História de Matateu (XIX)

Em 20 de Setembro do ano passado (1959) começou o campeonato nacional, sendo o Belenenses apontado como a equipa sensação daquele princípio de época. E o primeiro encontro que os azuis tiveram que disputar foi um verdadeiro e sério obstáculo. Nada mais que defrontar a equipa dos leões da serra, na Covilhã. Matateu, ao ser entrevistado no sábado anterior ao jogo, afirmara que os complexos no seu clube haviam terminado e que se encontrava esperançado em alcançar o título.

O Belenenses não ganhou o primeiro encontro (0-0), mas o avançado moçambicano creditou-se de boa exibição.
Logo no segundo encontro, disputado no Restelo, frente ao Atlético, o interior belenense inaugurou a época como marcador, ao bater o guardião alcantarense por duas vezes. E nas hostes de Belém nasceu a esperança que, oito dias depois, sofreu rude oscilação quando a sua equipa foi derrotada no Barreiro pela CUF. Matateu teve uma tarde manifestamente infeliz, o mesmo acontecendo na jornada seguinte, em que o Belenenses foi vencido, no Restelo, pela Académica.

O Jogador de Lourenço Marques (Maputo) fez mais um golo, que foi, no entanto, insuficiente para levar de vencida a aguerrida turma dos estudantes, que marcaram dois.
Como sempre nestas ocasiões, a massa associativa do clube, que pouco antes estivera em festa, deixava-se apoderar pelo desânimo. Matateu não era dos jogadores que menos sofriam com os reveses da turma, especialmente ele que havia declarado estar animado da maior vontade em vencer o campeonato.

Entretanto, o Belenenses teria que se deslocar ao Porto para competir com os campeões nacionais. A necessidade que qualquer das equipas tinha em vencer o jogo, assinalando assim o início da recuperação, originou uma excelente partida sob o ponto de vista emotivo. A equipa de Lisboa venceu o encontro, e para isso muito contribuiu a notável actuação de Matateu, que foi, realmente, um dos maiores quebra-cabeças para a defesa antagonista, pela sua fogosidade e domínio de bola. Coroou a sua exibição com um golo, que veio a ser o da confirmação do triunfo.

Em Belém houve uns momentos de alegria. No escuro da noite aparecia uma luzinha. Mas... no Domingo seguinte a "coisa" era difícil. O Estádio do Restelo estava esgotado. O sporting era o adversário do clube da casa e, nesse dia, estreava-se o famoso jogador do Peru, Juan Seminário. Os azuis cerraram os dentes, encheram-se de brio e vontade e eis que conseguem obter uma excelente vitória.
Matateu, que actuou a interior direito, teve alguns apontamentos que definiram a sua verdadeira e extraordinária classe, sendo pela maioria da crítica apontado como o melhor jogador no rectângulo, pois construiu muitos lances de ataque ao mesmo tempo que foi um importante colaborador da defesa.

E, assim, não estranhou a ninguém que o seleccionador nacional, José Maria Antunes, convocasse o internacional belenense para o encontro a disputar contra a equipa da França, em Colombes.

A escolha de Matateu era justificadíssima. No genéro de interior perfurante e finalizador, o avançado do Belenenses era, sem dúvida, um elemento temível.
O encontro realizou-se no dia 11 de Novembro de 1959. Os avançados portugueses fizeram uma excelente partida, especialmente Coluna e Matateu, tendo este obtido mais um golo, aproximando-se assim do recorde do antigo jogador «internacional» Peyroteo que, em jogos pela selecção das «Quinas» havia obtido 13 golos.

O campeonato recomeçou para a equipa de Matateu com o jogo contra o Vitória de Guimarães. O Belenenses venceu por 3-1, tendo o primeiro tento sido marcado por Matateu, que nesse encontro foi o «terror» da defesa antagonista.
Parecia que os «azuis» entravam, mais uma vez, no caminho do título, mas, na jornada que se seguiu, o Belenenses sofreu nova derrota no Restelo, desta vez frente à turma do Vitória de Setúbal, uma das últimas classificadas do torneio.
Não seria ainda desta vez que Matateu conseguiria alcançar o título tão ambicionado? Tudo levava a crer que tal sucederia e, por isso, voltou a morar o desânimo entre os homens da Cruz de Cristo.
Intervalado com os jogos do campeonato, disputavam-se os jogos da Taça de Portugal, tendo o Belenenses eliminado o Atlético e, na segunda «mão», a equipa do Lusitano de Évora.

Chegou-se ao final do campeonato. O Belenenses, afastado do título, defrontou, no último encontro, o Sport Lisboa e Benfica, equipa que até então, estava sem qualquer derrota ao longo do torneio. Contrariando todas as previsões o Belenenses venceu por 2-1, infligindo, assim, a única derrota aos campeões. Matateu foi um dos melhores jogadores da equipa vencedora.

Antes, porém, já Matateu havia alcançado mais três «internalizações». Contra a Alemanha, e duas vezes contra a Jugoslávia, tendo, no encontro disputado contra esta selecção, no Estádio Nacional, obtido o 13.º golo pela selecção igualando assim o recorde de Peyroteo.


(Daqui a pouco, reportagem do jogo de ontem em Casablanca)