História de Matateu (XVII)


Em Dezembro de 1957, disputava-se o primeiro encontro internacional da época. O onze nacional deslocou-se a Milão, onde defrontou, no estádio de S. Ciro, a turma de Itália. Matateu ficou no banco dos suplentes.

No Domingo seguinte, o Belenenses recebeu no Restelo a equipa do Sporting de Braga, encontro que assinalou o recomeço do campeonato. Matateu, possivelmente por estar ressentido por estar ausente das 4 linhas em S. Ciro, brindou o público com uma exibição portentosa que culminou com a obtenção de seis golos. Tal facto – raro em encontros oficiais – já por si concederia ao jogador moçambicano o privilégio de ser considerado o melhor elemento em campo, se não tivesse ainda actuado em grande plano, desbaratando a defesa adversária.

O campeonato prosseguiu, até que a 13 de Abril de 1958 a equipa nacional voltou a actuar, desta vez em Madrid. A equipa das quinas, após luta entusiástica e vibrante, alcançou o melhor resultado (até à data) do futebol nacional na capital espanhola ao perder pela diferença mínima – 1-0.
Matateu, que jogou a avançado centro, cotou-se como o nosso único dianteiro que fez perigar as redes espanholas, com os seus internamentos e driblings rápidos e constantes.
Perto do final do jogo, Matateu teve pouca sorte num remate que atirou por cima da barra, remate daqueles que, normalmente, lhe saem bem.

O Belenenses, que havia sido eliminado da taça de Portugal pelo Benfica, defrontou, a 7 de Maio, a forte equipa do Barcelona, na altura 3ª classificada na Liga do país vizinho.
Os catalães, que tinham goleado (6-0) a selecção de Londres, apresentavam um conjunto impressionante de valores: Ramalets, Olivella, Segarra, Basora, Tejada, Suarez, e Ladislau Kubala.
O encontro excedeu a expectativa. A turma de Belém, sob orientação do argentino Miguel Di Pace, contrariando todos os vaticínios, derrotou sensacionalmente a categorizada equipa do país vizinho, com Kubala em campo e tudo.

Matateu fez excelente exibição e marcou um golo estupendo. No final do encontro, o famoso Kubala disse: “Conheço Matateu, que tem muita categoria, e admiro a sua sede pela baliza”.

Após este encontro entrou-se no defeso, que pouco durou, já que dias depois se iniciou a nova época que, como de costume, revê a sua aparição com uma série de jogos particulares.
O Belenenses defrontou o Atlético depois do Elche e, por último, o Barcelona, tendo Matateu obtido cinco golos, três contra os alcantarenses e dois contra o Elche.

O encontro de Barcelona teve a assistir 50.000 pessoas, que seguiram entusiasmadas a actuação da turma lisboeta que, não obstante ter perdido por 2-1, teve excelente exibição, mormente Matateu a quem a critica teceu os maiores elogios.
O jornal “Faro de Vigo” escreveu em 11 de Setembro de 1958:
“Estivemos em contacto com o senhor Herrera com o objectivo de conhecer o motivo da sua viagem. Entre outros pormenores, aquele técnico revelou: lembrei ao senhor Santiago que se deslocasse directamente a Portugal, onde se estabelecerá contacto com determinado dianteiro de um clube de Lisboa. O jogador em referência, segundo informes particulares, deve ser Matateu ou ou Jaburu”.

O jogador moçambicano rejeitou as propostas apresentadas, continuando a representar a seu clube de sempre em Portugal.

A primeira jornada do campeonato colocou frente a frente as equipas do Belenenses e da CUF, tendo os azuis vencido por 3-0; Matateu apontou o último golo belenense.

Até ao final do campeonato, o artilheiro belenense obteve 23 golos. No final do torneio, Matateu atravessava um dos melhores períodos da sua carreira. No encontro com o FC Porto, realizado no Restelo, Matateu fez uma exibição de grande nível, valorizada pelo golo da vitória e por uma aplicação constante. Mais jogador de equipa, o avançado moçambicano foi, em todo o jogo, um problema permanente para os defensores antagonistas. Oito dias depois, em Setúbal, Matateu voltou a encher o campo.
Mas não seria ainda naquela época que Matateu alcançaria o título tão ambicionado.

As boas exibições do jogador do Alto Mahé foram observadas pelo seleccionador nacional, nessa altura o dr. José Maria Antunes, que o convocou para o encontro contra a Suiça que se disputou em Genebra. Matateu foi como suplente, acabando por actuar, em substituição de Teixeira, e marcando um tento para a equipa nacional.
A 21 de Maio, a selecção voltou a jogar, desta feita em Gotemburgo. A Suécia venceu por 2-0. Matateu teve actuação discreta, sendo batido com frequência pelo jogo aéreo.

Recomeçou a taça e o Belenenses eliminou o Atlético, tendo Matateu marcado mais um golo. A 3 de Junho, a equipa portuguesa defrontou a Escócia, no estádio de Alvalade. O onze nacional venceu por 1-0, golo obtido por Matateu. Com este jogo Matateu completava 21 internacionalizações, igualando assim o record do antigo jogador belenense Augusto Silva.

O público, que assistiu em grande número, tributou uma grande ovação ao fogoso jogador azul quando este obteve o tento do triunfo.

A 21 de Junho, a equipa de Portugal jogou um Berlim, contra a Alemanha Oriental, para a Taça das Nações Europeias.
Matateu, que estava de novo em grande forma, produziu exibição fulgurante, cotando-se como o melhor avançado. E um dos melhores jogadores em campo, ao mesmo tempo que, ao marcar mais um golo, subia ao 2º lugar na lista dos melhores marcadores da selecção portuguesa.