O tempo é agora...

A questão da auditoria às contas do Belenenses está na ordem do dia. O simples mencionar da palavra parecer assustar muita gente. Porquê, poder-se-á perguntar? Todos sabem a resposta...

Seja como for, este artigo (de opinião) não pretende abordar tal questão.

Olhando para o relatório de contas da SAD belenense para o exercício de 2007, alguns valores sobressaem imediatamente: 7 milhões e 462 mil euros e 7 milhões e 374 mil euros.
Correspondem a quê?
Aos orçamentos de 2007 e 2006, respectivamente.

Até aqui poucas ou nenhumas novidades. São orçamentos já deveras conhecidos, embora a sua grandeza quantitativa nos coloque a pensar...

Como é (foi) possível o Belenenses ter orçamentos tão elevados?
A resposta está nos proveitos extraordinários, ou seja, na venda de passes de jogadores.
O orçamento de 2006 contabilizava 2 milhões e 428 mil euros (correspondentes à venda dos passes de Pelé e Meyong), subindo esta verba até aos 2 milhões e 880 mil euros em 2007 (proveito obtido sobretudo com a transferência de Nivaldo para a futebol francês).

Em termos percentuais, os proveitos extraordinários representam quase 40% do orçamento total. Sendo assim, a venda de Nivaldo permitiu suportar um orçamento desse montante, sendo simplesmente catastrófico o cenário caso tal transferência não tivesse sido realizada - cerca de 2 milhões e 830 mil euros de prejuízo).

Os valores do orçamento de 2008 não são ainda conhecidos, mas aparentemente não devem diferir muito dos anteriores. Não tendo a transferência de Dady sido contabilizada no orçamento de 2007, podemos concluir que os cerca de 3,5 milhões obtidos com a venda do passe do caboverdeano entrarão nas contas da presente época. Por outras palavras, os milhões obtidos com a venda de Dady estão a "pagar" a presente época, visto deverem corresponder a cerca de 50% do orçamento.

Diz o Relatório de Contas 2007:

"... privilegiou-se a valorização dos nossos activos... que se consubstanciou na venda do passe do nosso atleta Nivaldo... e com a venda dos direitos desportivos do jogador Eduardo Gomes «Dady»"(página 6).

Consequentemente:

"Para que seja possível continuar a apresentar resultados positivos e consolidar a situação líquida desta SAD será necessário manter a política iniciada no final do exercício anterior e mantida no período em apreciação (2007) ".

Traduzindo para o vernáculo mais simples: A Belenenses SAD tem de vender passes de jogadores para ser viável (alias, como todas as restantes SAD´s portuguesas).

Perante tal realidade, é indispensável questionar-mo-nos neste sentido:

Vender quem?

O trio RRR (Rolando, Ruben e Rodrigo Alvim) já faz parte do passado no que diz respeito a esta temática; Hugo Alcântara e Cândido Costa terminam o seu contrato (no sector defensivo, até mesmo os habituais suplentes estão de igualmente de saída - Marco Gonçalves, Devic, Areias, Gonçalo Brandão e Amaral); no meio campo sucede o mesmo com Hugo Leal e Fernando; o lote termina com os emprestados de Inverno: Marco Ferreira, Edson, Meyong e Jankauskas.

Inclusive Gabriel Gomez encontra-se emprestado, tendo o Belenenses que desembolsar 300 mil euros se desejar contar com o jogador na próxima época. Weldon encontra-se na mesma situação, mas o valor a pagar para a sua continuidade sobe até aos 500 mil euros.

Quem resta?

Silas com 31 anos; Zé Pedro; Roncatto...

Afirmou Carlos Janela em conferência de imprensa:

“Na era pós-Bosman é impensável uma administração da SAD ter deixado para a última hora a renovação do contrato com tantos jogadores. Isso é significativo em relação à qualidade da política desportiva que vinha sendo praticada e que urgia inverter. Tudo isto tem de ser feito sempre com 2 anos de antecedência em relação ao fim do contrato.”

Custe o que custar a muita gente, esta frase resume tudo, ou seja, uma total incapacidade da administração da SAD em gerir o futebol do Belenenses.

Mas e o 5º lugar do ano passado e as vendas milionárias de Nivaldo e Dady?
Em relação ao 5º lugar da classificação, tal brilharete correspondeu ao valor do orçamento azul, precisamente o 5º mais elevado da liga 2006/07.
Em relação a Dady e Nivaldo, o primeiro foi contratado por uma administração diferente e o segundo pode ser considerado um "tiro de sorte", no sentido que não teve continuidade (esta opinião certamente dará azo a criticas de alguns leitores, mas defendemo-la, ou seja, não podíamos deixar de a expressar).

De facto, dos muitos jogadores contratados na presente época, quantos se impuseram enquanto titulares "de caras"? Somente 3 jogadores. A saber Hugo Alcântara, Roncatto e Weldon (Gabriel Gomez foi muito utilizado, mas não se trata de um titular indiscutível).

Regressemos à questão apresentada pelo relatório oficial da SAD...

"Para que seja possível continuar a apresentar resultados positivos e consolidar a situação líquida desta SAD será necessário manter a política iniciada no final do exercício anterior e mantida no período em apreciação (2007) ".

Todos sabemos que a incompetência da SAD deixou "fugir" Rolando e Ruben e assim os milhões que poderiam provir das suas transferências. Ou seja, a politica de vender os activos mais valiosos não pode ser seguida quanto a estes jogadores.

Tal, todavia, não sucedeu com Rodrigo Alvim. O lateral esquerdo teve uma proposta oriunda da Alemanha no valor de 1 milhão e 250 mil euros que o Belenenses recusou. O Belenenses ou... Jorge Jesus?

É a seguinte a interpretação do Correio da Manhã em relação ao treinador do Belenenses:

"Num clube em que toda a gente com responsabilidades fugiu do caso Meyong como o diabo foge da cruz, Jorge Jesus mantém acesa a chama do glorioso. De momento, ele é o Belenenses – faz de treinador, director desportivo e presidente. E continua a somar resultados positivos".

Tratar-se-á de uma opinião descabida? Não cremos: muito pelo contrário...

Mas poderá um treinador "acumular" tais funções?
Evidentemente que não. E porquê?

Simplesmente porque um treinador tem como objectivo ter a melhor equipa possível, os melhores jogadores ao seu dispor. Assim sucedeu com Rodrigo Alvim.
Acontece que o jogador ficará livre já em Maio, porque a clausula de opção que possui não é vinculativa mas sim negociável. Evidentemente, Rodrigo Alvim recusará qualquer proposta que o Belenenses apresente visto esta não se poder comparar financeiramente com as de outros clubes.

1 milhão e 250 mil euros por 4 meses é uma proposta mais do que irrecusável: fazê-lo significa lesar gravemente o Belenenses.

É caso para se dizer: quem se segue (na direcção) que se lixe!
Mais: quem se seguir enquanto treinador do Belenenses que se lixe!

Porquê esta última frase? Então Jorge Jesus não tem contrato para o ano seguinte?
Tem, respondemos.

Mas permanecerá no Belenenses? Futurologia ou não, não acreditamos.
O dinheiro acabou, e com ele o "projecto" (se é que alguma vez existiu).
Jorge Jesus valorizou-se imensamente no Belenenses (e com inteiro mérito) não sendo crivel que não tenha propostas mais tentadoras; financeira e desportivamente falando.

E como será para a próxima época? Sem dinheiro (o orçamento terá que ser reduzido exponencialmente), treinador (a confirmar-se) e jogadores (17 terminam contrato)?

Antevemos alguns comentários a este artigo:

- Profecia da desgraça...
- Criticas injustas em momentos difíceis...
- Quebra da união indispensável...
- Então não estamos com os mesmos pontos que o 5º classificado e não ganhámos ao sporting?

Venham eles (os comentários), dizemos. Qualquer debate é sempre melhor que o silêncio mórbido...

Terminamos com um apelo (que na verdade encerra a razão de ser destas linhas):

Que todos assumam as suas responsabilidades!
Que todos as assumam já!
Quem não o fizer a 29 de Março de 2008, não o venha fazer aquando do acto eleitoral de 2009...

O tempo é agora!