Belenenses 0 : Estrela 0 (ou o retrato de uma insuportável mediania)

Nulo no resultado e nulo no espectáculo. A partida de hoje à noite no Restelo foi, apetece dizer, penosa para todos quantos (1500?) desafiaram o frio que se fez sentir em Lisboa.

Jogo sem chama, arte e engenho de ambas as partes, com os remates e as situações de perigo a rarearem. Weldon, muito perto do intervalo, ainda procurou espantar a mediocridade, mas a fortuna do brasileiro esbarrou de encontro ao poste esquerdo da baliza defendida por Nelson.

E foi tudo. Os guarda-redes foram sempre meros espectadores, limitando-se a assistir a uma partida disputada essencialmente a meio-campo.

E foi precisamente neste sector que começou e terminou as expectativas de um bom resultado azul. Sendo evidente a fragilidade do sector avançado belenense, é imprescindível que os centro-campistas dos Azuis do Restelo se exibam a bom nível (tal como sucedeu frente ao Leixões nos primeiros 30 minutos do encontro). Tal não sucedeu hoje, nem pouco mais ou menos. Hugo Leal nunca conseguiu ter bola, ser influente na organização do jogo azul ao nível das transições meio-campo ataque, sucedendo o mesmo com Zé Pedro. O número 11 belenense não repetiu as boas exibições das últimas partidas, sendo evidente que a sua falta de vigor físico não se coadunava com a estratégia estrelista. A turma da Amadora preencheu muito bem o seu meio-campo defensivo, numa estratégia de visou antes de mais não sofrer golos - na realidade, o Estrela obteve o sempre procurou: um ponto.

O terceiro elemento mais criativo do meio azul, Silas, persiste nas suas exibições medianas, sendo igualmente incapaz de fazer a diferença.

Assim, "sem" meio-campo em termos ofensivos, o Belenenses de hoje foi obrigado a constantes passes longos com origem na sua zona defensiva. Tal "estratégia" esbarrou todavia no desacerto patenteado pelos laterais azuis, sendo inúmeros os passes falhados pelo aniversariante Alvim e por Amaral.

No eixo, Rolando e Hugo Alcântara revelaram-se sempre eficazes a defender, tarefa todavia muito facilitada pela total inoperância estrelista. À sua frente, Ruben Amorim foi dos menos maus da equipa, embora com a ausência de Gabriel Gomez o médio português se encontre mais limitado tacticamente.

Quanto a dupla ofensiva brasileira mais do mesmo, ou seja, pouco mais que nada. Assim, com excepção do tal remate ao poste e de uma arrancada de Weldon que terminou à entrada da grande área estrelista - o número 7 belenense viu o cartão amarelo por suposta simulação - foi um autêntico deserto que se instalou na frente ofensiva dos azuis.

Se os primeiros 45 minutos se resumem à bola à barra, o segundo tempo trouxe somente um remate perigoso de Silas - o livre de Hugo Leal às malhas laterais não chegou realmente a assustar Nelson.

Quanto a Jorge Jesus fez o que lhe competia, ou seja, procurou mudar o curso dos acontecimentos com diversas alterações que teoricamente reforçavam o cariz ofensivo da equipa - tal sucedeu com as entradas de Fernando e Amaral para os lugares de Hugo Leal e Amaral (já a saída de Weldon - porque não Roncatto? - e a entrada de João Paulo tratou-se de uma alteração não táctica).

Concluindo, os optimistas poderão afirmar que o Belenenses não perde há seis jornadas, enquanto os pessimistas retorquirão que já não vence há quatro. Nós, por nossa parte, afirmamos pragmaticamente que ambas as afirmações são verdadeiras, mas que 3 pontos no mesmo número de jogos em casa significam pura e simplesmente mediania: classificativa e exibicional. Mais: tal (insuportável) mediania não deixa de ser o reflexo de uma equipa sem chama e garra, uma equipa amorfa, cansada e sem grandes aspirações.

Os (merecidos) assobios do final da partida castigam muito mais esta tal falta de garra e ambição do que propriamente os dois pontos merecidamente perdidos (quem não se lembra dos aplausos da época passada após a derrota com o Leiria no Restelo?).