O "make of" de uma coreografia furiosa.

Jogo grande é, quase sempre, sinónimo de coreografia. E coreografia é sinónimo de… trabalho! Mais: de trabalho “invisível”. De facto, uma coreografia requer normalmente muitas horas de trabalho que se estendem por diversas semanas.
Pretendemos com este artigo “abrir” as portas da Fúria Azul “invisível”, dar a conhecer aos associados belenenses o trabalho dos ultras na preparação de uma coreografia, descrever sucintamente todo um processo que ultrapassa em muito as duas horas nas quais decorrem os jogos de futebol.

Tudo se inicia com uma ideia (ou com várias ideias), com um projecto ainda muito cru e incipiente que se apresenta como ponto de partida para algo que será desenvolvido colectivamente. É a fase do “papel”, o período embrionário de uma coreografia; nesta “fase 1” o jogo encontra-se ainda a cerca de um mês de distância.
Portanto, algum furioso pensa numa ideia para uma coreografia e depois apresenta-a aos outros elementos do grupo. Estes em conjunto vão desenvolvê-la ou, caso a ideia não seja de agrado da maioria, pensar em algo diferente.

No jogo da meia-final da taça de Portugal frente ao braga a “fase 1” da coreografia foi relativamente “pacífica”: alguns elementos da F.A. da Margem Sul pensaram elaborar um tifo no qual surgissem caravelas e também a inscrição “Rumo ao Jamor”. A ideia foi bem acolhida, surgindo posteriormente a ideia complementar para a frase: “Armada Invencível Rumo ao Jamor.”

A inscrição obrigaria a elaborar não uma mas várias caravelas, sendo necessário de seguida encontrar um desenho que pudesse ser utilizado e definir o tipo de letra para a frase.

Simultaneamente, teria que se definir a dimensão dos diferentes elementos da coreografia, a forma como seriam dispostos na bancada e os materiais a utilizar.
Nesta fase (que podemos chamar de “Fase 2”) surgiram duas abordagens diferentes: alguns furiosos propuseram que o casco da caravela deveria ser preso à rede no sector da Fúria – o que pretendia “colocar” a bordo os ultras que apresentariam estandartes – enquanto a vela da caravela seria elevada a partir da pala do Estádio com o recurso a cordas. Acabou por prevalecer a ideia original, ou seja, as caravelas seriam elevadas na totalidade a partir da pala, sendo distribuídos em três sectores fitas plásticas azuis que pretendiam representar o mar.
A frase seria dividida em duas partes: a primeira (Armada Invencível) seria presa junto à pala da bancada central, enquanto a segunda (Rumo ao Jamor) seria colocada na rede que delimita a bancada dos sócios da pista de atletismo.

Entretanto foram escolhidas – de entre várias hipóteses - as caravelas a utilizar, ficando igualmente definido que as mesmas seriam feitas em plástico.
A manga plástica apresenta-se como uma solução quase obrigatória: antes de mais é relativamente barata, condição indispensável para qualquer material a utilizar uma vez que a Fúria Azul suporta na totalidade as despesas a efectuar e o dinheiro que provêm da venda de material alusivo ao grupo e também do Azulão (únicas fontes de receita furiosas para além da cotização anual) não é muito.
Em segundo lugar, a manga plástica permite alguma “grandiosidade”, isto é, elaborar coreografias de grande dimensão.
Definidos todos os aspectos “teóricos” é tempo de colocar as mãos na “massa”, ou seja, começar a elaborar os diversos elementos que compõem a coreografia – ainda antes foi necessário deslocarmo-nos a Leiria para adquirir a manga plástica indispensável para a elaboração do tifo.

Depois de cumpridos todos os requisitos prévios – definição do tifo e compra dos materiais – entrou-se na “Fase 3”: aproveitando o feriado pascal, alguns ultras começaram a elaborar as frases.
O processo é relativamente simples: as frases são fotocopiadas em acetato, e posteriormente – recorrendo a um retroprojector – projectadas numa parede com a dimensão desejada. Seguidamente o plástico é preso nessa mesma parede com vista a ser desenhado o contorno de cada uma das letras. Finalmente recortam-se as letras que são posteriormente coladas num enorme plástico – neste caso de 45 metros de lado por 3 metros de alto – previamente preparado.
As duas frases demoraram cerca de uma semana a ser produzidas, sendo um processo relativamente fácil se bem que moroso.

O pior, na realidade, ainda estava para vir: a elaboração das caravelas!
Mais uma vez foi seguida a mesma lógica: fotocopiou-se o desenho escolhido num acetato com vista a projectá-lo sobre o plástico.
Acontece que o desenho das caravelas não era simples, situação agravada pela dimensão das mesmas: a caravela principal teria que ter 6 metros de altura.
Perante tais dimensões os ultras foram obrigados a trabalhar fora da sede da F.A. o que é sempre difícil.
Teria que se trabalhar no polidesportivo, e exclusivamente de noite, uma vez que a luz do dia não se coaduna com a projecção seja do que for. Referir que seria necessário trabalhar de noite significa neste caso trabalhar pela madrugada dentro, uma vez que o polidesportivo
é diariamente utilizado em treinos de diversas modalidades, treinos esses que se prolongam por vezes até cerca das 23 horas.

Para além de tudo, verificámos que o desenho das caravelas era demasiado complexo. Depois de transportarmos para o polidesportivo todos os materiais necessários, de ser prendido o plástico da rede e tudo o mais, compreendemos que seria impossível desenhar as caravelas: para além do desenho ser demasiado complexo, a fotocopia no acetato tinha pouca qualidade e o desenho projectado assemelhava-se a um conjunto de riscos indecifráveis.
Perante a frustração generalizada, fomos obrigados a arrumar tudo a regressar a sede sem que tenha sido realizad0 qualquer avanço nas caravelas.

O desenho teria de ser simplificado. Entretanto já se haviam perdido alguns dias preciosos.
O fim-de-semana chegou rapidamente. O grande jogo era na 5ª Feira, ou seja, teríamos 4, 5 dias para fazer as caravelas e completar o que restava fazer.
Condicionados com as circunstâncias que já descrevemos, o trabalho avançou lentamente, mas depois de três noites seguidas de trabalho colectivo conseguíramos completar as velas e parte dos cascos.

Quarta-feira: a menos de 24 horas do grande jogo o trabalho a realizar era ainda muito, e a pressão ainda maior.
Trabalhando pela madrugada dentro, dezena e meia de furiosos conseguiram todavia completar a tarefa a que se tinham proposto em nome do grupo e principalmente em nome do grande Clube de Futebol “Os Belenenses”.
No dia seguinte, todo o mundo português assistiu pela televisão à grandeza belenense dentro e fora das 4 linhas. Acreditámos sempre, desde Paredes, que estaríamos no Jamor: merecemos estar na grande final da taça de Portugal!

Apesar do trabalho de semanas ter uma exposição de poucos segundos valeu a pena todo o esforço e suor que dezenas de ultras da Fúria Azul despenderam dia após dia. O Belenenses merece tudo!!!
Com o Jamor a pouco mais de um mês de distância, e na certeza que a Fúria irá realizar um grande espectáculo, é já tempo de começar a trabalhar para concretizar este desígnio. Após o jogo de Sábado com o Beira-mar realizar-se-á uma reunião preparatória que visa precisamente definir a coreografia a apresentar na grande final.

TODOS, sem excepção, são bem-vindos.
Vamos fazer do dia 27 de Maio algo que jamais esqueceremos! A história da Fúria Azul e do Belenenses está a ser escrita: não fiques à espera de lê-la num livro. Ajuda a escrevê-la!!!