Opinião BAM: O Belenenses do presente e o Belenenses do Futuro.

No passado dia 25 de Setembro publicamos neste mesmo espaço um artigo que intitulamos de "O despertar de um grande clube".
Tal título deveu-se a parangona utilizada para introduzir um artigo, de Setembro de 1987, acerca do Belenenses europeu.

"Que é o Belenenses 87/88", perguntava o jornalista, para imediatamente responder: "Um clube em vias de recuperação, ultrapassadas sucessivas crises", que se encontra de novo "no primeiro plano do futebol e do desporto português".

Até ali o Belenenses era um clube "sem dinheiro, com dívidas, sem jogadores. É a história antiga do Belenenses, hoje já encaminhado, novamente, para ocupar o seu lugar no primeiro plano do futebol português, não obstante se saber que se desce rapidamente e se sobe mais devagar, muito mais lentamente".

Estas palavras de Márcio Santos, tal como salientamos no artigo acima citado, revelaram-se sábias, visto o Belenenses ter nessa época obtido um terceiro lugar no campeonato nacional, na temporada seguinte vencido uma taça de Portugal, e dois anos volvidos descido de divisão.

Como também já referimos, o Belenenses parece alternar ciclos positivos com outros extremamente negativos. Depois de uma brilhante 2ª metade da década de 1980 - pelo menos sob a aspecto desportivo - António Moita, em 1991, falava que havia encontrado "um passivo de um milhão de contos e uma gestão extremamente deficitária".

Se recuarmos até a década de 1970, verificamos igualmente que o Belenenses obteve resultados desportivos impressionantes para a época - 2º lugar no campeonato nacional em 1972/73 e estreia na taça UEFA no ano seguinte; 3º lugar em 1975/76 e meritório confronto com o Barcelona, também para a taça UEFA, na temporada que se seguiu; 5º lugar em 1977/78 e em 1979/80... - tendo descido de divisão, pela primeira vez na sua história, na época de 1981/82 (o alarme soara em Maio de 1981, entrando mesmo os jogadores azuis em greve devido à falta de pagamento).

Porquê trazemos novamente este artigo – sendo ele tão recente – "à primeira página?" do BAM?

Dois motivos:

Antes de mais, e não obstante a notícia não nos entristecer de todo, a situação do boavista que, relembramos, foi campeão à meia dúzia de anos. Nos recentes debates televisivos acerca da crise boavisteira, uma frase, da autoria de José Lello, ficou-se-nos na memória:

"O boavista quando se sagrou campeão havia tido um orçamento de 21 milhões de euros, orçamento esse que actualmente ficou reduzido a 4 milhões".

De facto, desce-se rapidamente e sobe-se mais devagar, muito mais lentamente...

Por outro lado, recentemente foi tornado público que o orçamento do Belenenses em 2006/07 havia rondado os 7,5 milhões de euros.

Não se tratou tão somente do maior orçamento da história do Belenenses, mas também do 5º maior orçamento de entre os clubes da liga portuguesa – o orçamento do braga rondou os 11 milhões de euros na época transacta.

Não sendo o dinheiro tudo, o que é certo é que os cinco maiores orçamentos escalonaram-se por uma ordem de grandeza nas cinco primeiras posições da liga, verificando-se somente uma troca entre benfica e sporting.

Todavia, a realidade nua e crua dos números foi sucessivamente "negada" pelos responsáveis belenenses, nomeadamente através de Jorge Jesus.

Um exemplo: "Eu sei os jogadores, dentro da capacidade económica do Belenenses, que podemos ir buscar. Nós praticamente fazemos milagres. Contratamos jogadores ao preço dos juniores em Portugal e isto é um risco que se corre (Jorge Jesus em declarações ao B.A.M.)"

"Marketing" à parte – até os treinadores actualmente têm que se auto-promover – a verdade é que o aparentemente extraordinário 5º lugar da época passada não foi assim tão milagroso como a determinada altura todos acreditamos ser.

Enfim…

Mais importante é certamente a sustentabilidade económico-financeira do Belenenses, ou seja, gerar receitas iguais ou superiores às despesas.

Sabemos que na desastrosa época de 2005/06 tal não aconteceu: muito pelo contrário. O orçamento foi semelhante ao do ano passado, o que representou, por exemplo em termos de Segurança Social e Impostos, dívidas na ordem dos 3 milhões de euros.

Sabemos também que as receitas ordinárias do clube/SAD nem pouco mais ou menos são compatíveis com orçamentos de tal ordem de grandeza, ou seja, existe uma dependência enorme das receitas extraordinárias, leia-se venda do passe de jogadores.

É uma realidade que atravessa transversalmente a generalidade dos clubes, como se pode comprovar pelas vendas do Belenenses (Nivaldo e Dady) e do braga, por exemplo, cuja venda de Kim, Diego Costa, João Pedro, Cezinha e Luís Filipe renderam à SAD bracarense cerca de 5,6 milhões de euros.

Acontece que tais receitas extraordinárias são compreensivelmente muito imprevisíveis, tendo os clubes, o Belenenses neste caso, que necessariamente diversificar as suas fontes de receita.

Os exemplos são inúmeros (o próprio Belenenses, o boavista, o Vitória de Guimarães): o sucesso baseado no crescimento não sustentado tem um prazo de vida muito reduzido e, simultaneamente, compromete seriamente o futuro dos clubes.

A fórmula para o sucesso é de todos conhecida:

1 – Aposta no marketing como forma de atrair novos (e ex.) sócios. O aumento da massa associativa e da assistência média dos jogos da liga no Restelo em 1000 sócios/espectadores representaria só por si uma receita anual de 200 mil euros;


2 – Implementação de um departamento comercial eficaz. A publicidade actualmente representa uma fonte de receita que não pode ser desprezada. Nesta época, por exemplo, as camisolas do Belenenses encontram-se despidas de publicidade nas costas, patrocínio esse que poderia render cerca de 500 mil euros.

3 – Investimento na formação, com a criação de um centro de estágio num concelho limítrofe de Lisboa (Oeiras por exemplo) e criação de um gabinete de prospecção de qualidade. Este é um caminho indispensável para qualquer clube. Formar jogadores e posteriormente rentabiliza-los – gostaríamos aqui de dar como exemplo o Ruben Amorim e o Rolando, mas tudo indica que tal não virá a suceder.

4 – Rentabilização do complexo desportivo do Restelo. Os cerca de doze hectares do Restelo representam actualmente a maior riqueza do Belenenses, não sendo necessário sequer referir o valor que representa a sua localização geográfica. As possibilidades são muitas, passando uma delas pela construção de um pavilhão multi-usos (na área actualmente ocupada pelo pavilhão Acácio Rosa e pelo polidesportivo) vocacionado não só para eventos desportivos, mas também para espectáculos diversos e congressos.