A despedida do Imperador...


Chegou a Portugal em Agosto de 1996, contratado pelo Rio Ave, em busca da “afirmação profissional” que tardava em conseguir no Brasil. Volvidos 11 anos, o guardião Marco Aurélio está de volta a casa – optou por acabar a carreira, depois de sair do Restelo – e admite que nunca pensou “atingir tanta notoriedade”.

Em jeito de desabafo, já com o coração “a apertar”, confessa: “Nunca vou esquecer o Belenenses. A consideração que os sócios têm por mim é um prémio que ninguém me poderá tirar. No jogo com o Marítimo, que marcou o meu regresso à competição, foi incrível sentir o carinho do público e ouvir gritar pelo meu nome. Mostrei então que estava recuperado, apesar de alguns não acreditarem.”

Marco Aurélio aceitou fazer para Record um balanço sobre os 11 anos que passou em Portugal. A tranquilidade, serenidade e segurança que ao longo das épocas demonstrou entre os postes, sobretudo com a Cruz de Cristo ao peito, são as mesma características que emprega no discurso de despedida.

“Estes 11 anos que passei em Portugal foram excelentes. Tive mais momentos de felicidade do que de tristeza. Quando vim, procurava impor-me... e considero que o meu percurso foi muito bom. Penso que consegui atingir um certo nível e estou naturalmente orgulhoso disso.”

Quando, no inicio deste mês, Marco Aurélio anunciou a sua saída do Belenenses, ao cabo de 9 anos, justificou-a referindo que queria continuar a jogar com regularidade. A verdade, é que tal não se veio a verificar... Marco Aurélio diz que não lhe propuseram um projecto de interesse e decidiu terminar a carreira. “Gostaria de ter terminado de outra forma. Queria jogar mais alguns anos, mas tenho de aceitar as coisas como elas são. Tive algumas propostas, do Norte, mas financeiramente não compensava deslocar a minha família de Lisboa. Face a isto tive de tomar decisões e optei por terminar a carreira mais cedo do que queria. Vou regressar de vez ao Brasil.”

A meio da época, Marca Aurélio admitiu que iria sair do Restelo e que as ”contas” entre ele e o clube estavam saldadas. Volvido algum tempo, o ex. capitão mantém o mesmo discurso. “Tenho de agradecer ao Belenenses o reconhecimento que tenho hoje. No entanto, penso que sempre fui um bom profissional e tudo fiz para ajudar o clube. Neste último ano, estive a recuperar de uma lesão grave, a primeira da minha carreira, e foram tomadas determinadas decisões que posso concordar ou não. Ultrapassei a situação. Queria jogar mais e percebi que no Belenenses isso não iria acontecer. Por isso resolvi sair. Triste? Não. Isto já aconteceu a outros colegas meus. A vida continua.”
Com a saída de Marco Aurélio, o balneário fica sem referências: “Há atletas que vão cumprir essa tarefa. O Filgueira, o Wilson e outros que podiam ser importantes também saíram. Quem fica… há-de passar essa mística aos mais jovens.”

Marco Aurélio licenciou-se em Gestão de Empresas, mas a carreira de futebolista sobrepôs-se ao curso. Agora, de regresso a Ribeirão Preto (cidade de 600 mil habitantes no interior de São Paulo), o guardião diz querer ser empresário: “Há possibilidades de me estabelecer na área do comércio. Vou ver o mercado e decidir. É mais fácil estabelecer-me no Brasil. Lá, o real vale quase três vezes menos do que o euro…” (Fonte Record impresso)