Belenenses: Balanço da época 2006-07.

Depois de se ter realizado a final da taça de Portugal, pensamos ser pertinente realizar um balanço da época no que diz respeito à liga 2006-07.

Antes de mais, importa relembrar que o primeiro terço da época foi muito difícil. O Belenenses entra na Liga com uma vitória frente ao Setúbal, mas seguem-se 4 jogos sem vencer: empates com Académica e Naval e derrotas com Boavista e Nacional. O Belenenses chegou à 6ª jornada (com um jogo a menos) com somente 5 pontos e um pouco confortável 12º lugar da classificação.
Nuvens negras instalaram-se por sobre o Restelo, e a época 2006-07 assemelhava-se cada vez mais à anterior.

Seguem-se ainda assim duas vitórias moralizadoras frente ao Paços e ao Aves, série positiva imediatamente quebrada com a derrota em casa com o Leiria e com nova derrota desta feita na Amadora – perante uma assistência maioritariamente composta por adeptos do Belenenses. Perante 11 pontos conquistados à 10ª jornada, a massa adepta azul inquietou-se e tudo o que esperava para o restante campeonato era não descer “novamente” de divisão. O clima de preocupação foi agravado devido ao calendário que restava completar na 1ª volta do campeonato: jogos com porto, braga, marítimo, Sporting e duas vezes com o Benfica. O futuro não parecia azul…

O jogo que se seguiu trouxe nova derrota, desta feita frente ao porto, da qual resultou nova descida na classificação: 12º lugar com 11 jornadas decorridas; 11 pontos obtidos que significavam somente 1 ponto mais em relação ao desastre de 2005-06 (10 pontos à 11ª jornada).


Na realidade, o primeiro terço do campeonato foi o período da experimentação, ou se se quiser, o período no qual Jesus desconhecia ainda em parte o real valor dos jogadores à sua disposição.

Fruto desta realidade, Jesus efectuou diversas experiências que, como experiências que eram, ofereceram poucas garantias de êxito. Atentemos ao primeiro 11 de Jesus, no jogo da 2ª jornada que opôs o Belenenses ao Vitória de Setúbal: Costinha; R. Alvim; Nivaldo; Rolando; Amaral; R. Amorim; Silas; Zé Pedro; Roma; Fernando; Manoel.

Tratou-se de uma equipa muito semelhante ao 11 mais utilizado por Jesus no segundo terço da liga em termos defensivos e de meio-campo, mas substancialmente diferente na dianteira. Nota-se igualmente a ausência de um trinco com características mais defensivas, sendo o lugar à frente da dupla de defesas centrais ocupado por R. Amorim.
No ataque, um tridente ofensivo composto por Roma, Fernando e Manoel. Escolhas mais do que duvidosas poderíamos dizer hoje, mas que naquele momento, a priori, faziam algum sentido.
Perante a má exibição de Manoel, o brasileiro é o único sacrificado no 11 titular à 3ª jornada, verificando-se a entrada de Cândido Costa.
Apesar do empate em Coimbra, Jesus leva a cabo, na 4ª jornada (0:0 com a Naval), uma pequena revolução na defesa – saída de Amaral e Rolando e entradas de Gaspar e Sousa – trocando ainda Cândido C. por Dady. Regresso de Jesus ao esquema de 4x3x2x1, depois da hesitação no embate com a Académica.

Apesar de não ter ainda um 11 ideal claramente formado, Jesus não altera muito os titulares para o jogo da 5ª jornada com o Boavista: entradas de Mancuso e Manoel, para os lugares do castigado Zé Pedro e de Dady.

Na jornada seguinte Jesus abdica novamente de Dady, e coloca um 11 sem ponta-de-lança – ataque entregue a Silas, Eliseu e Roma. Sem grande surpresa perante tais escolhas, o Belenenses perde no Funchal com o Nacional.
Era tempo de fazer actuar novamente Dady, e os azuis do Restelo vencem o Paços por 2:1.
A estratégia manteve-se na 8ª jornada, e sucede nova vitória, desta feita na Vila das Aves.
Seguem-se 3 jogos, e 3 derrotas, nos quais Jesus falha claramente nas opções iniciais: no Restelo frente ao Leiria, com Pinheiro e Roma no 11, e ainda mais flagrantemente no jogo da Amadora da 10ª jornada – pequena revolução no 11 que engloba as entradas a titular de Faísca, Manoel e Fábio Januário e a ausência de um trinco com características defensivas; este lugar é ocupado por Ruben Amorim, verificando-se ainda o recuo de Zé Pedro. Nova chamada a titular de Manoel no jogo com o Porto, desta vez acompanhado por Roma.

Depois de 11 jornadas muito fracas – 11 pontos e 12º lugar da classificação – Jesus entende ser tempo de acabar de vez com as experiências: Manoel é definitivamente afastado do 11 (e posteriormente do plantel) que assume finalmente as características que tanto sucesso veio a ter: dois triângulos no meio-campo e no ataque, compostos, respectivamente, por Sandro G., Ruben Amorim e Zé Pedro e por Silas, Cândido Costa e Dady.

Resultado: brilhante vitória em Aveiro, e início de uma série de jogos muitos bons, se exceptuarmos o jogo com a Académica.

De facto, a vitória em Aveiro constitui um verdadeiro ponto de viragem, seguindo-se nova vitória, desta feita no Restelo, frente ao Braga e goleada imposta ao Marítimo, no Funchal.
O céu adquire nova tonalidade azul, e as nuvens são afastadas para outras paragens.
Apesar da derrota na luz – jogo em atraso – e do empate caseiro com o Sporting, o Belenenses de Jesus vira a 1ª volta numa tranquila 9ª posição da liga, fruto de 21 pontos obtidos em 6 vitórias e empates.

Segue-se um momento menos bom, com somente 3 pontos conseguidos em 3 jogos: vitória em Setúbal e derrotas caseiras com Benfica e Académica - pelo meio, vitória em Gondomar e passagem aos oitavos de final da Taça de Portugal.
Resultado: à 18ª jornada a turma de Belém somava 24 pontos – 9º lugar - a somente 4 pontos dos lugares europeus.
Com os lugares europeus nivelados por baixo, muitos acreditavam nesta fase na possibilidade de uma classificação nos 5 primeiros da liga.

A percentagem de menos crentes, depois dos 4 jogos que seguiram, baixou certamente de forma considerável: 10 pontos obtidos fruto de 3 vitórias e 1 empate, num total de 34 pontos que situaram finalmente o Belenenses nos lugares europeus da classificação – 5º lugar a 1 só ponto do 4º. Mais importante era todavia a presença nas meias finais da taça, depois das vitórias de Fevereiro em Odivelas e Bragança.

Seguiram-se 3 saborosas vitórias nas jornadas 23, 24 e 25 (frente a Aves, Leira e estrela da amadora), que colocaram o Belenenses com 43 pontos – o confortável 4º lugar da classificação (o braga somava 39 pontos) garantiram desde logo o regresso à Europa do futebol.

Os 14 jogos que medeiam a 12ª jornada à 25ª foram simplesmente brilhantes: 10 vitórias (5 das quais consecutivas), dois empates e somente suas derrotas (benfica e académica), que significaram 33 preciosos pontos. O porto, por exemplo, somou 28 pontos no mesmo período, Sporting 29 e o Benfica 31, ou seja, menos 5, 4 e 2 pontos respectivamente que os homens comandados por Jesus.

Pelo meio, poucos dias depois da vitória caseiro face aos estrelistas, a cereja em cima do bolo: os azuis do Restelo receberam e venceram o braga, o que significou a presença na grande final do Jamor do passado Domingo.

Segue-se, em termos de liga, um período de natural descompressão, que se traduz numa má exibição no dragão – derrota por 3-1.
Ainda assim, o Belenenses mantêm a sua recentemente adquirida forma no Restelo, e vence o Beira-Mar por 2-0 na jornada 27.
O embate em braga – decisivo para a luta pela 4ª posição – trouxe novo dissabor, significando o golo bracarense mesmo ao cair do pano a provável perda, que se confirmou depois, de uma posição na tabela classificativa.
Ainda antes da visita a Alvalade, o Belenenses despede-se do Restelo com mais uma vitória frente ao Marítimo, ou seja, os azuis somaram 5 vitórias nos últimos 5 jogos perante o seu público.

Apesar da disputa do 4º lugar estar ainda na ordem do dia, a última jornada da liga serviu apenas para cumprir calendário – pesada derrota por 4-0 frente ao Sporting.

Tendo em conta a condição de visitado/visitante, o Belenenses 2006-07 surge com alguma "aversão" inicial ao Restelo, visto ter somado somente 11 pontos nos primeiros 10 jogos - 3 V; 2 E; 5 D. Assim, os azuis venceram o vitória de Setúbal na 2ª jornada (2:0), o paços de ferreira na 7ª (também 2:0) e o Braga na 13ª jornada (mais uma vez por 2:0), e empataram com a naval (4ª jornada) e com o sporting (15ª jornada), registando-se um resultado nulo - 0:0 - em ambos os jogos. Marcaram 8 golos e sofreram outros tantos.
Cinco vitórias no final da época mudaram substancialmente esta realidade: os 15 pontos obtidos frente a Nacional, Aves, Estrela, Beira-Mar e Marítimo acabaram por significar um total de 26 pontos caseiros, ou seja, 3 mais em relação aos obtidos enquanto visitante. Não obstante este último fôlego, o 4º lugar foi perdido em parte devido à má prestação caseira – menos 2 pontos que o braga.

Já fora de casa, o campeonato dos azuis foi excelente até determinado momento: 23 pontos somados até à 24ª jornada - 7 vitórias (aves, beira-mar, marítimo, Setúbal, Naval, Paços e Leiria), 2 empates (académica e boavista) e 3 derrotas (benfica, nacional e estrela). O brilhantismo destes números ficam ligeiramente empobrecidos devido às 3 derrotas forasteiras finais – porto, braga e sporting.

Em termos de registo de golos marcados e sofridos, o Belenenses somou um saldo positivo de 36 marcados e 29 sofridos, o que representa algum equilíbrio: 5º melhor ataque e também a 5ª melhor (menos batida) defesa. Os azuis não sofreram golos em 15 das 30 jornadas disputadas, não tendo marcado qualquer golo somente em 8 jornadas. Este equilíbrio defensivo/ofensivo é igualmente notório quando constatamos que somente em 10 jogos o Belenenses marcou mais que um golo (facturou 3 ou mais golos em 3 ocasiões: marítimo e naval (fora) e estrela em casa.

Quanto aos marcadores de serviço, dois jogadores destacaram-se – Dady com 12 golos e Zé Pedro com 8. De resto, se a estes juntarmos os 4 golos de Nivaldo e de Garcés e os 3 de Silas, verificamos que 5 jogadores marcaram 31 golos num total de 36.

Quando comparadas as 5 últimas épocas azuis, a de 2006-07 surge claramente como a melhor: tendo em conta a 30ª jornada, o Belenenses de 2006-07 somou mais 11 pontos que a melhor das épocas passadas (2002-03, na qual o Belenenses somava 38 pontos.) A diferença de pontos sobe quando consideramos as épocas que se seguiram: mais 18 pontos que em 2003-04 (31 pontos somados), e mais 15 que em 2005-06 (34 pontos somados).

Noutro parâmetro importante, a condição de visitado ou visitante, os resultados do Belenenses 2006-07 são completamente antagónicos quando comparados com as épocas anteriores: em termos caseiros só a época de 2004-05 foi melhor (10 vitórias contra 8 em 2006-07), sendo os resultados obtidos fora do Restelo fenomenais quando comparados com às 4 épocas passadas: as 7 vitórias forasteiras de 2006-07 ganham contornos ainda mais sensacionais quando comparadas com as duas de 2002-03, 2003-04 e 2004-05.

Como foi possível obter estes resultados?
Uma explicação surge acima de todas as outras: o factor J.; de Jorge; de Jesus.
Atentemos ao factor jogadores. O 11 mais utilizado por Jesus foi muito semelhante ao utilizado – ou à disposição - por Couceiro. Dos 10 jogadores de campo mais utilizados, apenas 3 não se encontravam no plantel no ano passado: Cândido Costa, Rodrigo Alvim e Nivaldo (e também Garcés a partir de determinada altura). Tendo em conta que saíram Meyong – o melhor marcador da liga no ano passado – e também Pelé, um excelente central, é evidente que o plantel actual não é superior ao do ano passado: quando muito equivalente. Por outro lado, parece evidente que alguns jogadores foram quase completamente recuperados ou reciclados por Jesus. O caso mais flagrante é o de Dady. No Belenenses desde a reabertura do mercado do ano passado, o cabo-verdiano teve poucas oportunidades de jogar com Couceiro, preterido mesmo por jogadores como Ceára.
Com Jesus, Dady foi quase sempre titular, tendo obtido 12 importantes golos na liga. Outro exemplo óbvio é José Pedro.
O médio não fez parte do 11 titular de Couceiro – não actuou sequer em 9 jogos – e só à 26ª jornada entrou no 11 para não mais sair.
Marcou em toda a época passada 4 golos
Nesta época foi um dos indiscutíveis de Jesus, tendo apontado 8 golos, um número impressionante para um médio.
A evidente melhoria da época transacta para a que agora terminou é ainda notória em jogadores como Ruben Amorim, Rolando e muito especialmente Silas.

Foi, globalmente, uma época brilhante se tivermos como termos de comparação as últimas temporadas.
Os azuis do Restelo alcançaram o 5º lugar da classificação, fruto de 49 pontos – 15 vitórias, 4 empates e 11 derrotas. Foram marcados 36 golos contra os 29 sofridos.