Entrevista Belém até Morrer - JP Oliveira.
Sem que tivéssemos programada a entrevista a João Paulo Oliveira, havíamos na edição da tarde destacado o ponta de lança brasileiro. Destaque, pensamos, inteiramente justificado. JP Oliveira tem se revelado um jogador com muita qualidade, parecendo possuir aquela empatia com a bola que só os grandes goleadores apresentam. A bola simplesmente parece ir ter com eles...
Assim é com o jovem de 22 anos, cuja veia goleadora já rendeu 4 golos ao serviço do Belenenses. Com Dady fora das 4 linhas e Roncatto e Munoz pouco profícuos no capítulo da finalização, JP Oliveira tem sido, sem qualquer espécie de dúvida, o homem-golo azul.
Ontem mais um golo...
JP Oliveira: Acho que tenho tido sorte. Trabalho para fazer golos porque sou avançado e acho que estou vivendo um momento bom que espero que continue no decorrer do campeonato, para o qual tenho alguns objectivos e tudo vou fazer para alcança-los.
Quais são esses objectivos?
JP Oliveira: Vou tentar fazer uma grande temporada aqui no Belenenses e no futuro, quem sabe, jogar numa equipa de grande força.
Depois de algumas semanas em Portugal, já poderás falar com mais conhecimento das diferenças que aqui encontrastes em relação ao Brasil...
JP Oliveira: Aqui é um pouco mais rápido. Temos que executar aqui um pouco mais rápido, mas já estou adaptado. Estou só um pouco cansado, mas dentro da normalidade. A gente está treinando bastante...
O futebol português é adequado as tuas características?
JP Oliveira: Acho que futebol português é igual ao do Brasil, tendo somente um pouco mais de velocidade e de dinâmica. No Brasil você pode pegar a bola e ter dois ou três segundos para pensar, enquanto aqui, antes da bola chegar, você teve já que ter pensado no que vai fazer.
O tal objectivo pode passar por seres o melhor artilheiro da Liga?
JP Oliveira: Não posso dizer que não sonho com isso. Um jogador que joga na frente acho que tem que sonhar em fazer golos, mas não posso prometer lutar para ser o melhor artilheiro se ainda não fiz ainda o primeiro golo... Como falei tenho os meus objectivos, quero fazer imensos golos aqui e ajudar a equipa, mas sempre sem pensar em ser o melhor goleador. Acho que se eu trabalhar bem esse trabalho vai dar frutos, e marcar golos será consequência disso mesmo.
Embora tenha somente 22 anos, o ingresso no Belenenses não significou a primeira experiência europeia de JP Oliveira...
JP Oliveira: Já joguei na Bélgica, no Germinal. Lá o futebol é um pouco mais físico. O meu peso normal é agora de 78 quilos. Quando cheguei a Bélgica, tinha 17/18 anos, cheguei a pesar 83 quilos por ganhei muita massa muscular. Foi obrigado a trabalhar muito o aspecto físico e muscular, mas quando voltei para o Brasil regressei ao meu peso normal.
Regressando a esses tempos nos quais viveu a sua primeira experiência fora do Brasil, JP oliveira relembrou que fazia dupla de ataque com Cadú, jogador que actua em Portugal, na União de Leiria.
JP Oliveira: Jogámos os dois no Germinal, tendo o Cadú acabado por ser vendido para Portugal enquanto eu regressei ao Brasil porque o meu clube da época, o Madureira, não quis vender o meu passe os belgas.
Como vai ser quando tiver que enfrentar o Cadú dentro das 4 linhas...
JP Oliveira: Espero que seja bom para nós dois. Ele vai estar defendendo o clube dele, eu vou estar defendendo o meu. Somos grandes amigos, mas depois de entrarmos para dentro do campo acho que tenho de defender o pão de cada dia da minha família, e ele o pão de cada dia da família dele. No final vamos-nos abraçar e conversar normalmente...
Humilde e tranquilo, JP Oliveira, quando questionado acerca dos golos que já havia marcado ao serviço do Belenenses, afirmou não saber ao certo, não tendo por hábito fazer essas contas.
JP Oliveira: Não conto os golos... Falaram-me que já havia marcado 4, mas não sei ao certo. No Brasil estava como segundo melhor marcador no campeonato que estava a disputar, o Gaúcho, e não sabia. Só soube quando saiu uma notícia no jornal e os meus amigos me falaram. Estava mesmo como melhor marcador, mas a minha equipa não se qualificou para as meias-finais, e foi ultrapassado por outro jogador que jogou mais 4 jogos que eu.
Não contas os golos por alguma razão em especial...
JP Oliveira: Não. Simplesmente não me preocupo com isso. Como já falei, se a gente está trabalhando correcto e bem as coisas vão acontecendo naturalmente.
Dentro de poucos dias o Belenenses irá disputar um dos mais prestigiados torneios do mundo, o Tereza Herrera. Como vai ser?
JP Oliveira: Espero que a nossa equipa mantenha o nível de apresentação que vem mostrando. Independentemente de jogarmos contra grandes clubes europeus, acho que se eles entrarem nas 4 linhas com menos vontade do que a gente, nós vamos tentar beneficiar disso.
Mas vai ser especial jogar contra o Real Madrid?
JP Oliveira: Vai ser num certo sentido porque eu sou novo, sou agora estou começando a minha carreira. Jogar contra uma grande equipa, com grandes jogadores e sempre bom, uma oportunidade de obtermos um pouco mais de experiência. Fora isso, acho que é normal. Não estou numa das maiores equipas da Europa, mas estou aqui numa das maiores equipas de Portugal.
Que obteve uma 5ª posição da Liga e atingiu a final da Taça de Portugal...
JP Oliveira: Vimos trabalhando forte nestas semanas para no minímo tentarmos manter o nível de apresentação que tivemos, Belenenses, no ano passado.
Que avançados tens como referência?
JP Oliveira: Como falei quando cheguei a Portugal, na primeira entrevista que dei, gosto muito do Liedson. É um excelente jogador, um grande goleador. Se tivermos como exemplos alguns jogadores muito bons isso pode ser positivo, e eu tenho o Liedson como exemplo apesar dele no meu país ser injustiçado por não ser chamado à selecção brasileira apesar dos excelentes campeonatos que vem fazendo.
Acompanhavas do Brasil a sua carreira aqui em Portugal?
JP Oliveira: Acompanho o seu percurso desde que ele surgiu, no Curitiba, no Corintians, no Flamengo... Eu morava no Rio de Janeiro, e acompanhava ele no Brasileirão. Depois, no Corintians e no Flamengo, passei a seguir o seu percurso com mais proximidade. No Rio ele fez grandes partidas e grandes golos, e no Brasil ele é um ídolo. Por isso me baseio nele, ele que era pobre tal como eu... Ambos somos oriundos de famílias muito humildes, e ele conseguiu chegar onde se encontra hoje. Vou tentar seguir o seu exemplo, e tentar também chegar onde ele chegou.
E ajudar a tua família...
JP Oliveira: Claro. Estou aqui para trabalhar e tentar ajudar a minha família. Temos que ter objectivos na vida. Temos que viver a vida, mas sem nunca esquecer os nossos objectivos.
Como é a tua história de jogador de futebol? Como tudo surgiu?
JP Oliveira: Comecei no Madureira, toda a minha formação foi feita lá, no clube do Rio de Janeiro. Com 17 anos acabei por disputar um jogo contra o Vasco da Gama no qual o Cadú, jogador do Vasco na época, estava a ser observado. Acabaram por me ver jogando e foi então que surgiu a possibilidade de jogar no Germinal da Bélgica. Transferiram-nos aos dois...
Ser futebolista sempre foi um sonho...
JP Oliveira: Era um sonho, mas não era um objectivo do tipo: "Tenho que ser um jogador..." Aconteceu. Estava jogando futebol na rua com os amigos, descalço e tudo, e passou um olheiro do clube (do Madureira), que me perguntou se eu tinha vontade de ir lá fazer uns treinos. Eu fui, fiz uns treinos de captação e acabei por passar. No primeiro treino tinha 700 pessoas, e só passei eu e mais um miúdo, que era defesa, o André Paulino que ainda joga como profissional no Madureira, onde foi campeão estadual. Tem jogadores que na época já jogavam no Madureira e que hoje não são profissionais. Nós dois que passámos no teste e fomos os últimos a chegar ao clube, acabámos por nos tornarmos profissionais primeiro... Chegámos do nada, quando já havia muitos jogadores na equipa, mas devido à nossa qualidade fomos integrados no grupo dos profissionais mais rápido.
Chegaste ao Madureira com que idade?
JP Oliveira: Cheguei tarde, quando tinha já 14 anos. E com 17 anos vim para a Europa...
Foi um percurso muito rápido... Teria sido útil começar mais cedo?
JP Oliveira: Penso que não. Tem jogadores que começam muito novos e não singram enquanto profissionais... Comigo foi mais o destino, acho que tinha que acontecer... Hoje poderia estar sentado no Brasil a trabalhar num escritório. Se hoje estou aqui dando uma entrevista é porque tinha que acontecer, a gente não programa nada na vida... Só apenas deita, dorme, acorda... e acontece.
Pareces ser uma pessoa muito tranquila, que vem fazendo todo o seu percurso enquanto jogador com grande calma...
JP Oliveira: Sou bastante tranquilo mas também muito alegre. Sou extrovertido, gosto de brincar, de sacaniar os outros (risos), mas na minha casa sou bastante tranquilo. Temos que saber viver a vida. Temos que ter tranquilidade e ao mesmo tempo sabedoria para alcançarmos o que ambicionamos. Não adiantar chegar e marcar 2 ou 3 golos e achar que já cheguei a algum lugar... Acho que que tenho que manter sempre a minha cabeça no lugar para assim alcançar o meu objectivo maior que é dar uma vida melhor à minha família.
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