(relembrando...porque Munique está à porta) SENTIMENTOS DE UM ADEPTO PRESENTE NO TERESA HERRERA

(Voltamos a colocar este texto acima porque: 1)Se vai aproximando o jogo de Munique e isso lembra-nos os jogos na Corunha; 2)Continuo a ler coisas detestáveis e injustas de adeptos de sofá e de ego inchado e quero reiterar o que escrevi no final sobre a Fúria Azul).

Indubitavelmente, a participação neste Teresa Herrera 2007 permitiu-me viver um dos momentos de grande alegria e orgulho que o Belenenses já me proporcionou.

Começo por dizer que tendo visto, , diversos jogos internacionais do Belenenses, o primeiro dos quais no já distante ano de 1973 (era eu então um miúdo), em que, ostentando o título de Vice-Campeão Nacional, a nossa equipa jogou com o Wolverhampton para a Taça UEFA (e também por essa altura jogou com o Real Madrid...), nunca tinha visto jogar o nosso clube ao vivo no estrangeiro, dado que a conjugação de circunstâncias nunca o tinha permitido.

Desde logo por isto mas, muito particularmente por causa do prestígio do torneio e pela qualidade do adversário que íamos defrontar logo no primeiro jogo, a perspectiva desta deslocação tinha um sabor especialíssimo.

Os dois dias antes da viagem foram divididos entre uma deslocação a Peniche, para mais um jogo-treino; a satisfação de ver que, passada a desilusão inicial, se estava afinal a preparar a ida de um número significativo de belenenses; os esforços para que o maior número possível pudesse efectivamente estar presente; a notícia alarmante do rarear dos bilhetes e a reserva dos mesmos via internet, pelo menos para a malta mais próxima da Fúria que viajaria junta.



Ás 6h da manhã, ao chegarmos ao Restelo, distinguiam-se rostos amigos por entre o lusco-fusco daquela noite ainda por acabar. A alguns não víamos desde a final da Taça. Tudo isto, acrescentava alegria e entusiasmo à viagem que tínhamos pela frente.

A viagem foi escorreita, cansativa mas com boa disposição, e à hora de almoço estávamos na Corunha, estacionados junto ao Estádio de Riazor. Começámos a ver mais alguns dos “nossos” e os gritos “Belém” e o agitar das bandeiras e estandartes começaram a mostrar aos locais que ali estava presente o nosso clube.

O convívio ao almoço e a busca de sítios para ficar preencheram a tarde que, à medida que avançava, nos fazia crescer um agradável “nervoso miudinho”. Estávamos divididos nas nossas expectativas, entre os extremos da esperança de um grande sucesso e do receio de que as coisas começassem a sair mal, levando um resultado desalentador e não prestigiante.



A entrada para o estádio, com as gentes da Corunha a verem as nossas cores e os nossos incitamentos, provocou um primeiro “arrepio” de emoção. Lá dentro, iam-se distinguindo (infelizmente, em alguns casos, dispersos) outros adeptos do Belenenses, num total que terá ultrapassado a centena. Junta, a Fúria Azul distribuía e colocava materiais e afinava as gargantas.

A entrada das equipas em campo, com pompa e circunstância, permitiu às hostes azuis presentes nas bancadas expressar o que nos ia na alma, evidenciar o orgulho de ser Belenenses e estar ali, e mostrar a todos que não seria por falta de apoio que a nossa equipa não faria uma bela exibição.

E fê-la, realmente. Os receios derivados de alguma inexperiência, da onda de lesões, de algumas posições ainda por reforçar e, claro, do poderio do adversário, rapidamente se desvaneceram. Tirando um ou outro susto quando o Real imprimia maior velocidade, sobretudo a partir dos 30m (porque até essa altura havia 9 remates do Belenenses contra 1 dos madrilenos!), o facto é que, em jogo jogado, e em jogadas perigosas, o Belenenses em nada havia sido inferior ao seu poderoso adversário, quando o árbitro apitou para o intervalo ; antes pelo contrário.

Nesta altura, uma coisa era já visível: o Belenenses não era nenhum “coitadinho” ali presente para ser trucidado pelos galácticos. Mas... como seria a 2ª parte? Uma eventual aceleração de jogo do Real Madrid (que ainda há dias lhes permitira, na Rússia, marcar 5 golos em pouco minutos, recuperando de uma desvantagem de 0-2), poderia desequilibrar a balança a nosso desfavor?

A verdade é que a resposta foi quase a melhor possível. O Real entrou cheio de fúria mas rapidamente o Belenenses conquistou o domínio do jogo (exactamente, o domínio do jogo!), o qual manteve até por volta dos 70 minutos.

Faltou o golo que pareceu eminente por 2 vezes. Primeiro, num magnífico cruzamento de Cândido Costa (que cada vez nos granjeia maior respeito), a apanhar Roncatto muito bem posicionado (mostrando a sua inteligência de jogo). O cabeceamento falhou o alvo, e com isso se perdeu um golo que seria espectacular – e quase nos fez explodir de alegria. Depois, uma bela jogada de Zé Pedro, a passar vários adversários, acabando por ser travado já dentro da área, numa situação perigosíssima (ainda antes, em jogada estudada semelhante à que deu golo em Casablanca, o mesmo Zé Pedro rematara com perigo).

Então, sim, o Real ficou na mó de cima e, por volta dos 75m, a nossa equipa tremeu um pouco. Recompôs-se, porém, e o jogo caminhava para o final e, assim, para a decisão por penalties, onde tudo poderia acontecer. Mas...sucedeu o que todos já sabem. Novamente, uma derrota cruel, no último minuto! Foi um tremendo balde de água fria, gelada. Nem dava para acreditar!

Recuperámos, a pouco e pouco, quando começámos a receber mensagens a dar conta do que se vira, ouvira e dissera em Portugal – o Belenenses elogiadíssimo, a ser melhor que o Real; a Fúria Azul em grande, a fazer-se ouvir e a dominar a acústica, face ao colosso espanhol; quando, partilhando as nossas impressões, concordávamos no orgulho que sentíramos ao ver a nossa equipa, num belo palco, perante o maior clube do mundo, a bater-se de igual para igual. Esse orgulho foi-se definindo cada vez mais, à medida que ouvíamos os elogios de muitos espanhóis, e a alegria foi voltando com o jantar da malta da Fúria Azul, num ambiente de camaradagem,esse sim,verdadeiramente galáctico.

E a alegria e o companheirismo prolongaram-se no dia seguinte, com a visita à torre de Hércules – fotografias do azul a conquistar o seu topo… – com um almoço divertido, sempre com a amizade e belenensismo presentes.

A única nota de tristeza foi saber do estado de saúde preocupante de um belenenses de Ovar. Felizmente, as últimas notícias são de que o susto já passou, estando a recuperação a correr muito bem. Daqui, ao consócio David e ao seu filho João, lhes enviamos um sentido abraço.



Veio o jogo com o Atalanta. O entusiasmo, naturalmente, já não era o mesmo do dia anterior. Mas veio a satisfação do bruá, do estroar dos golos, muito festejados por nós todos, com um sentimento que não é bem o mesmo de um jogo normal. A vitória contra um adversário da primeira metade de um campeonato como o italiano, com um orçamento superior a qualquer clube de Portugal, um clube que certamente não deixou de ser forte depois de jogar com o FCP, um clube do tipo de alguns dos melhores que podemos encontrar na Taça Uefa, e que, ainda por cima tivera mais um dia de descanso (ou seja, o dobro), é algo que deve ser valorizado.É mais um pequeno elo da nossa história brilhante de quase 90 anos.

E seguiu-se a surpresa quando, juntamente com a entrega da Taça do 3ºlugar, o Hino do Belenenses começou a soar na aparelhagem do Estádio. Todos juntos, cantámos bem alto a sua letra, num momento de vibração e comoção indescritíveis.

Assistimos depois à final. Com um sentimento de sermos convidados de honra. Sentíamos que o Belenenses granjeara o respeito e a consideração de todos, nos mais diversos aspectos. Mudámos de sector para mostrarmos à nossa equipa que estávamos ali, gratos por terem sido dignos e terem honrado o Belenenses, e uma boa parte do Estádio arregalou os olhos para as nossas cores, os nossos cânticos, a nossa paixão pelo Belém.

Muitos dos belenenses que se deslocaram à Corunha já tinham regressado na véspera. Dos restantes, a maior parte do pessoal da Fúria saiu a meio do jogo entre o Deportivo da da Coruña e o Real Madrid, passando ainda pelo hospital para visitar o Sr. David e prover a qualquer coisa de que ele necessitasse, e voltando em seguida para Lisboa. O resto de nós regressámos na 6ªfeira, um pouco cansados mas bastante contentes...



E AGORA SOBRE A FÚRIA AZUL…

Não há nada perfeito no Belenenses nem no mundo, e a Fúria Azul não o é certamente. Há coisas que podem ser melhoradas, como é lógico. As sugestões são sempre de ouvir. Mas não posso compreender de modo nenhum que haja pessoas que só tenham críticas a fazer e pedras a atirar, quando nunca tiveram uma palavra de elogio e reconhecimento para com os muitos méritos da Fúria e os muitos serviços prestado ao longo de quase um quarto de século.

Por isso…

A todos os amigos da Fúria com quem partilhámos esta viagem e estadia na Corunha e os jogos do Teresa Herrera, faço questão de deixar os meus agradecimentos...

Agradecimentos, por tantas vezes terem estado sós, ou quase sós, por tantos campos de Portugal e até “lá fora”, a defender, nas bancadas, a honra e o orgulho de ser Belenenses;

Agradecimentos pelo trabalho e pela fidelidade para com o clube;

Agradecimentos pelas horas perdidas, pelo dinheiro gasto, pelo tempo dispendido, pelas gargantas enrouquecidas, pela dedicação continuada;

Agradecimentos porque nos sentimos bem entre vós;

Agradecimentos por darem alma, calor, som e alegria ao nosso clube, tantas vezes entristecido, se não mesmo deprimido;

Agradecimentos porque me fazem sentir que o Belenenses se perpetua e que, quanto mais não fosse por vós, continua a valer a pena;

Agradecimentos pela coragem, pelo bom gosto, pela dignidade em continuar a ser do Belenenses, contra toda a pressão social e mediática, em muitos anos com bastantes tristezas e escassas alegrias;

Agradecimentos por estes 3 dias maravilhosos, que, sem estarmos juntos, não teriam tido metade do significado que tiveram;

Agradecimentos porque, pessoas diferentes, com origens, vidas, experiências, percursos, idades, maneiras de ser, pensar e sentir diferentes (até sobre o clube), fazem um grupo de amigos a sério e uma escola de belenensismo;

Agradecimento por ali terem estado a gritar pelo Belenenses, fazendo com que a nossa voz se ouvisse mais do que a dos adeptos do galáctico Real Madrid (e que não eram assim tão poucos);

Agradecimento, por comigo terem cantado a plenos pulmões o Hino do Belenenses: nunca esquecerei a emoção de termos ouvido e cantado bem alto o nosso hino naquelas paragens;

Agradecimentos, porque o valor humano se mostrou também em passarem horas junto do amigo David no hospital, mesmo havendo uma longa viagem nocturna pela frente;

Agradecimentos porque sabemos que, pelo futuro, lá onde jogarem as camisolas do Belenenses, ali estará a Fúria...seguidores de um Ideal;

Agradecimentos por esse ideal que mantém vivo, e por serem do meu velho e incomparável Belém “sempre clube digno e enorme, mesmo quando a sorte do jogo lhe é adversa”.


(Nota: a 3ª das 5 imagens, foi-nos gentilmente enviada por um adepto Belenenses residente em Braga, que também esteve na Corunha)