Todos os dias a Alma belenense morre mais um pouco...

Não sou poeta... Todavia doi-me a Alma...

Tal como o poeta, "Sinto-me às vezes tocado, não sei porquê, de um prenúncio de morte... Ou seja, uma vaga doença, que se não materializa em dor e por isso tende a espiritualizar-se em fim, ou seja, um cansaço que quer um sono tão profundo que o dormir não basta..."

Quão difícil teria sido, pergunto-me? Quão difícil teria sido honrar a memória da maior lenda do Belenenses e do desporto nacional? Quão difícil teria sido celebrar a grandeza belenense, o orgulho belenense, enfim, a Alma belenense?

Quão difícil teria sido editar um livro comemorativo?
Quão difícil teria sido produzir um documentário?
Quão difícil teria sido comercializar a réplica da sua camisola?
Quão difícil teria sido o Belenenses alinhar com essa réplica frente ao sporting?
Quão difícil teria sido realizar uma missa solene?
Quão difícil teria sido rumar ao cemitério da Ajuda?
Quão difícil teria sido colocar 150 cadeiras junto ao seu monumento? Projectar algumas dezenas de fotografias... Recuar no tempo através das palavras de Humberto Azevedo e Artur Quaresma...

Quão difícil teria sido celebrar o Belenenses e o belenensismo? Revigorar a Alma belenense... Enchê-la de brio e orgulho...

Todos os dias a Alma belenense morre mais um pouco, e nós, tal como o poeta, revisitamos "O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim..."

"José Manuel Soares, belenense de Belém, garoto, traquinas, de sentimento e clubista da maior pureza... continua na lembrança de toda a família belenense. Mantém-se viva a nossa saudade - que será eterna - e a sua figura, o seu nome, a sua imagem hão-de acompanhar-nos das Salésias para o Restelo, porque a vida deste garoto personifica a chama do idealismo e o fervor da fé belenense."