História de Matateu (XVI)

Terminados os encontros pela selecção nacional, Matateu permaneceu no Brasil para se juntar aos seus colegas do Belenenses, clube que pela primeira vez se deslocava a terras de Santa Cruz.
A equipa dos azuis foi recebida entusiasticamente no aeroporto do Galeão, onde a colónia portuguesa, que compareceu em grande número, envolveu a caravana belenense do melhor ambiente e simpatia.

Matateu estava novamente em plano de relevo no futebol nacional. A sua figura de jogador de grande categoria continuava a evidenciar-se nos campos da luta. O seu estilo característico mantinha-se inalterável.

O facto de ter sido o autor do único golo da equipa portuguesa nos jogos efectuados no Brasil, colocou-o em grande evidência. Este tento teve o condão de saldar uma divida, já que no jogo disputado no Estádio Nacional com os brasileiros, o famoso moçambicano falhara uma grande penalidade.

O golo que marcou no Maracanã, constituiu um dos grandes momentos de felicidade na carreira futebolística de Lucas da Fonseca, pois serviu para pôr em alvoroço a boa gente portuguesa que assistiu ao sensacional encontro.

Ao fazer a apresentação dos jogadores da turma do Belenenses, “O Jornal” do Rio de Janeiro referiu-se a Matateu nos seguintes termos:
«“A grande estrela” é contudo Sebastião Lucas da Fonseca, o “Matateu ” natural de Lourenço Marques, capital de Moçambique.
Com 30 anos, Matateu é, provavelmente, o mais popular profissional português. Muitas vezes internacional, tem um estilo próprio de jogo, perturbador e surpreendente».

A equipa do Belenenses foi incluída na série do Rio de Janeiro, a mais difícil das duas de que se compunha o torneio da “Taça de S. Paulo.”
O primeiro encontro dos azuis realizou-se contra um misto Vasco-Santos, no Maracanã, tendo a equipa lisboeta actuado muito abaixo das possibilidades, decepcionando os portugueses que assistiram ao prélio.

A equipa azul, que foi vencida por 6-1, teve apenas dois elementos que tiveram uma actuação meritória: Dimas e Matateu, que foi o autor do golo belenense.
Neste encontro salientou-se um jovem brasileiro, na altura quase desconhecido, e que mais tarde seria considerado um dos melhores jogadores do mundo: tratava-se de Pelé, que marcou quatro golos.


No dia 23 de Junho de 1957, o Belenenses disputava o segundo jogo, desta vez contra o Flamengo. A turma azul deu mais justa noção das suas possibilidades, não sendo, no entanto, totalmente feliz pois perdeu por 3-1. Matateu foi o grande jogador da tarde. Parecia um autêntico demónio procurando o golo com ânsia, desnorteando os defesas cariocas que não o largavam um só momento.
O penúltimo encontro da Taça de S. Paulo disputado pelo Belenenses efectuou-se no dia 26, precisamente 3 dias depois do jogo com o Flamengo.

O adversário da equipa de Belém foi o Dínamo de Zagreb. O Belenenses venceu por 2-0, tendo Matateu obtido o segundo golo. Após o triunfo contra os jugoslavos a cotação do Belenenses subiu bastante, tendo o nome de Matateu figurado nas primeiras páginas dos diários desportivos do Brasil.

Por falta de contrato para com o clube, o Belenenses não efectuou mais qualquer encontro, tendo regressado a Lisboa a 9 de Julho de 1957.

Seguiu-se o defeso até ao princípio de Agosto.
A inaugurar a época de 1957-58, o Belenenses deslocou-se à cidade de Cádis, onde disputou a taça “Ramon Carranza” juntamente com o Racing de Paris, o Atlético de Bilbau e o Sevilha.
Calhou ao Belenenses defrontar o Sevilha, jogo que foi aguardado com enorme expectativa. Matateu era anunciado nos periódicos espanhóis, principalmente nos da Andaluzia, como um dos melhores jogadores do futebol europeu.
O encontro foi seguido com extraordinário interesse, vindo os azuis a sucumbir diante do adversário, depois de duas horas de luta renhida.

Matateu, o temível goleador arrancou a maior ovação do estádio da Carranza, com um pontapé que fez sair a bola para fora do rectângulo de jogo, depois de se encontrar em boa posição para rematar com êxito. Aconteceu o seguinte: Valero, defesa sevilhano, estava caído no solo e Matateu, ao ver o adversário prostrado, condoendo-se, atirou a bola para fora.
Os lisboetas perderam o encontro por 4-3, tendo Matateu sido, mais uma vez, como o melhor jogador em campo.

Em 8 de Setembro, começava mais um campeonato nacional de futebol.
O Belenenses defrontou a Académica no Restelo, a quem venceu por 2-0, tendo Matateu, além de marcar o primeiro golo, sido o melhor elemento no rectângulo, conforme a critica informou.
Foi um perigo constante, com sentido de perfuração como nenhum outro.

Na jornada seguinte o Belenenses foi a Évora, onde conheceu a primeira derrota do campeonato.
Matateu esteve muito vigiado, mas mesmo assim obteve um dos golos da equipa. Oito dias mais depois os azuis sofreram novo desaire ao serem vencidos pelo Braga, no estádio 28 de Maio (em 1957 o 1º de Maio tinha esta designação), por 3-2.

Alinhando a extremo direito, Matateu foi o melhor atacante da equipa, marcando um golo e dando outro a marcar.

Na quarta jornada o Belenenses recebeu o Sporting e não foi mais feliz. Depois de perderem duas grandes penalidades os azuis ficaram-se por um empate a três bolas.
Pela primeira vez naquela época Matateu não marcou qualquer golo.
A turma do Belenenses não tinha ainda entrado no bom ritmo, até que, no encontro contra a C.U.F., disputado no Barreiro, os azuis conseguiram vencer e fazer bola exibição, especialmente o jogador moçambicano, que obteve um golo monumental. Matateu recebeu a bola meio voltado para a baliza e, sem perda de tempo, aplicou um remate violentíssimo que fez passar a bola pela única nesga que um cacho de jogadores deixara em aberto. Um golo que valeu uma vitória tirada a ferros.

Este triunfo não animou bastante as hostes belenenses que, logo no princípio do campeonato, haviam perdido a esperança de vir a ser naquela época que o triunfo lhes sorriria. E Matateu, embora creditando-se como um dos melhores jogadores portugueses, continuaria a não possuir o invejável titulo de campeão.