Quanto é afinal o passivo do Belenenses?

Segundo notícia veiculada hoje pelo jornal O Jogo, o passivo do Belenenses Clube/SAD é superior a 10 milhões de euros.

O periódico baseia-se num número avançado em AG pelo associado belenense José Duarte Ferreira.

"Candidato derrotado por Cabral Ferreira nas eleições realizadas em Abril de 2007 responsabilizou o presidente pela gestão e salientou que o passivo do clube aumentou 52 por cento, de 6,5 para 10 milhões de euros. Parte dos 10 milhões de euros de passivo refere-se às dívidas do Belenenses à Segurança Social e às Finanças, cujo total ascende a três milhões".

As contas de O Jogo são as seguintes:

- Segurança Social: 520.000 euros (dívida negociada que prevê um pagamento faseado em 150 meses)

- Fisco: cerca de 2,5 milhões de euros de dívida relativas ao IVA, IRC e IRS (quantia também negociada para ser paga em 60 prestações mensais).

- SAD: A dívida do clube à SAD é, segundo O Jogo, de 1,8 milhões de euros, resultante da compra de bilhetes para os jogos (a esse valor serão abatidos 300.000 euros, relativos ao aluguer das instalações do complexo do Estádio do Restelo utilizadas pela SAD).

Referindo-se a esta questão, Fernando Sequeira, único candidato à presidência do Belenenses, classifica a situação económico-financeira do clube como "extremamente difícil", tendo mesmo afirmado à Agência Lusa que vai solicitar uma auditoria às contas.

Que valor irá ditar a auditoria?

10 milhões de euros de passivo é uma verba extremamente preocupante, mas pensamos (neste caso)infelizmente não ser verdadeira.

Antes de mais, a dívida do clube à SAD corresponde a mais de 5,6 milhões de euros, como nos indica a página 19 do Relatório e contas de 2006/2007. As dívidas da SAD ao pessoal ascende a mais de 500 mil euros (p. 11 do relatório)

Tendo em conta as dívidas ao estado e a outros credores e fornecedores, o total do passivo da SAD ascendia a 30 de Junho de 2007 a mais de 6 milhões de euros como está expresso na página 7 do relatório acima citado (o passivo aumentou mais de 1 milhão de euros em relação a 30 de Junho de 2006).

E a quanto corresponde o passivo total do Belenenses clube?

Arriscamos dizer que "ninguém" sabe verdadeiramente. Tendo como referência todos os problemas que têm ocorrido com o andebol e não só, será certamente um passivo na ordem de alguns milhões de euros. Seja como for, será consideravelmente superior aos tais 10 milhões inicialmente referidos.

Regressando à notícia de O Jogo, o periódico refere que a SAD "apresenta uma situação financeira estável, após encaixar cinco milhões de euros com a venda dos direitos desportivos de Nivaldo (Saint-Étienne) e Dady (Osasuna)".

Estável aqui significa o quê? "É" estável? "Foi" estável?

Pensamos que as linhas que seguem (publicadas no BAM no dia 7 de Fevereiro) ilustram com clareza o que ai vem...

«Olhando para o relatório de contas da SAD belenense para o exercício de 2007, alguns valores sobressaem imediatamente: 7 milhões e 462 mil euros e 7 milhões e 374 mil euros.
Correspondem a quê?
Aos orçamentos de 2007 e 2006, respectivamente.

Até aqui poucas ou nenhumas novidades. São orçamentos já deveras conhecidos, embora a sua grandeza quantitativa nos coloque a pensar...

Como é (foi) possível o Belenenses ter orçamentos tão elevados?
A resposta está nos proveitos extraordinários, ou seja, na venda de passes de jogadores.
O orçamento de 2006 contabilizava 2 milhões e 428 mil euros (correspondentes à venda dos passes de Pelé e Meyong), subindo esta verba até aos 2 milhões e 880 mil euros em 2007 (proveito obtido sobretudo com a transferência de Nivaldo para a futebol francês).

Em termos percentuais, os proveitos extraordinários representam quase 40% do orçamento total. Sendo assim, a venda de Nivaldo permitiu suportar um orçamento desse montante, sendo simplesmente catastrófico o cenário caso tal transferência não tivesse sido realizada - cerca de 2 milhões e 830 mil euros de prejuízo).

Os valores do orçamento de 2008 não são ainda conhecidos, mas aparentemente não devem diferir muito dos anteriores. Não tendo a transferência de Dady sido contabilizada no orçamento de 2007, podemos concluir que os cerca de 3,5 milhões obtidos com a venda do passe do caboverdeano entrarão nas contas da presente época. Por outras palavras, os milhões obtidos com a venda de Dady estão a "pagar" a presente época, visto deverem corresponder a cerca de 50% do orçamento.

Diz o Relatório de Contas 2007:

"... privilegiou-se a valorização dos nossos activos... que se consubstanciou na venda do passe do nosso atleta Nivaldo... e com a venda dos direitos desportivos do jogador Eduardo Gomes «Dady»"(página 6).

Consequentemente:

"Para que seja possível continuar a apresentar resultados positivos e consolidar a situação líquida desta SAD será necessário manter a política iniciada no final do exercício anterior e mantida no período em apreciação (2007) ".

Traduzindo para o vernáculo mais simples: A Belenenses SAD tem de vender passes de jogadores para ser viável (alias, como todas as restantes SAD´s portuguesas).

Perante tal realidade, é indispensável questionar-mo-nos neste sentido:

Vender quem?

O trio RRR (Rolando, Ruben e Rodrigo Alvim) já faz parte do passado no que diz respeito a esta temática; Hugo Alcântara e Cândido Costa terminam o seu contrato (no sector defensivo, até mesmo os habituais suplentes estão de igualmente de saída - Marco Gonçalves, Devic, Areias, Gonçalo Brandão e Amaral); no meio campo sucede o mesmo com Hugo Leal e Fernando; o lote termina com os emprestados de Inverno: Marco Ferreira, Edson, Meyong e Jankauskas.

Inclusive Gabriel Gomez encontra-se emprestado, tendo o Belenenses que desembolsar 300 mil euros se desejar contar com o jogador na próxima época. Weldon encontra-se na mesma situação, mas o valor a pagar para a sua continuidade sobe até aos 500 mil euros.

Quem resta?

Silas com 31 anos; Zé Pedro; Roncatto...»