1919 - 2007: Eleição do melhor 11 da História belenense - Médios.
ARTUR JOSÉ PEREIRA:
O grande Mestre. O Principal fundador do nosso Belenenses. O primeiro fora-de-série do Futebol Português: um quarto de século depois da sua retirada, ainda era considerado o melhor jogador luso de todos os tempos!!! Que mais é preciso dizer?
Era a personificação perfeita da raça, da generosidade, do querer, do “antes quebrar que torcer” – isso mesmo de que nasceu e com que se fez grande o Belenenses! A sua potência de remate era impressionante: o famoso Zamora viu a bola passar por ele como se disparada por um canhão e furar as redes (literalmente). Mas tinha também uma excelente técnica e um posicionamento em campo e liderança sobre os companheiros autênticamente notáveis. Diz-se que foi o primeiro a ter verdadeira intuição táctica no nosso país.
Por isso mesmo, conquistou muitos títulos para o Belenenses como treinador: 3 Campeonatos de Portugal e 4 Campeonatos de Lisboa – além de ter sido 3 vezes Vice-Campeão Portugal, 1 vez Vice-Campeão Nacional e 4 vezes Vice-Campeão de Lisboa!
Tal compensou o facto de, tendo fundado o Belenenses quando se aproximava já o fim da sua carreira de jogador (cumprindo, enfim, o sonho, já 2 vezes defraudado, de haver um grande clube de Belém), não ter chegado a ser campeão. Mesmo assim, nessas 3 épocas foi 2 vezes Vice-Campeão de Lisboa 1919/20 e 1921/22) e conquistou a Taça dos Mutilados da Guerra, troféu lindíssimo e que foi cobiçado pelos mais poderosos clubes da época como se e tratasse de um Campeonato).
CÉSAR DE MATOS:
Para muitos belenenses de hoje, o nome e César de Matos pouco dirá; porém, ele foi um autêntico gigante do nosso clube.
Para se ter a noção da sua importância, convém referir que César de Matos foi 3 vezes Campeão de Portugal (e 2 vezes Vice-Campeão) e 4 vezes Campeão de Lisboa (4 vezes vice-Campeão). Foi também 4º Classificado no I Campeonato da Liga em 34/35 – época em que pôs termo à sua carreira, que no Belenenses se iniciara em 23/24.
Era um jogador incansável, de grande dinamismo e estilo algo acrobático – o que lhe valeu o epíteto de “o Médio que voa”.
César de Matos atingiu a marca, para a época verdadeiramente notável, de 17 internacionalizações pela Selecção, que representou entre 1925 e 133. Era então, o 4º jogador Português com mais presenças na Selecção Nacional. Esteve nos Jogos Olímpicos de 1928, a primeira grande competição em que Portugal participou. Com 4 jogadores (César de Matos, Augusto Silva, Pepe e Alfredo Ramos), o Belenenses foi o clube mais representado na Selecção.
AUGUSTO SILVA:
Augusto Silva é fora de qualquer dúvida uma das pimeiríssimas figuras de sempre do Belenenses, e talvez aquela a que menos se fez inteira justiça.
Como jogador, representou o Belenenses de 1922 a 1934, rapidamente se impondo como o sucessor de Artur José Pereira. O seu palmarés é notável: foi 3 vezes Campeão de Portugal e 4 vezes Campeão de Lisboa. (O Campeonato de Portugal apurava...o melhor de Portugal, a melhor equipa nacional, como o Campeonato Nacional, pouco depois; e o Campeonato de Lisboa tinha quase a mesma importância). Nas mesmas provas, foi ainda Vice-Campeão 2 vezes e 4 vezes, respectivamente. Tal como César de Matos, contribuiu para um vitória por 3-0 sobe o Real Madrid. Quando Augusto Silva terminou a sua carreira de jogador, o Belenenses era a maior potência futebolística de Portugal.
Para tanto, Augusto Silva, capitão de equipa, centro nevrálgico de todo o jogo, ora a recuperar bolas, ora a lançar ataques, ora, inclusive, a finalizar (marcou 3 golos na final do Campeonato de Portugal de 32), em muito contribuíra. Ele combinava técnica e energia indomável, e parecia transcender-se quando mais era preciso. Muitos dos famosos “quartos de hora à Belenenses” tiveram nele a sua alma suprema. Num deles, o Belenenses nos últimos 15 minutos, virou o resultado de 1-4 para uma vitória por 5-4 sobre o Benfica. Foi Augusto Silva quem tomou a decisão de pôr o jovem Pepe, que nesse dia se estreava, a marcar um penalty no fim do jogo. Apontou para ele imediatamente. Pepe, balbuciou: “Eu, Senhor Augusto?”. Mas marcou certeiramente, dando a vitória ao Belenenses e iniciando o seu próprio caminho para a glória.
Augusto Silva representou a Selecção por 21 vezes, 8 delas como Capitão. Tornou-se o jogador Português com mais internacionalizações, posição que manteve durante 16 anos: de 1934 a 1950! Num desses jogos, arrancou adjectivos de elogio contundente da imprensa italiana. Brilhou, nomeadamente, nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amesterdão, que constituía então um autêntico Campeonato Mundial. Quase a terminar o jogo, marcou o golo da vitória sobre a Jugoslávia; mas a sua brava e magnífica actuação em todos os jogos valeu-lhe o cognome de “O Leão de Amesterdão”.
Como se não bastasse o que fez como jogador, conquistou para o Belenenses, como treinador, o Campeonato de Lisboa e o Campeonato Nacional da época de 45/46.
MARIANO AMARO:
Mariano Amaro foi um dos maiores – mas maiores realmente, num grupo muitíssimo restrito – jogadores de sempre do Belenenses. Conquistou um Campeonato Nacional, uma Taça de Portugal e dois Campeonatos de Lisboa – sendo ainda finalista de 2 outras Taças de Portugal e de 1 Campeonato de Portugal. Estreou-se no nosso clube em 1934 e deu por terminada a sua carreira em 1948. O último jogo que Amaro disputou foi contra o Barreirense, nas meias finais da Taça de Portugal, em 27 de Junho de 1948, que se saldou por uma vitória a nosso favor por 5-1. Amaro desejava intensamente disputar e ganhar a final, a realizar uma semana depois, e para a qual o Belenenses era quase unanimemente considerado favorito. Na própria manhã do jogo, porém, a saúde atraiçoou-o, obrigando-o não só a faltar a esse jogo como a pôr fim à sua carreira. Tal foi um duro golpe para a equipa – um dos muitos em que a história do Belenenses é fértil... – e a Taça foi perdida para o Sporting.
Amaro marcou uma época do futebol Português, introduzindo-lhe uma nova dimensão,como alguém escreveu. Médio direito de fina técnica e grande genica, tanto a defender como a atacar, fazia passes soberbos, a longa distância, de um lado para o outro do campo, gerando o pânico nos adversários. A sua inteligência de jogo levou a que fosse cognominado o “Einstein do Futebol”.
Para todos os belenenses que o viram jogar, Amaro era uma figura que infundia o maior respeito. Falava apaixonadamente do seu clube. E foi também, durante várias épocas, Capitão de Equipa – por exemplo, da que foi Campeã Nacional ou da que inaugurou o Estádio do Real Madrid. Refira-se que ele esteve presente também em dois jogos com os madrilenos em 1945: empatámos 2-2 em Espanha e ganhámos 1-0 nas Salésias.
Em termos nacionais, foi igualmente um dos melhores jogadores de sempre. Foi 19 vezes internacional – na altura, o 3º maior número de internacionalizações: teriam sido muitas mais, se não fossem as lesões que o afligiram e a 2ª guerra mundial. Era um – ou O – autêntico esteio da selecção.
Ao longo da sua carreira, Mariano Amaro disputou o impressionante número de 458 jogos!
DI PACE:
Nascido em 1926, na Argentina, chegou ao prestigioso Racing de Buenos Aires aos 15 anos. Permaneceu ali 6 anos, subindo as diversas categorias até se impor na equipa principal.
Em 1948, transferiu-se para outro grande clube argentino, o Huracán, onde continuou a brilhar. O seu prestígio ultrapassou fronteiras e, em 1951, foi para o Universidade do Chile.
O seu compatriota Scopelli, outra grande figura do Belenenses, indicou-o para representar o nosso clube. Chegou a Lisboa em Abril de 1953. O Belenenses tinha acabado de ficar em 3º lugar no Campeonato Nacional.
Nas épocas seguintes, Di Pace impôs-se em Portugal como um dos jogadores de maior classe que já pisou os nossos rectângulos de jogo. De fina técnica, magistral a guardar a bola, com passe de grande qualidade, era considerado – e chamado – “o rei dos dribles”. Era um verdadeiro “fora de série”.
Permaneceu no Belenenses até 57/58, como jogador e, inclusive, na última época a coadjuvar Fernando Vaz a treinar a nossa equipa. Foi alvo de uma festa de homenagem em 1 de Setembro de 1958.
Regressou depois à Argentina mas nunca esqueceu nem deixou de amar o Belenenses. Voltou a Portugal e à nossa casa pelo menos duas vezes, em 1984 e em 2004.
Durante os anos que representou o Belenenses, obteve um 2º lugar, dois 3ºs lugares e dois 4ºs lugares.
Como toda uma outra geração de grandes jogadores do Belenenses, Di Pace tinha um (des)encontro marcado com o destino no dia 24 de Abril de 1955. Era esse o dia em que o Belenenses estava para voltar a ser Campeão Nacional e viu o título escapar-se-lhe a 4 minutos do fim.
ALFREDO QUARESMA:
Durante duas décadas inteiras, Alfredo Quaresma serviu o Belenenses como jogador.
Veio das camadas juvenis do clube. Ainda na idade de júnior, foi integrado no plantel da equipa principal na década de 1961/62.
Dada a sua juventude, demorou a impor-se com titular, o que aconteceu a partir de 66/67. Foi Vice-Campeão Nacional em 72/73 e 3º classificado em 75/76. Ganhou a Taça de Honra de 69. Esteve em 2 edições da Taça UEFA. Surpreendentemente, foi dispensado por Medeiros antes da época de 77/78.
Durante muitos anos foi defesa central. Em 72/73, o Scopelli pô-lo a médio. Quaresma chegou a recear que se “queimasse” nessa posição; mas não, foi justamente aí que mais se veio a evidenciar, assumindo até uma inesperada veia goleadora – e, ao mesmo tempo, dando consistência defensiva e capacidade de recuperar bolas ao meio-campo.
A jogar muito bem nessa nova posição, veio a envergar a camisola da Selecção A por 3 vezes, marcando um golo.
De entrevistas de Quaresma, algumas recordações: numa delas, confessava ter o sonho de oferecer aos belenenses a alegria de voltarmos a ser campeões. Noutra, depois do 1º jogo da eliminatória com o Barcelona, na Taça UEFA de 76/77, em que, do Restelo, perante 35.000 espectadores, o resultado foi 2-2 (tendo Quaresma apontado o nosso 1º golo), com os espanhóis a empatarem perto do fim, declarou: “O Belenenses jogou para ganhar e foi superior ao adversário durante os noventa minutos. A minha equipa merecia a vitória pelo menos por dois golos de diferença. Mais uma vez, fomos infelizes. Eles foram felizes, especialmente nos dois golos marcados. A eliminatória não está perdida. Conforme o Barcelona empatou aqui, podemos nós empatar lá ou ganhar. Não é impossível. Se apresentarmos todos os jogadores, contem connosco”.
Exemplar! Na Catalunha, a situação repetiu-se: o Barcelona fez o 3-2 mesmo ao terminar do jogo. Lembramo-nos de Quaresma ter comentado que o seu desgosto, com esse golo que nos eliminou, foi tão grande, que quando viu o árbitro a apontar para o centro do terreno, teve vontade de o esmurrar – o que, porém, não fez (foi sempre um jogador correcto).
GODINHO:
Vindo das camadas jovens do Belenenses (e da Selecção de Juniores), Vítor Godinho chegou a titular da equipa principal no fim da época de 62/63 (contribuído para a vitória 2-1 sobre o Helsingborg, clube que já conquistou 6 campeonatos da Suécia), posição que manteve até ao fim da temporada de 76/77, quando foi inesperadamente dispensado. Nem por isso deixou de continuar a manifestar o seu afecto e a sua dedicação ao Belenenses.
Inicialmente extremo-esquerdo, veio a recuar para médio ala-esquerdo com a evolução das tácticas. Em 1973, quando o Belenenses defrontou o Wolverampton para a Taça Uefa, o treinador dos ingleses, estupefacto, considerou o trio João Cardoso-Godinho-Gonzalez como a melhor asa esquerda da Europa. Nesta competição, Godinho efectuou 11 jogos.
No Campeonato Nacional, as melhores classificações foram o 2º lugar em 72/73 e o 3ºlugar em 75/76. Foi 3 vezes semifinalista da Taça de Portugal. Ganhou a Taça de Honra de 69.
Godinho marcava alguns golos mas, sobretudo, dava muitos a marcar. Jogador tecnicista e, ao mesmo tempo, de vontade férrea, a sua retirada, juntamente com a de Quaresma, marcou o fim de um certo tipo de amor à camisola.
Foi uma vez internacional A, em Julho de 1975.
JAIME:
Chegou ao Belenenses na época de 84/85 e aqui permaneceu até meio da época de 91/92. Era um médio ala (ou extremo direito), uma ou outra vez colocado mais ao centro, que se caracterizava pela excelente técnica, finta curta e rápida, e boa capacidade goleadora. Quando estava nos seus dias, era um autêntico regalo vê-lo jogar. Contra si, tinha alguma inconstância (oscilações de forma) e pouca robustez física e psicológica. Ficou em 3º lugar em 1988 e foi finalista das Taças de Portugal de 86 e 89, vencendo a última. Participou em 2 edições da Taça Uefa e em 1 edição da Taça das Taças. Contribui para vitórias em jogos com equipas como o Barcelona, o Bayer Leverkusen (2 vezes) ou o Vasco da Gama (também 2 vezes) e para a conquista de valiosos troféus em Espanha e em Angola.
Representou a Selecção A por 9 vezes.
JUANICO:
A imagem de Juanico ficará para sempre associada ao monumental golo, de livre directo, que fixou o resultado final, de 2-1 para o Belenenses, na final da Taça de Portugal disputada em 1989 com o Benfica. Foi um momento mágico.
No entanto, durante os anos que representou o Belenenses, de 86/87 (vindo do Rio Ave) até 90/91, Juanico marcou outros grandes golos. E, sobretudo, a sua acção, como médio mais recuado, era de ser simultaneamente o primeiro recuperador de bolas e o primeiro a organizar a ataque. Talvez não fosse brilhante em nenhum das tarefas mas era muito bom em ambas, tornando-se um jogador de extrema utilidade e um verdadeiro pêndulo da equipa.
Além da Taça de Portugal de 1989, registe-se na sua carreira o 3º lugar no Campeonato de 87/88 e a participação nos jogos internacionais que referimos a propósito de Jaime.
Chegou a envergar a camisola da Selecção A, embora unicamente uma vez.
ADÃO:
Foi contratado ao Vitória de Guimarães no defeso que precedeu a época de 88/89, e permaneceu no Belenenses durante dois anos.
Era um médio esquerdo de grande qualidade, tanto a defender (fez alguns jogos a defesa esquerdo) como a construir jogadas de ataque. Combinava uma excelente técnica com bastante garra e dinamismo. Estamos a lembrar-nos dele, no jogo com o Bayer Leverkusen, na Alemanha, a ir por ali fora e a cruzar a preceito para Mladenov fazer o golo de cabeça; ou, no jogo da 2ª mão, no Restelo, a fazer o golo da vitória em livre directo...
Como é evidente, o seu nome consta entre os vencedores da Taça de Portugal de 1989.
Representou a Selecção A por 11 vezes mas só 1 vez enquanto estava ao serviço do Belenenses.
EMERSON:
Chegou ao Belenenses num momento triste: o clube, pela 2ª vez, descera de divisão. Parece que o Belenenses precisa de passar por grandes aflições para se reforçar a sério... e foi o que aconteceu esse ano. Com vários novos jogadores de qualidade, dos quais Emerson foi o que mais veio a brilhar, o Belenenses voltou ao seu lugar e fez um bom campeonato na época seguinte – chegando, aliás, em 2º lugar a um terço do campeonato.
Emerson ainda ficou entre nós na época de 93/94, sendo depois vendido pra o F.C.Porto , e deste clube seguindo para Inglaterra.
Era um nº 6 de extraordinária qualidade. Embora tivesse apenas 19 anos quando chegou ao Belenense, imediatamente se impôs. Muito bom a recuperar a bola, saía com ela dominada e logo permitia o lançamento do ataque. Tinha um toque inconfundível de classe.
ZÉ PEDRO:
Sobre Zé Pedro, pouco é necessário dizer, pois ainda representa o clube. Por isso mesmo, abster-nos-emos propositadamente de comentários valorativos.
Veio para o Belenenses em 2004/2005, depois de passar por clubes como o Boavista e o Vitória de Setúbal. Desde então, tem sido praticamente sempre titular.
Tanto a título individual como colectivo, a época passada foi a melhor: finalista da Taça de Portugal, 5º lugar no Campeonato, acesso à Taça Uefa, 8 golos marcados no Campeonato e ainda a transformação – magnífica de certeza – do penalti que nos garantiu o triunfo nas meias-finais da primeira das referidas provas.
Já este ano, marcou na final do Torneio de Casablanca, conquistado pelo Belenenses.
O grande Mestre. O Principal fundador do nosso Belenenses. O primeiro fora-de-série do Futebol Português: um quarto de século depois da sua retirada, ainda era considerado o melhor jogador luso de todos os tempos!!! Que mais é preciso dizer?
Era a personificação perfeita da raça, da generosidade, do querer, do “antes quebrar que torcer” – isso mesmo de que nasceu e com que se fez grande o Belenenses! A sua potência de remate era impressionante: o famoso Zamora viu a bola passar por ele como se disparada por um canhão e furar as redes (literalmente). Mas tinha também uma excelente técnica e um posicionamento em campo e liderança sobre os companheiros autênticamente notáveis. Diz-se que foi o primeiro a ter verdadeira intuição táctica no nosso país.
Por isso mesmo, conquistou muitos títulos para o Belenenses como treinador: 3 Campeonatos de Portugal e 4 Campeonatos de Lisboa – além de ter sido 3 vezes Vice-Campeão Portugal, 1 vez Vice-Campeão Nacional e 4 vezes Vice-Campeão de Lisboa!
Tal compensou o facto de, tendo fundado o Belenenses quando se aproximava já o fim da sua carreira de jogador (cumprindo, enfim, o sonho, já 2 vezes defraudado, de haver um grande clube de Belém), não ter chegado a ser campeão. Mesmo assim, nessas 3 épocas foi 2 vezes Vice-Campeão de Lisboa 1919/20 e 1921/22) e conquistou a Taça dos Mutilados da Guerra, troféu lindíssimo e que foi cobiçado pelos mais poderosos clubes da época como se e tratasse de um Campeonato).
CÉSAR DE MATOS:
Para muitos belenenses de hoje, o nome e César de Matos pouco dirá; porém, ele foi um autêntico gigante do nosso clube.
Para se ter a noção da sua importância, convém referir que César de Matos foi 3 vezes Campeão de Portugal (e 2 vezes Vice-Campeão) e 4 vezes Campeão de Lisboa (4 vezes vice-Campeão). Foi também 4º Classificado no I Campeonato da Liga em 34/35 – época em que pôs termo à sua carreira, que no Belenenses se iniciara em 23/24.
Era um jogador incansável, de grande dinamismo e estilo algo acrobático – o que lhe valeu o epíteto de “o Médio que voa”.
César de Matos atingiu a marca, para a época verdadeiramente notável, de 17 internacionalizações pela Selecção, que representou entre 1925 e 133. Era então, o 4º jogador Português com mais presenças na Selecção Nacional. Esteve nos Jogos Olímpicos de 1928, a primeira grande competição em que Portugal participou. Com 4 jogadores (César de Matos, Augusto Silva, Pepe e Alfredo Ramos), o Belenenses foi o clube mais representado na Selecção.
AUGUSTO SILVA:
Augusto Silva é fora de qualquer dúvida uma das pimeiríssimas figuras de sempre do Belenenses, e talvez aquela a que menos se fez inteira justiça.
Como jogador, representou o Belenenses de 1922 a 1934, rapidamente se impondo como o sucessor de Artur José Pereira. O seu palmarés é notável: foi 3 vezes Campeão de Portugal e 4 vezes Campeão de Lisboa. (O Campeonato de Portugal apurava...o melhor de Portugal, a melhor equipa nacional, como o Campeonato Nacional, pouco depois; e o Campeonato de Lisboa tinha quase a mesma importância). Nas mesmas provas, foi ainda Vice-Campeão 2 vezes e 4 vezes, respectivamente. Tal como César de Matos, contribuiu para um vitória por 3-0 sobe o Real Madrid. Quando Augusto Silva terminou a sua carreira de jogador, o Belenenses era a maior potência futebolística de Portugal.
Para tanto, Augusto Silva, capitão de equipa, centro nevrálgico de todo o jogo, ora a recuperar bolas, ora a lançar ataques, ora, inclusive, a finalizar (marcou 3 golos na final do Campeonato de Portugal de 32), em muito contribuíra. Ele combinava técnica e energia indomável, e parecia transcender-se quando mais era preciso. Muitos dos famosos “quartos de hora à Belenenses” tiveram nele a sua alma suprema. Num deles, o Belenenses nos últimos 15 minutos, virou o resultado de 1-4 para uma vitória por 5-4 sobre o Benfica. Foi Augusto Silva quem tomou a decisão de pôr o jovem Pepe, que nesse dia se estreava, a marcar um penalty no fim do jogo. Apontou para ele imediatamente. Pepe, balbuciou: “Eu, Senhor Augusto?”. Mas marcou certeiramente, dando a vitória ao Belenenses e iniciando o seu próprio caminho para a glória.
Augusto Silva representou a Selecção por 21 vezes, 8 delas como Capitão. Tornou-se o jogador Português com mais internacionalizações, posição que manteve durante 16 anos: de 1934 a 1950! Num desses jogos, arrancou adjectivos de elogio contundente da imprensa italiana. Brilhou, nomeadamente, nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amesterdão, que constituía então um autêntico Campeonato Mundial. Quase a terminar o jogo, marcou o golo da vitória sobre a Jugoslávia; mas a sua brava e magnífica actuação em todos os jogos valeu-lhe o cognome de “O Leão de Amesterdão”.
Como se não bastasse o que fez como jogador, conquistou para o Belenenses, como treinador, o Campeonato de Lisboa e o Campeonato Nacional da época de 45/46.
MARIANO AMARO:
Mariano Amaro foi um dos maiores – mas maiores realmente, num grupo muitíssimo restrito – jogadores de sempre do Belenenses. Conquistou um Campeonato Nacional, uma Taça de Portugal e dois Campeonatos de Lisboa – sendo ainda finalista de 2 outras Taças de Portugal e de 1 Campeonato de Portugal. Estreou-se no nosso clube em 1934 e deu por terminada a sua carreira em 1948. O último jogo que Amaro disputou foi contra o Barreirense, nas meias finais da Taça de Portugal, em 27 de Junho de 1948, que se saldou por uma vitória a nosso favor por 5-1. Amaro desejava intensamente disputar e ganhar a final, a realizar uma semana depois, e para a qual o Belenenses era quase unanimemente considerado favorito. Na própria manhã do jogo, porém, a saúde atraiçoou-o, obrigando-o não só a faltar a esse jogo como a pôr fim à sua carreira. Tal foi um duro golpe para a equipa – um dos muitos em que a história do Belenenses é fértil... – e a Taça foi perdida para o Sporting.
Amaro marcou uma época do futebol Português, introduzindo-lhe uma nova dimensão,como alguém escreveu. Médio direito de fina técnica e grande genica, tanto a defender como a atacar, fazia passes soberbos, a longa distância, de um lado para o outro do campo, gerando o pânico nos adversários. A sua inteligência de jogo levou a que fosse cognominado o “Einstein do Futebol”.
Para todos os belenenses que o viram jogar, Amaro era uma figura que infundia o maior respeito. Falava apaixonadamente do seu clube. E foi também, durante várias épocas, Capitão de Equipa – por exemplo, da que foi Campeã Nacional ou da que inaugurou o Estádio do Real Madrid. Refira-se que ele esteve presente também em dois jogos com os madrilenos em 1945: empatámos 2-2 em Espanha e ganhámos 1-0 nas Salésias.
Em termos nacionais, foi igualmente um dos melhores jogadores de sempre. Foi 19 vezes internacional – na altura, o 3º maior número de internacionalizações: teriam sido muitas mais, se não fossem as lesões que o afligiram e a 2ª guerra mundial. Era um – ou O – autêntico esteio da selecção.
Ao longo da sua carreira, Mariano Amaro disputou o impressionante número de 458 jogos!
DI PACE:
Nascido em 1926, na Argentina, chegou ao prestigioso Racing de Buenos Aires aos 15 anos. Permaneceu ali 6 anos, subindo as diversas categorias até se impor na equipa principal.
Em 1948, transferiu-se para outro grande clube argentino, o Huracán, onde continuou a brilhar. O seu prestígio ultrapassou fronteiras e, em 1951, foi para o Universidade do Chile.
O seu compatriota Scopelli, outra grande figura do Belenenses, indicou-o para representar o nosso clube. Chegou a Lisboa em Abril de 1953. O Belenenses tinha acabado de ficar em 3º lugar no Campeonato Nacional.
Nas épocas seguintes, Di Pace impôs-se em Portugal como um dos jogadores de maior classe que já pisou os nossos rectângulos de jogo. De fina técnica, magistral a guardar a bola, com passe de grande qualidade, era considerado – e chamado – “o rei dos dribles”. Era um verdadeiro “fora de série”.
Permaneceu no Belenenses até 57/58, como jogador e, inclusive, na última época a coadjuvar Fernando Vaz a treinar a nossa equipa. Foi alvo de uma festa de homenagem em 1 de Setembro de 1958.
Regressou depois à Argentina mas nunca esqueceu nem deixou de amar o Belenenses. Voltou a Portugal e à nossa casa pelo menos duas vezes, em 1984 e em 2004.
Durante os anos que representou o Belenenses, obteve um 2º lugar, dois 3ºs lugares e dois 4ºs lugares.
Como toda uma outra geração de grandes jogadores do Belenenses, Di Pace tinha um (des)encontro marcado com o destino no dia 24 de Abril de 1955. Era esse o dia em que o Belenenses estava para voltar a ser Campeão Nacional e viu o título escapar-se-lhe a 4 minutos do fim.
ALFREDO QUARESMA:
Durante duas décadas inteiras, Alfredo Quaresma serviu o Belenenses como jogador.
Veio das camadas juvenis do clube. Ainda na idade de júnior, foi integrado no plantel da equipa principal na década de 1961/62.
Dada a sua juventude, demorou a impor-se com titular, o que aconteceu a partir de 66/67. Foi Vice-Campeão Nacional em 72/73 e 3º classificado em 75/76. Ganhou a Taça de Honra de 69. Esteve em 2 edições da Taça UEFA. Surpreendentemente, foi dispensado por Medeiros antes da época de 77/78.
Durante muitos anos foi defesa central. Em 72/73, o Scopelli pô-lo a médio. Quaresma chegou a recear que se “queimasse” nessa posição; mas não, foi justamente aí que mais se veio a evidenciar, assumindo até uma inesperada veia goleadora – e, ao mesmo tempo, dando consistência defensiva e capacidade de recuperar bolas ao meio-campo.
A jogar muito bem nessa nova posição, veio a envergar a camisola da Selecção A por 3 vezes, marcando um golo.
De entrevistas de Quaresma, algumas recordações: numa delas, confessava ter o sonho de oferecer aos belenenses a alegria de voltarmos a ser campeões. Noutra, depois do 1º jogo da eliminatória com o Barcelona, na Taça UEFA de 76/77, em que, do Restelo, perante 35.000 espectadores, o resultado foi 2-2 (tendo Quaresma apontado o nosso 1º golo), com os espanhóis a empatarem perto do fim, declarou: “O Belenenses jogou para ganhar e foi superior ao adversário durante os noventa minutos. A minha equipa merecia a vitória pelo menos por dois golos de diferença. Mais uma vez, fomos infelizes. Eles foram felizes, especialmente nos dois golos marcados. A eliminatória não está perdida. Conforme o Barcelona empatou aqui, podemos nós empatar lá ou ganhar. Não é impossível. Se apresentarmos todos os jogadores, contem connosco”.
Exemplar! Na Catalunha, a situação repetiu-se: o Barcelona fez o 3-2 mesmo ao terminar do jogo. Lembramo-nos de Quaresma ter comentado que o seu desgosto, com esse golo que nos eliminou, foi tão grande, que quando viu o árbitro a apontar para o centro do terreno, teve vontade de o esmurrar – o que, porém, não fez (foi sempre um jogador correcto).
GODINHO:
Vindo das camadas jovens do Belenenses (e da Selecção de Juniores), Vítor Godinho chegou a titular da equipa principal no fim da época de 62/63 (contribuído para a vitória 2-1 sobre o Helsingborg, clube que já conquistou 6 campeonatos da Suécia), posição que manteve até ao fim da temporada de 76/77, quando foi inesperadamente dispensado. Nem por isso deixou de continuar a manifestar o seu afecto e a sua dedicação ao Belenenses.
Inicialmente extremo-esquerdo, veio a recuar para médio ala-esquerdo com a evolução das tácticas. Em 1973, quando o Belenenses defrontou o Wolverampton para a Taça Uefa, o treinador dos ingleses, estupefacto, considerou o trio João Cardoso-Godinho-Gonzalez como a melhor asa esquerda da Europa. Nesta competição, Godinho efectuou 11 jogos.
No Campeonato Nacional, as melhores classificações foram o 2º lugar em 72/73 e o 3ºlugar em 75/76. Foi 3 vezes semifinalista da Taça de Portugal. Ganhou a Taça de Honra de 69.
Godinho marcava alguns golos mas, sobretudo, dava muitos a marcar. Jogador tecnicista e, ao mesmo tempo, de vontade férrea, a sua retirada, juntamente com a de Quaresma, marcou o fim de um certo tipo de amor à camisola.
Foi uma vez internacional A, em Julho de 1975.
JAIME:
Chegou ao Belenenses na época de 84/85 e aqui permaneceu até meio da época de 91/92. Era um médio ala (ou extremo direito), uma ou outra vez colocado mais ao centro, que se caracterizava pela excelente técnica, finta curta e rápida, e boa capacidade goleadora. Quando estava nos seus dias, era um autêntico regalo vê-lo jogar. Contra si, tinha alguma inconstância (oscilações de forma) e pouca robustez física e psicológica. Ficou em 3º lugar em 1988 e foi finalista das Taças de Portugal de 86 e 89, vencendo a última. Participou em 2 edições da Taça Uefa e em 1 edição da Taça das Taças. Contribui para vitórias em jogos com equipas como o Barcelona, o Bayer Leverkusen (2 vezes) ou o Vasco da Gama (também 2 vezes) e para a conquista de valiosos troféus em Espanha e em Angola.
Representou a Selecção A por 9 vezes.
JUANICO:
A imagem de Juanico ficará para sempre associada ao monumental golo, de livre directo, que fixou o resultado final, de 2-1 para o Belenenses, na final da Taça de Portugal disputada em 1989 com o Benfica. Foi um momento mágico.
No entanto, durante os anos que representou o Belenenses, de 86/87 (vindo do Rio Ave) até 90/91, Juanico marcou outros grandes golos. E, sobretudo, a sua acção, como médio mais recuado, era de ser simultaneamente o primeiro recuperador de bolas e o primeiro a organizar a ataque. Talvez não fosse brilhante em nenhum das tarefas mas era muito bom em ambas, tornando-se um jogador de extrema utilidade e um verdadeiro pêndulo da equipa.
Além da Taça de Portugal de 1989, registe-se na sua carreira o 3º lugar no Campeonato de 87/88 e a participação nos jogos internacionais que referimos a propósito de Jaime.
Chegou a envergar a camisola da Selecção A, embora unicamente uma vez.
ADÃO:
Foi contratado ao Vitória de Guimarães no defeso que precedeu a época de 88/89, e permaneceu no Belenenses durante dois anos.
Era um médio esquerdo de grande qualidade, tanto a defender (fez alguns jogos a defesa esquerdo) como a construir jogadas de ataque. Combinava uma excelente técnica com bastante garra e dinamismo. Estamos a lembrar-nos dele, no jogo com o Bayer Leverkusen, na Alemanha, a ir por ali fora e a cruzar a preceito para Mladenov fazer o golo de cabeça; ou, no jogo da 2ª mão, no Restelo, a fazer o golo da vitória em livre directo...
Como é evidente, o seu nome consta entre os vencedores da Taça de Portugal de 1989.
Representou a Selecção A por 11 vezes mas só 1 vez enquanto estava ao serviço do Belenenses.
EMERSON:
Chegou ao Belenenses num momento triste: o clube, pela 2ª vez, descera de divisão. Parece que o Belenenses precisa de passar por grandes aflições para se reforçar a sério... e foi o que aconteceu esse ano. Com vários novos jogadores de qualidade, dos quais Emerson foi o que mais veio a brilhar, o Belenenses voltou ao seu lugar e fez um bom campeonato na época seguinte – chegando, aliás, em 2º lugar a um terço do campeonato.
Emerson ainda ficou entre nós na época de 93/94, sendo depois vendido pra o F.C.Porto , e deste clube seguindo para Inglaterra.
Era um nº 6 de extraordinária qualidade. Embora tivesse apenas 19 anos quando chegou ao Belenense, imediatamente se impôs. Muito bom a recuperar a bola, saía com ela dominada e logo permitia o lançamento do ataque. Tinha um toque inconfundível de classe.
ZÉ PEDRO:
Sobre Zé Pedro, pouco é necessário dizer, pois ainda representa o clube. Por isso mesmo, abster-nos-emos propositadamente de comentários valorativos.
Veio para o Belenenses em 2004/2005, depois de passar por clubes como o Boavista e o Vitória de Setúbal. Desde então, tem sido praticamente sempre titular.
Tanto a título individual como colectivo, a época passada foi a melhor: finalista da Taça de Portugal, 5º lugar no Campeonato, acesso à Taça Uefa, 8 golos marcados no Campeonato e ainda a transformação – magnífica de certeza – do penalti que nos garantiu o triunfo nas meias-finais da primeira das referidas provas.
Já este ano, marcou na final do Torneio de Casablanca, conquistado pelo Belenenses.
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