Eliminação da Taça da Liga - Análise Belém até Morrer.
União, entrega e espírito de entreajuda. Estes são os predicados sugeridos pela fotografia de Portimão que escolhemos para ilustrar esta análise. Tal escolha, advertimos desde já, não foi inocente.
A formula que tão bem resultou em Munique, pelo menos em termos defensivos, esteve desta feita ausente. Não merecerá o Portimonense o mesmo respeito por parte dos nossos jogadores? Provavelmente não, mas isto é só a ponta do iceberg.
Todas as equipas têm uma identidade, um código genético se se quiser. Ora o Belenenses 2007/08 surge-se-nos enquanto uma equipa de grande valor, de grande capacidade mas, e este é o fulcro da questão, este valor e capacidade não é inato, não surge "naturalmente". Nada pior do que ter uma equipa, um conjunto de jogadores portanto, que se julgam estrelas, que encaram os jogos consoante a sua importância. Tal preposição pode ser definida na seguinte equação: "Grandes jogos" = Entrega total; "Pequenos jogos" = serviços mínimos.
Acontece que 90% de uma época é composta por esses tais "pequenos jogos", ou seja, são estes na realidade os jogos mais importantes. Se relembrarmos a prestação do Belenenses 2006/07 na liga, verificamos que os seis jogos face a benfica, sporting e porto significaram um só ponto ganho - empate caseiro com o sporting -, traduzindo-se os restantes cinco jogos em derrotas, algumas delas pesadas. Ao invés, os azuis venceram em Aveiro, Leiria, Setúbal, Paços de Ferreira, etc, etc.
Por outras palavras, a equipa dava tudo de si em TODOS os jogos: era este o seu código genético, a chave para o seu sucesso.
Como tudo é diferente este ano...
A contrário da maioria, não pensamos ser este plantel inferior ao da época transacta, pelo menos em termos de potencial. Simplesmente, o Belenenses 2006/07 rendia perto dos 100%, ou seja, o seu máximo, em quase todos os jogos, enquanto o Belenenses 2007/08 rende, na maior parte destes, 50 ou 60% do tal potencial - já nos jogos "grandes", estas percentagens sobem exponencialmente, rondando os 100%; assim foi frente ao Real Madrid, ao Bayern e até mesmo ao sporting, jogo que dificilmente perderíamos com 11 jogadores.
Demasiados brasileiros? Sem dúvida. Demasiados emprestados? Certamente (ao tornar-se numa "montra", o Belenenses escancarou a sua equipa a jogadores que sabem que o importante é brilhar nos jogos "certos"). Demasiadas indefinições? Claro que sim (na época transacta Eliseu foi completamente colocado de lado por se encontrar em fim de contrato e não pretender assinar, circunstância que - até ver - ocorre com dois jogadores importantes sem que o critério aplicado seja o mesmo). Finalmente, demasiados jogadores acomodados? Evidentemente (a fase do orgulho ferido - devido ao que se passou em 2005/06 - já há muito foi esquecida, tendo jogadores importantes renovado contrato no defeso).
Regressemos ao princípio, ao jogo de Portimão.
O Belenenses entrou muito bem no jogo, teve inclusive um período - que se estendeu até aos 30 minutos - em que praticou um futebol de grande qualidade que se traduziu em 5 ou 6 excelentes oportunidades para inaugurar o marcador. Tal não aconteceu, algumas vezes por simples inércia, outras por evidente infelicidade. No último quarto de hora o ritmo, como seria natural, baixou um pouco, equilibrando o Portimonense as operações. Ainda assim, mesmo nos primeiros 45 minutos, alguns jogadores não "suaram" tanto como seria de esperar, nomeadamente Silas e Hugo Alcântara.
Inexplicavelmente, no reinício do encontro, o equilíbrio transformou-se em clara superioridade por parte dos homens da casa, que visivelmente se entregaram mais ao jogo (QUERER ganhar é meio caminho para a vitória...)
Perante um apático Belenenses, Jorge Jesus lê bem o jogo e retira das 4 linhas Silas (mais uma vez em dia não) e Rafael (esforçado mas sem ritmo, situação que lhe permitiu realizar uma boa exibição na primeira parte mas que não repetiu nos minutos que permaneceu em campo após o descanso). Para os seus lugares entraram Roncatto e Ruben Amorim - Weldon havia já substituído Evandro, mas a alteração foi tudo menos benéfica.
Como que instantaneamente, o futebol azul transfigurou-se, instalando-se o Belenenses no meio campo adversário. Com Ruben descaído à direita no meio-campo e Roncatto a alinhar em terrenos próximos mas mais perto da grande área, o perigo passou sempre pelos pés desta dupla, apesar de ser Fernando a facturar com naturalidade um golo algo esperado. Jogada iniciada por Weldon sobre a esquerda e concluída pelo 77 belenense com um remate, à entrada da área, ao centro, sem grande potência mas com muita colocação.
O jogo parecia irremediavelmente ir cair para o lado dos lisboetas, quando, sem motivo aparente, o Belenenses recuou para o seu meio-campo. Convidar o Portimonense a atacar sem que os médios pressionassem e os avançados tivessem bola ( Weldon não "existiu", J.P. Oliveira esteve muito apagado, assim como Fernando se exceptuarmos o golo) foi um autêntico suicídio que só se pode explicar com excesso de confiança e falta de entrega e entreajuda. O Portimonense acreditou, subiu no terreno perante a apatia azul, e mesmo sem criar muito perigo passou a assustar os belenenses presentes nas bancadas e a empolgar os adeptos locais.
Num lance semelhante ao ocorrido no ano passado, no Restelo, frente ao Benfica, Rolando tem a bola aparentemente controlada mas, à espera de Marco, hesita em despachá-la. Entretanto, Paulo Sérgio surge nas costas do defesa central e rouba a bola antes que Marco tivesse possibilidade de a agarrar - golo tão fácil como consentido. Inexplicavelmente, Paulo Sérgio, após marcar o golo do empate ignora os companheiros de equipa e o público afecto ao Portimonense, correndo 70 metros para vir "dedicar" o tento aos adeptos do Belenenses! Sem comentários.
Faltando cerca de 10 minutos para o final do encontro (com os respectivos descontos) foi o Portimonense que mais procurou o golo da vitória, embora sem grandes oportunidades para o fazer. Perante a entrega total dos seus adversários, o Belenenses foi incapaz de reagir, permanecendo a ver jogar.
Depois de apitar pela última vez, o arbitro correu na direcção de Paulo Sérgio para... lhe dar um grande abraço! Novamente sem comentários.
No início da lotaria dos penaltis dava toda a sensação que o Portimonense iria ser mais feliz, sendo todavia Marco a brilhar ao defender a segunda tentativa dos homens da casa. O Belenenses ainda não havia falhado, quando Weldon atirou à barra na 4ª série. O Portimonense de seguida marca, empatando assim a três. Na 5ª grande penalidade Paulo Sérgio não falha (e novamente volta a provocar os adeptos azuis) enquanto Rolando, visivelmente sem convicção, nem sequer acerta na baliza.
Vitória certa de quem mais fez para obtê-la (entenda-se de quem mais correu).
Fotos de Sofia.
A formula que tão bem resultou em Munique, pelo menos em termos defensivos, esteve desta feita ausente. Não merecerá o Portimonense o mesmo respeito por parte dos nossos jogadores? Provavelmente não, mas isto é só a ponta do iceberg.
Todas as equipas têm uma identidade, um código genético se se quiser. Ora o Belenenses 2007/08 surge-se-nos enquanto uma equipa de grande valor, de grande capacidade mas, e este é o fulcro da questão, este valor e capacidade não é inato, não surge "naturalmente". Nada pior do que ter uma equipa, um conjunto de jogadores portanto, que se julgam estrelas, que encaram os jogos consoante a sua importância. Tal preposição pode ser definida na seguinte equação: "Grandes jogos" = Entrega total; "Pequenos jogos" = serviços mínimos.
Acontece que 90% de uma época é composta por esses tais "pequenos jogos", ou seja, são estes na realidade os jogos mais importantes. Se relembrarmos a prestação do Belenenses 2006/07 na liga, verificamos que os seis jogos face a benfica, sporting e porto significaram um só ponto ganho - empate caseiro com o sporting -, traduzindo-se os restantes cinco jogos em derrotas, algumas delas pesadas. Ao invés, os azuis venceram em Aveiro, Leiria, Setúbal, Paços de Ferreira, etc, etc.
Por outras palavras, a equipa dava tudo de si em TODOS os jogos: era este o seu código genético, a chave para o seu sucesso.
Como tudo é diferente este ano...
A contrário da maioria, não pensamos ser este plantel inferior ao da época transacta, pelo menos em termos de potencial. Simplesmente, o Belenenses 2006/07 rendia perto dos 100%, ou seja, o seu máximo, em quase todos os jogos, enquanto o Belenenses 2007/08 rende, na maior parte destes, 50 ou 60% do tal potencial - já nos jogos "grandes", estas percentagens sobem exponencialmente, rondando os 100%; assim foi frente ao Real Madrid, ao Bayern e até mesmo ao sporting, jogo que dificilmente perderíamos com 11 jogadores.
Demasiados brasileiros? Sem dúvida. Demasiados emprestados? Certamente (ao tornar-se numa "montra", o Belenenses escancarou a sua equipa a jogadores que sabem que o importante é brilhar nos jogos "certos"). Demasiadas indefinições? Claro que sim (na época transacta Eliseu foi completamente colocado de lado por se encontrar em fim de contrato e não pretender assinar, circunstância que - até ver - ocorre com dois jogadores importantes sem que o critério aplicado seja o mesmo). Finalmente, demasiados jogadores acomodados? Evidentemente (a fase do orgulho ferido - devido ao que se passou em 2005/06 - já há muito foi esquecida, tendo jogadores importantes renovado contrato no defeso).
Regressemos ao princípio, ao jogo de Portimão.
O Belenenses entrou muito bem no jogo, teve inclusive um período - que se estendeu até aos 30 minutos - em que praticou um futebol de grande qualidade que se traduziu em 5 ou 6 excelentes oportunidades para inaugurar o marcador. Tal não aconteceu, algumas vezes por simples inércia, outras por evidente infelicidade. No último quarto de hora o ritmo, como seria natural, baixou um pouco, equilibrando o Portimonense as operações. Ainda assim, mesmo nos primeiros 45 minutos, alguns jogadores não "suaram" tanto como seria de esperar, nomeadamente Silas e Hugo Alcântara.
Inexplicavelmente, no reinício do encontro, o equilíbrio transformou-se em clara superioridade por parte dos homens da casa, que visivelmente se entregaram mais ao jogo (QUERER ganhar é meio caminho para a vitória...)
Perante um apático Belenenses, Jorge Jesus lê bem o jogo e retira das 4 linhas Silas (mais uma vez em dia não) e Rafael (esforçado mas sem ritmo, situação que lhe permitiu realizar uma boa exibição na primeira parte mas que não repetiu nos minutos que permaneceu em campo após o descanso). Para os seus lugares entraram Roncatto e Ruben Amorim - Weldon havia já substituído Evandro, mas a alteração foi tudo menos benéfica.
Como que instantaneamente, o futebol azul transfigurou-se, instalando-se o Belenenses no meio campo adversário. Com Ruben descaído à direita no meio-campo e Roncatto a alinhar em terrenos próximos mas mais perto da grande área, o perigo passou sempre pelos pés desta dupla, apesar de ser Fernando a facturar com naturalidade um golo algo esperado. Jogada iniciada por Weldon sobre a esquerda e concluída pelo 77 belenense com um remate, à entrada da área, ao centro, sem grande potência mas com muita colocação.
O jogo parecia irremediavelmente ir cair para o lado dos lisboetas, quando, sem motivo aparente, o Belenenses recuou para o seu meio-campo. Convidar o Portimonense a atacar sem que os médios pressionassem e os avançados tivessem bola ( Weldon não "existiu", J.P. Oliveira esteve muito apagado, assim como Fernando se exceptuarmos o golo) foi um autêntico suicídio que só se pode explicar com excesso de confiança e falta de entrega e entreajuda. O Portimonense acreditou, subiu no terreno perante a apatia azul, e mesmo sem criar muito perigo passou a assustar os belenenses presentes nas bancadas e a empolgar os adeptos locais.
Num lance semelhante ao ocorrido no ano passado, no Restelo, frente ao Benfica, Rolando tem a bola aparentemente controlada mas, à espera de Marco, hesita em despachá-la. Entretanto, Paulo Sérgio surge nas costas do defesa central e rouba a bola antes que Marco tivesse possibilidade de a agarrar - golo tão fácil como consentido. Inexplicavelmente, Paulo Sérgio, após marcar o golo do empate ignora os companheiros de equipa e o público afecto ao Portimonense, correndo 70 metros para vir "dedicar" o tento aos adeptos do Belenenses! Sem comentários.
Faltando cerca de 10 minutos para o final do encontro (com os respectivos descontos) foi o Portimonense que mais procurou o golo da vitória, embora sem grandes oportunidades para o fazer. Perante a entrega total dos seus adversários, o Belenenses foi incapaz de reagir, permanecendo a ver jogar.
Depois de apitar pela última vez, o arbitro correu na direcção de Paulo Sérgio para... lhe dar um grande abraço! Novamente sem comentários.
No início da lotaria dos penaltis dava toda a sensação que o Portimonense iria ser mais feliz, sendo todavia Marco a brilhar ao defender a segunda tentativa dos homens da casa. O Belenenses ainda não havia falhado, quando Weldon atirou à barra na 4ª série. O Portimonense de seguida marca, empatando assim a três. Na 5ª grande penalidade Paulo Sérgio não falha (e novamente volta a provocar os adeptos azuis) enquanto Rolando, visivelmente sem convicção, nem sequer acerta na baliza.
Vitória certa de quem mais fez para obtê-la (entenda-se de quem mais correu).
Fotos de Sofia.
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