MORREU ALFREDO MURÇA (e um pouco do meu Belenenses)
Todos nós temos o "nosso" Belenenses. O nosso Belenenses próprio é feito daquilo que vimos, conhecemos, ansiámos, desesperámos, festejámos e sofremos, daquilo que nos marcou indelevelmente.
Morreu o Alfredo Murça. E com ele, perdoem-me a referência pessoal, morreu um pouco mais do meu Belenenses.
(Murça em jogo com o V. Setúbal, no Restelo. É o primeiro do canto direito)
O Murça vem logo a seguir na linha dos mais antigos jogadores que vi envergar a nossa camisola. Dos mais antigos que recordo, morreu há pouco tempo outro Alfredo, o Quaresma. E era também o Serrano, o Gomes, o Manuel Rodrigues, o Estevão, o Pena, o Ernesto (o "cenoura", o meu primeiro ídolo azul), o Freitas, o Laurindo e o Godinho. O Murça, com o Mourinho, o João Cardoso, o Saporitti e o Pietra, vêm logo a seguir.
(Digressão em França. Da esquerda para a direita: Em cima: Peres Bandeira, (não identificado), João Cardoso, Pincho, Freitas, Major Baptista da Silva, Quaresma, Godinho, Mourinho, Gonzalez, Alejandro Scopelli, João Silva (massagista), Calado e Ramalho;Em baixo: (não identificado), Laurindo, Quinito, Pietra, Ernesto, Murça, Ruas e Luís Carlos).
Quando eu era um menino, o Belenenses era respeitado, quase até à vénia de chapéu na mão, como um Grande; mas era já uma saudade dos seus tempos de glória. Perdêramos o Estádio, resvaláramos para o meio da tabela, mesmo se sempre se nos consideravam um possível candidato ao título, no início das épocas. Com o fim das carreiras de Vicente, José Pereira e Rodrigues, desapareceramos das convocatórias das selecções.
Foi então que o Murça começou a aparecer na chamada, nesses tempos, Selecção de Esperanças. Algum tempo depois, estreia-se na Selecção A, em jogo com a Inglaterra.
E entretanto, voltaram tempos felizes. Em 72/73, o Belenenses regressava à ribalta, ficando em 2º lugar. Para mim, o próximo passo seria voltarmos a ser campeões. Mesmo para os não-belenenses, era o nosso retorno à normalidade de clube grande. Murça era um dos que mais brilhava nessa equipa, e fica como um símbolo do fim dos tempos em que as camisolas azuis com a Cruz de Cristo eram temidas e respeitadas em todo o lado.
Na época seguinte, vejo a nossa primeira participação na Taça Uefa. Da desilusão da derrota da 1ª mão, no Restelo, por 2-0, com o Wolwerampthon, em 26 de Setembro de 1973, só já retenho na memória 3 lances: um remate de González às malhas laterais; uma perdida incrível de Luís Carlos que, com baliza aberta, atirou contra o GR inglês, que estava no chão; e um espectacular desarme, simulação e arranque para ataque de Alfredo Murça. Na 2ª mão, em 3 de Outubro, o mesmo Murça aos 7m marcou para o Belenenses e reacendeu-nos a esperança, que durou até meio da 2ª parte...
Tive um desgosto quando ele saiu para o Porto. Para mim, jogador que saia dos nossos quadros para os rivais do quarteto dos Grandes em que nasci e cresci a sermos incluídos, é finito. Chamem-me fundamentalista, o que quiserem; para mim, é assim e será sempre.
Mas era diferente nessa altura. Se o Porto nos levava o Laurindo, o Murça, o Gonzalez, também lhes fôramos buscar o Djalma. Éramos comparsas do lote dos grandes clubes de Portugal. E Murça, ao sair, ajudou numa conjuntura financeira delicada, quando transferir para clubes estrangeiros não era a normalidade que é hoje.
Ainda assim, se um pouco de ressentimento me ficou, de todo o coração digo que nada dele existe ao saber da morte do Alfredo.
Para ele, só tenho duas palavras: BEM HAJAS!
Morreu o Alfredo Murça. E com ele, perdoem-me a referência pessoal, morreu um pouco mais do meu Belenenses.
(Murça em jogo com o V. Setúbal, no Restelo. É o primeiro do canto direito)
O Murça vem logo a seguir na linha dos mais antigos jogadores que vi envergar a nossa camisola. Dos mais antigos que recordo, morreu há pouco tempo outro Alfredo, o Quaresma. E era também o Serrano, o Gomes, o Manuel Rodrigues, o Estevão, o Pena, o Ernesto (o "cenoura", o meu primeiro ídolo azul), o Freitas, o Laurindo e o Godinho. O Murça, com o Mourinho, o João Cardoso, o Saporitti e o Pietra, vêm logo a seguir.
(Digressão em França. Da esquerda para a direita: Em cima: Peres Bandeira, (não identificado), João Cardoso, Pincho, Freitas, Major Baptista da Silva, Quaresma, Godinho, Mourinho, Gonzalez, Alejandro Scopelli, João Silva (massagista), Calado e Ramalho;Em baixo: (não identificado), Laurindo, Quinito, Pietra, Ernesto, Murça, Ruas e Luís Carlos).
Quando eu era um menino, o Belenenses era respeitado, quase até à vénia de chapéu na mão, como um Grande; mas era já uma saudade dos seus tempos de glória. Perdêramos o Estádio, resvaláramos para o meio da tabela, mesmo se sempre se nos consideravam um possível candidato ao título, no início das épocas. Com o fim das carreiras de Vicente, José Pereira e Rodrigues, desapareceramos das convocatórias das selecções.
Foi então que o Murça começou a aparecer na chamada, nesses tempos, Selecção de Esperanças. Algum tempo depois, estreia-se na Selecção A, em jogo com a Inglaterra.
E entretanto, voltaram tempos felizes. Em 72/73, o Belenenses regressava à ribalta, ficando em 2º lugar. Para mim, o próximo passo seria voltarmos a ser campeões. Mesmo para os não-belenenses, era o nosso retorno à normalidade de clube grande. Murça era um dos que mais brilhava nessa equipa, e fica como um símbolo do fim dos tempos em que as camisolas azuis com a Cruz de Cristo eram temidas e respeitadas em todo o lado.
Na época seguinte, vejo a nossa primeira participação na Taça Uefa. Da desilusão da derrota da 1ª mão, no Restelo, por 2-0, com o Wolwerampthon, em 26 de Setembro de 1973, só já retenho na memória 3 lances: um remate de González às malhas laterais; uma perdida incrível de Luís Carlos que, com baliza aberta, atirou contra o GR inglês, que estava no chão; e um espectacular desarme, simulação e arranque para ataque de Alfredo Murça. Na 2ª mão, em 3 de Outubro, o mesmo Murça aos 7m marcou para o Belenenses e reacendeu-nos a esperança, que durou até meio da 2ª parte...
Tive um desgosto quando ele saiu para o Porto. Para mim, jogador que saia dos nossos quadros para os rivais do quarteto dos Grandes em que nasci e cresci a sermos incluídos, é finito. Chamem-me fundamentalista, o que quiserem; para mim, é assim e será sempre.
Mas era diferente nessa altura. Se o Porto nos levava o Laurindo, o Murça, o Gonzalez, também lhes fôramos buscar o Djalma. Éramos comparsas do lote dos grandes clubes de Portugal. E Murça, ao sair, ajudou numa conjuntura financeira delicada, quando transferir para clubes estrangeiros não era a normalidade que é hoje.
Ainda assim, se um pouco de ressentimento me ficou, de todo o coração digo que nada dele existe ao saber da morte do Alfredo.
Para ele, só tenho duas palavras: BEM HAJAS!
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