O elefante está moribundo e a receita passa por retirar uma mosca do seu dorso?

Acabo de saber, via rádio, que a tão esperada demissão ou afastamento de Carvalhal está consumada. Realizar-se-á às 16 horas de hoje, no Restelo, uma conferência de imprensa onde deverá ser oficializada esta notícia.

Como é óbvio, o elefante a que me refiro no título deste post é o Belenenses, e a mosca precisamente o Carvalhal, mas já lá vamos.

Tive a oportunidade de ontem me deslocar à Vila das Aves e assistir ao jogo que ditou o nosso afastamento da Taça de Portugal. Já li nos diferentes blogs azuis "milhares" de comentários sobre o jogo, de associados que na verdade não assistiram ao encontro já que não seriam mais de 20 os belenenses presentes.

Foi um mau jogo sobretudo na primeira parte, com Carvalhal mais uma vez a pretender revolucionar, sem sucesso, o 11 inicial.
Verificou-se nomeadamente a inclusão de Romeu, Amorim e Araújo nos titulares, com o regresso de Gaspar ao centro da defesa e Faisca de novo na lateral.

O meio campo composto por José Pedro, Amorim, Araújo e Sandro foi mais uma vez claramente inferior ao meio campo adversário com sobretudo araújo sempre "perdido" nas quatro linhas. Por sua vez o ataque, nos primeiros 45 minutos, revelou-se igulamente inócuo.

Consequentemente, o aves entrou a dominar perante a nossa apatia e falta de entrega e, sem surpresa, marcou através de uma grande penalidade que me pareceu existente, fruto de uma defesa difícil para a frente de Pedro, na sequência de um livre perigoso infantilmente concedido por Araújo.

Quase imediatamente este último é substitúido por Januário que imprimiu nova dinâmica ao ataque azul.
A partir do golo, o Aves recuou deliberadamente para o seu meio campo, limitando-se até ao final do encontro a defender e contra-atacar ocasionalmente, quase sempre sem perigo.

Não obstante ter dominado o encontro nos últimos 15 minutos da primeira parte, o Belenenses nunca foi capaz de criar grandes dificuldades aos da casa, com excepção para um ou dois remates perigosos de José Pedro.

Na segunda metade do encontro as caracteristicas da partida não se alteraram substancialmente, embora o dominio azul se tenha acentuado e as oportunidades de golo se tenham avolumado. De facto a atitude dos nossos jogadores foi já outra, mais disposta a correr e a tentar efectivamente evitar a humilhação.

Tal não foi possível. Carvalhal apostou tudo o tinha para apostar, colocando Paulo Sérgio em campo e retirando Sandro, mas a bola não queria mesmo entrar, parecendo que nem três horas de jogo seriam sufucientes para alterar o resultado.

Cerca de meia-duzia de oportunidades de golo eminente foram desperdiçadas, com destaque para um desastrado mas empenhado Romeu e também para José Pedro e Meyong.

Por que perdemos então?
Culpa de Carvalhal, dos jogadores ou de ambos?
De ambos segundo nossa interpretação, mas sobretudo dos jogadores, cujo empenhamento e disponibilidade fisica deixaram muito a desejar, sobretudo no primeiro tempo. Quando jogadores de fraca qualidade não se exibem a um nível aceitável não surpreende ninguém, mas quando bons jogadores segundo opinião generalizada se arrastam é óbvio que algo estranho se passa.
Exemplo perfeito deste último exemplo de jogador é Amaral, com uma exibição simplesmente deplorável.

Regressando ao elefante e à mosca, parece-me evidente que os jogadores, por motivos alheios ao sócio comum, "fizeram a cama" a Carvalhal, ou seja, perderam intencionalmente uma série de jogos, ou pelo menos não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para ganha-los.

Se é assim, são péssimos profissionais, mesmo mercenários, limitando-se Carvalhal a ser uma vitima sem qualidade para dirigir o nosso clube, mas nunca um mau profissional.

Se porventura vencermos em Braga ou pelo menos a atitude dos jogadores se transformar radicalmente, não restam dúvidas segundo esta linha de interpretação, que alimentamos mensalmente um plantel de abutres, que necessita de ser "depenado" parcialmente em Janeiro e quase totalmente no final da época.

Todavia, se nos próximos jogos os jogadores correrem e vencerem, a massa associada azul, quase sempre de memória curta, vai esquecer rapidamente estes desaires ou associa-los na totalidade a mosca, ou seja, a Carvalhal.

Quanto ao elefante com uma sala de troféus e uma história gloriosa, continuará moribundo, com o cancro das 2000 pessoas de assistência média no Restelo a mina-lo progressivamente.

Que importa realmente ter só 5% ou 6% do total de associados - mais de 20 000 - nas bancadas do Restelo quando de ganha jogos nas 4 linhas?
Nada, segundo a generalidade dos nossos associados. O que não compreendem é que um clube é grande e vitorioso somente quando a sua componente humana é igualmente grande e participativa. Tudo o resto é areia para olhos.

Vou repetir mais uma vez o que penso: a ambição desportiva teórica da massa adepta Belenense não corresponde minimamente a sua participação efectiva na vida do clube, nem que fosse com a simples presença no Restelo nos dias dos jogos. Temos na realidade a pior massa adepta do país, mas ambicionamos ser um clube de topo em termos desportivos. Sem ovos não se fazem omeletes...

Mas tudo isto deixou já de ter importância, já que apesar do cancro continuar a consumir o elefante, a pequena mosca no seu dorso que tanta comichão fazia foi já afastada...

E eu nem gostava do Carvalhal enquanto técnico, por isso devo ser mesmo estúpido por na hora de festejar me preocupar com o facto dos mais de 20 000 associados e 200 000 (?) adeptos se terem demitido definitivamente do Belenenses nos últimos 15 ou 20 anos...