de internacional.
Nesse jogo, realizado a 22 de Maio, a equipa nacional escreveu uma das mais belas páginas do seu historial. Repleto de uma multidão entusiástica, o Estádio das Antas serviu de cenário a essa grande vitória contra os antigos mestres do futebol.

Matateu, que actuou a interior direito como já tinha feito contra a Escócia, culminou a sua brilhante exibição com um tento inesquecível. No final do sensacional prélio, em que Portugal venceu por 3-1, o público entusiasmado levou Matateu em triunfo.
Esta vitória teve grande repercussão internacional, assim como a magnífica exibição do jogador belenense.

No dia seguinte ao jogo, ou seja, na segunda-feira, 23 de Maio, o jornal inglês “Daily Sketch”, comentava, em termos bastante elogiosos, a actuação de Matateu, com uma crítica cujo título era: “Fomos batidos pela 8ª maravilha”.
E começava: “Um negro sempre sorridente, de Moçambique, é, esta noite, o rei do futebol português.”
… e continuava:
“Em Moçambique foi-lhe dado o nome de Lucas, mas há muito tempo já que ninguém se preocupa com isso. Passaram a chamar-lhe Matateu – um cognome que significa «a 8ª maravilha do mundo» - desde que começou a driblar como um mago e a chutar como um canhão. E foi essa oitava maravilha do mundo do futebol que rebaixou e humilhou, esta noite, uma Inglaterra destroçada e «inebriada», dando a Portugal a sua primeira vitória sobre nós”.


Analisando a equipa inglesa diz ainda o mesmo jornal:
“Aparte Matthews, não tivemos um avançado digno de atacar as botas de Matateu”.
E terminava:
“Não há justificação porque, com excepção do maravilhoso Matateu, o grupo português era uma equipa de passeantes – conseguiram apenas bater a África do Sul no último dos seus 19 jogos internacionais”.
Não ficaram por aqui as elogiosas referências a Matateu feitas pela imprensa estrangeira até porque a classe do jogador de Lourenço Marques era cada vez mais notável.

Com o desbobinar do tempo, as características do fogoso jogador sofreram várias cambiantes. Assim, Matateu, que era especialmente um jogador de grande área, com potente e certeiro remate, aparece-nos muito mais evoluído no capítulo técnico e, naturalmente, mais jogador de equipa. Tais predicados estiveram bem patentes em algumas exibições, quer pelo Belenenses, quer pela selecção nacional.
Em 1955, o Belenenses foi a Paris para disputar a “Taça Latina”.
Di Stéfano e Kopa eram as grandes “vedetas”. No entanto, o nome de Matateu figurava também em grandes caracteres nos jornais da cidade da Luz.

O sorteio designou para adversário do Belenenses a famosa equipa do Real Madrid, uma das equipas de maior projecção no meio futebolístico mundial e onde alinhava o extraordinário Di Stéfano.
A sorte da turma de Belém estava decidida e talvez o resultado do prélio ficasse memorável.
Porém, ao contrário de todas as previsões, o onze belenense, realizando magnífica exibição, conseguiu impor-se na qualidade de jogo, cotando-se como uma das melhores turmas que estiveram presentes naquele torneio.

A exibição de Matateu foi extraordinária. No encontro com a equipa madrilena, Matateu sofreu uma rude entrada do defesa Marquitos, que lhe originou um profundo golpe no sobrolho.
O resultado do encontro acabou por ser desfavorável à equipa lisboeta. No entanto, a crítica francesa foi unânime em afirmar que os 2-0 conseguidos pelo Real Madrid não representavam a verdade do jogo, já que o Belenenses fora a equipa que melhor futebol havia praticado ao longo dos 90 minutos.

A imprensa referiu-se em termos significativos à actuação de Lucas da Fonseca.
Entre outras, a revista francesa “Miroir Sprint” fez o seguinte título a duas fotografias, uma de Di Stéfano, outra de Matateu:
“Di Stéfano perdeu o sorriso frente a Matateu”.
A legenda dizia:
“Perante os portugueses do Belenenses, o Real Madrid esteve muitas vezes em dificuldade no decurso da meia-final. Di Stéfano, a despeito da sua classe e da sua reputação, nem sempre levou a melhor em face dos seus fogosos adversários, entre os quais o interior esquerdo Matateu que se revelou um atacante terrível pela sua mobilidade e prontidão de tiro”.

Paris, como já tinha acontecido com outras grandes cidades, rendia homenagem às extraordinárias faculdades de Matateu, que continuava a ser um dos casos mais sensacionais do futebol português.