Belenenses: Morte Lenta? (II parte)
2.176 espectadores em média por jogo no Restelo: é este o número da nossa vergonha.
Mas como explicá-lo?
Independentemente das constantes transmissões televisivas e a horas pouco atractivas, a verdade é que o problema é bem mais complexo.
Primeiro aspecto: o Belenenses tem vindo progressivamente a perder sócios.
No programa eleitoral do eng. Cabral Ferreira constavam dez eixos prioritários, o primeiro dos quais precisamente em relação a esta temática:
I - Retenção, recuperação e angariação de sócios (p.3).
Em relação a este aspecto, é prometida a "Materialização e reforço da campanha «Descubra os Belenenses» especialmente orientada à captação de novos associados" e também o "lançamento de uma campanha destinada à recuperação de ex. sócios."
Tal, como todos nós sabemos, não aconteceu. Todos os associados e adeptos belenenses procuraram de facto descobrir a campanha "Descubra Os Belenenses", mas tais esforços revelaram-se completamente infrutíferos visto ter-se tratado de um campanha "fantasma" de cariz eleitoralista. A acima citada campanha de recuperação, por sua vez, nunca aconteceu, sendo confrangedor quer o número de associados, quer as assistências verificadas no Estádio do Restelo. De facto, a evolução do movimento associativo revela-nos que nos mandatos do eng. Cabral Ferreira foi atingido um pico historicamente negativo - a 31 de Dezembro de 1997, ou seja, há precisamente dez anos atrás, o Belenenses tinha 20.369 associados (Fonte: boletim informativo osbelenenses de Setembro de 1999); este número manteve-se estável no início da década de 2000, sofrendo inclusive uma evolução positiva a partir do Verão de 2001 - 21.829 associados em 30 de Set. desse mesmo ano (Fonte: boletim informativo osbelenenses de Outubro de 2001).
Actualmente, o Belenenses conta com cerca de 10.000 associados (7.000 contribuintes), sendo difícil calcular quantos neste universo são associados que simplesmente praticam desporto - ou são pais de crianças que o fazem - nas instalações desportivas (piscinas e afins) do complexo do Restelo. Serão 2.000? Não custa a acreditar que o número ronde uma ordem de valores nesta ordem.
Se aceitarmos este número como próximo da realidade, a conta é tão simples como dramática: 7.000 sócios contribuintes menos 2.000 = 5.000 associados verdadeiramente belenenses.
Os tais 2.176 espectadores em média por jogo acabam, neste cenário negro, por se nos apresentarem como (tristemente) naturais.
E isto com quotas mensais baixas quando comparadas com a maioria dos clubes e após uma época desportiva fabulosa quando comparada com os anos precedentes.
Bem vistas as coisas, talvez fosse pertinente retirar o ponto de exclamação do título e substitui-lo por reticências... - "Belenenses: Morte Lenta..."
No passado mês de Agosto questionamos em entrevista o eng. Cabral Ferreira acerca de desertificação do estádio do Restelo (o Belenenses tinha defrontado o braga no Restelo, tendo sido a assistência oficial de 1.840 espectadores). Queríamos saber sobretudo quais as medidas que a direcção preconizava para alterar a situação. A resposta do eng. Cabral Ferreira foi elucidativa:
"A única maneira é a mobilização das próprias pessoas, as pessoas desejarem vir ao Restelo. Quem não desejar vir ao Restelo é muito difícil de trazer. Temos é que contar com aqueles que desejam vir".
Sem comentários.
"Criticar é fácil, pode-se dizer, sendo mais difícil apresentar propostas concretas". Certamente que este pensamento está a povoar a mente de alguns dos leitores. Fizemo-lo, aqui no BAM, em Abril: apresentamos algumas propostas concretas numa série de artigos que intitulamos "Semana Restelo Cheio". Tratam-se somente de algumas ideias que pretenderam lançar um debate, um "documento" prévio com laivos de provocação positiva. Apresenta muitas lacunas e imperfeições, mas é um exemplo - entre outros - que algo pode e deve ser feito.
Regressemos a questão número de associados/espectadores.
Enquanto a maioria dos clubes optou (obviamente) por apostar nos bilhetes de época a preços convidativos - x euros por um bilhete de época individual - o Belenenses lançou a "Quota Azul", um produto que se tem revelado "suicida".
Consiste basicamente num bilhete anual - um "livre trânsito", se se quiser, para todas as modalidades - com uma variante surreal: 3 convites por jogo de futebol.
Podíamos dizer: "Bem, com estes 3 convites, a média de assistências no Restelo irá disparar". Tal, como todos sabemos, não aconteceu: muito pelo contrário.
Se não melhorou a média de espectadores, teve um efeito perverso em relação ao número de associados contribuintes: convidou-os a deixar de o ser.
As contas são simples: com Quota Azul despendemos 25 euros mensais e temos acesso a todos os jogos do Belenenses de forma gratuita e podemos levar três acompanhantes ao futebol. Imaginemos um família - ou mesmo um grupo de amigos - de 3 associados belenenses que frequentam regularmente o Restelo. 8,5 euros de quota mensal x 3 = 25,5 euros; 6 euros de quota suplementar (um só jogo de futebol por mês) x 3 = 18 euros: total: 43 euros.
Este mesmo total chegaria aos 61,5 caso a família/grupo de amigos de 3 associados belenenses assistisse a 2 jogos por mês no estádio do Restelo.
Se a família/grupo de amigos fosse de 4 associados belenenses, a despesa mensal seria de 58 euros (um só jogo de futebol por mês) ou de 82 euros - 2 jogos de futebol por mês (isto sem contabilizar os jogos das modalidades de pavilhão).
Conclusão: muitas famílias/grupos de amigos de associados belenenses deixaram de pagar quotas (deixaram de ser sócios contribuintes), mantendo somente uma pessoa com a situação regularizada e com quota azul (os restantes elementos da família/grupo de amigos passaram a beneficiar dos tais três convites por jogo).
Alteremos novamente o título destes artigos: "Belenenses: Suicídio Lento..."
Mas como explicá-lo?
Independentemente das constantes transmissões televisivas e a horas pouco atractivas, a verdade é que o problema é bem mais complexo.
Primeiro aspecto: o Belenenses tem vindo progressivamente a perder sócios.
No programa eleitoral do eng. Cabral Ferreira constavam dez eixos prioritários, o primeiro dos quais precisamente em relação a esta temática:
I - Retenção, recuperação e angariação de sócios (p.3).
Em relação a este aspecto, é prometida a "Materialização e reforço da campanha «Descubra os Belenenses» especialmente orientada à captação de novos associados" e também o "lançamento de uma campanha destinada à recuperação de ex. sócios."
Tal, como todos nós sabemos, não aconteceu. Todos os associados e adeptos belenenses procuraram de facto descobrir a campanha "Descubra Os Belenenses", mas tais esforços revelaram-se completamente infrutíferos visto ter-se tratado de um campanha "fantasma" de cariz eleitoralista. A acima citada campanha de recuperação, por sua vez, nunca aconteceu, sendo confrangedor quer o número de associados, quer as assistências verificadas no Estádio do Restelo. De facto, a evolução do movimento associativo revela-nos que nos mandatos do eng. Cabral Ferreira foi atingido um pico historicamente negativo - a 31 de Dezembro de 1997, ou seja, há precisamente dez anos atrás, o Belenenses tinha 20.369 associados (Fonte: boletim informativo osbelenenses de Setembro de 1999); este número manteve-se estável no início da década de 2000, sofrendo inclusive uma evolução positiva a partir do Verão de 2001 - 21.829 associados em 30 de Set. desse mesmo ano (Fonte: boletim informativo osbelenenses de Outubro de 2001).
Actualmente, o Belenenses conta com cerca de 10.000 associados (7.000 contribuintes), sendo difícil calcular quantos neste universo são associados que simplesmente praticam desporto - ou são pais de crianças que o fazem - nas instalações desportivas (piscinas e afins) do complexo do Restelo. Serão 2.000? Não custa a acreditar que o número ronde uma ordem de valores nesta ordem.
Se aceitarmos este número como próximo da realidade, a conta é tão simples como dramática: 7.000 sócios contribuintes menos 2.000 = 5.000 associados verdadeiramente belenenses.
Os tais 2.176 espectadores em média por jogo acabam, neste cenário negro, por se nos apresentarem como (tristemente) naturais.
E isto com quotas mensais baixas quando comparadas com a maioria dos clubes e após uma época desportiva fabulosa quando comparada com os anos precedentes.
Bem vistas as coisas, talvez fosse pertinente retirar o ponto de exclamação do título e substitui-lo por reticências... - "Belenenses: Morte Lenta..."
No passado mês de Agosto questionamos em entrevista o eng. Cabral Ferreira acerca de desertificação do estádio do Restelo (o Belenenses tinha defrontado o braga no Restelo, tendo sido a assistência oficial de 1.840 espectadores). Queríamos saber sobretudo quais as medidas que a direcção preconizava para alterar a situação. A resposta do eng. Cabral Ferreira foi elucidativa:
"A única maneira é a mobilização das próprias pessoas, as pessoas desejarem vir ao Restelo. Quem não desejar vir ao Restelo é muito difícil de trazer. Temos é que contar com aqueles que desejam vir".
Sem comentários.
"Criticar é fácil, pode-se dizer, sendo mais difícil apresentar propostas concretas". Certamente que este pensamento está a povoar a mente de alguns dos leitores. Fizemo-lo, aqui no BAM, em Abril: apresentamos algumas propostas concretas numa série de artigos que intitulamos "Semana Restelo Cheio". Tratam-se somente de algumas ideias que pretenderam lançar um debate, um "documento" prévio com laivos de provocação positiva. Apresenta muitas lacunas e imperfeições, mas é um exemplo - entre outros - que algo pode e deve ser feito.
Regressemos a questão número de associados/espectadores.
Enquanto a maioria dos clubes optou (obviamente) por apostar nos bilhetes de época a preços convidativos - x euros por um bilhete de época individual - o Belenenses lançou a "Quota Azul", um produto que se tem revelado "suicida".
Consiste basicamente num bilhete anual - um "livre trânsito", se se quiser, para todas as modalidades - com uma variante surreal: 3 convites por jogo de futebol.
Podíamos dizer: "Bem, com estes 3 convites, a média de assistências no Restelo irá disparar". Tal, como todos sabemos, não aconteceu: muito pelo contrário.
Se não melhorou a média de espectadores, teve um efeito perverso em relação ao número de associados contribuintes: convidou-os a deixar de o ser.
As contas são simples: com Quota Azul despendemos 25 euros mensais e temos acesso a todos os jogos do Belenenses de forma gratuita e podemos levar três acompanhantes ao futebol. Imaginemos um família - ou mesmo um grupo de amigos - de 3 associados belenenses que frequentam regularmente o Restelo. 8,5 euros de quota mensal x 3 = 25,5 euros; 6 euros de quota suplementar (um só jogo de futebol por mês) x 3 = 18 euros: total: 43 euros.
Este mesmo total chegaria aos 61,5 caso a família/grupo de amigos de 3 associados belenenses assistisse a 2 jogos por mês no estádio do Restelo.
Se a família/grupo de amigos fosse de 4 associados belenenses, a despesa mensal seria de 58 euros (um só jogo de futebol por mês) ou de 82 euros - 2 jogos de futebol por mês (isto sem contabilizar os jogos das modalidades de pavilhão).
Conclusão: muitas famílias/grupos de amigos de associados belenenses deixaram de pagar quotas (deixaram de ser sócios contribuintes), mantendo somente uma pessoa com a situação regularizada e com quota azul (os restantes elementos da família/grupo de amigos passaram a beneficiar dos tais três convites por jogo).
Alteremos novamente o título destes artigos: "Belenenses: Suicídio Lento..."
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