O FUTURO BELENENSE COMEÇOU "ONTEM"... (II)



No que diz respeito ao Belém até Morrer, a "Novela Dady" encontra-se encerrada (isto, claro, se se verificar a entrada nos cofres do clube dos 3,5 milhões). A ampulheta do passado derramou todos os seus grãos de areia e, aqui e agora, viramo-la para a transformar em ampulheta do futuro.

E o futuro belenense começou "ontem", no dia em que Dady deixou, por opção própria, de fazer parte dele.

Aqui deixamos um pouco de história, de memória se se quiser, porque o passado pode ser enterrado mas jamais apagado.

Nascido em Lisboa no dia 13 de Agosto de 1981, Dady passou grande parte da sua carreira representando clubes de divisões inferiores. Assim, representou o Aldenovense – pequeno clube do concelho de Serpa – em 2001/02, transitando seguidamente para o Odivelas onde permaneceu três temporadas: de 2002/03 a 2004/05.

Na época seguinte teve a possibilidade de representar um clube de maior dimensão, o Estoril e, após a abertura do mercado de Inverno, alcançou finalmente a primeira Liga ao assinar pelo nosso Belenenses - encontravamo-nos em Janeiro de 2006.


A sua contratação não foi, nem pouco mais ou menos, ansiada pelos associados azuis. Muito pelo contrário. Imediatamente fizeram-se ouvir vozes discordantes que consideravam que o jogador não tinha qualidade suficiente para representar o clube da Cruz de Cristo.

O próprio Couceiro terá, sabemo-lo, pensado o mesmo.

Ainda assim, Dady estreou-se pelos Azuis do Restelo à 18º jornada. Prova de fogo, visto que o adversário era, nem mais nem menos, o Sporting. Não se tratou de uma estreia auspiciosa. Aliás, dificilmente poderia ter sido visto que Dady alinhou somente durante 13 curtos minutos.
Os restantes jogos da temporada, não obstante os maus resultados, não foram muito diferentes: poucas vezes utilizado e sempre na condição de suplente. Numa única ocasião jogou durante mais de 20 minutos, actuando 39 minutos no jogo da 24ª jornada frente à Naval.

Na fase decisiva da época não foi praticamente utilizado – somente 14 minutos dentro das 4 linhas (no fatídico jogo de Barcelos) - nas últimas 5 partidas.

Enquanto jogador azul, Dady teve portanto uma época de 2005/06 para esquecer, sendo muitas vezes preterido perante jogadores de qualidade mais do que duvidosa, como por exemplo Ceará.

Actuou em apenas 9 jornadas, durante as quais somou 141 minutos em campo – média de apenas 15,6 minutos por jogo.

Perante tais atenuantes foi sem grande surpresa que não marcou qualquer golo, não impressionando nem a massa adepta azul nem a imprensa desportiva.

Chegou entretanto a nova época. Depois do Verão quente o Belenenses ficou definitivamente na primeira liga, e os associados azuis começaram a questionar-se acerca do valor do plantel.
Depois da saída de Meyong ( e com Romeu constantemente lesionado) a grande maioria dos belenenses terá considerado o plantel azul “coxo” no que dizia respeito à posição de ponta de lança. Assim, poucos acreditavam que Dady pudesse constituir uma alternativa consistente, podendo-se afirmar o mesmo em relação a Manoel.

O próprio Jorge Jesus não parecia inicialmente se encontrar convencido em relação às reais possibilidades de Dady. Assim, fê-lo actuar somente durante 5 minutos na primeira partida dos azuis – 2ª jornada frente ao Setúbal -, não actuando sequer no jogo frente a Académica.
A primeira grande oportunidade de Dady surgiu na 4ª jornada, no Restelo, frente à Naval. Actuou, pela primeira vez, como titular belenense, mas a partida terminou com um nulo.

Seguiram-se 2 derrotas azuis – Boavista e Nacional – nas quais Dady regressou ao banco como suplente utilizado – actuou, respectivamente, durante 45 e 26 minutos (no Funchal Jesus abdica novamente de Dady, e coloca um 11 sem ponta-de-lança – ataque entregue a Silas, Eliseu e Roma).

Face aos resultados negativos, Dady é novamente chamado a titular na jornada seguinte, frente ao Paços de Ferreira, jogo no qual não consegue se estrear como marcador apesar da vitória azul.

Ainda assim, merece novo voto de confiança de Jesus, e frente ao Aves – 8ª jornada – é novamente titular. E é precisamente frente aos avenses que Dady factura pela primeira vez com a cruz de Cristo ao peito. Decorria o minuto 65 do encontro quando Dady finalmente se encontra com as redes adversárias.

Depois de marcar, Dady permanece sem surpresa no 11 azul, mas nova derrota – desta feita com a União de Leiria – empurram-no novamente para o banco. Seguem-se 3 jogos e 3 derrotas; na última das quais o Belenenses recebeu o Porto no Restelo, e novamente Dady foi remetido para a condição de suplente utilizado – 17 parcos minutos em campo.

Nos primeiros 11 jogos da liga, Dady alterna a condição de titular – 5 jogos – com a condição de suplente: 5 jogos, nos quais não actua sequer em 2. Marca um só golo, e continua a não convencer completamente a massa adepta azul.

Mas depois de 11 jornadas muito fracas – 11 pontos e 12º lugar da classificação – o 11 azul assumiu finalmente as características que vingaram: dois triângulos no meio-campo e no ataque, compostos, respectivamente, por Sandro G., Ruben Amorim e Zé Pedro e por Silas, Cândido Costa e Dady.

O Belenenses deslocou-se a Aveiro numa situação incómoda, mas Dady, de regresso aos titulares, factura o seu segundo golo ao serviço dos Azuis do Restelo e ajuda a equipa a somar os três pontos – resultado final de 2:1.

Seguem-se 3 jornadas (Braga, Marítimo e Benfica) nas quais Dady é titular. Apesar das vitórias frente aos 2 primeiros, o cabo-verdiano de Lisboa não factura e vê-se, frente ao Sporting, novamente relegado para o banco – actua durante 30 minutos.

Seguiram-se 8 jogos para a liga, nos quais Dady foi sempre titular, marcando 5 golos (precisamente os mesmos que marcou nos restantes jogos da liga).
E um goleador improvável revelou-se finalmente, dando mostras de uma qualidade futebolística que poucos acreditavam que tivesse!!!

Vários factores contribuíram para esta realidade. Antes de mais, a confiança que Jesus depositou em Dady. Em segundo lugar, o facto do Belenenses no geral atravessar uma excelente fase, com a maioria dos jogadores a subir de forma. E finalmente surgiu o factor… Garcés!
Coincidência ou não (no futebol não existem muitas…) a entrada do panamiano na equipa ajudou à revelação de Dady enquanto goleador.

Pois é: Dady, apesar de ter permanecido enquanto jogador azul somente 18 meses, é sem dúvida um jogador que deve ao Belenenses toda a notoriedade que hoje o conduziu ao futebol espanhol.

Ainda que a sua memória seja curta (os acontecimentos dos últimos dias provam-no), resta-nos a esperança que o cabo-verdiano tenha agradecido humildemente a Jesus, o seu autêntico "pai" futebolistico...

(Edição da Tarde do B.A.M. on-line às 14 horas)