ÉPOCA 2006/2007 VIVIDA POR UM ADEPTO
Terminara o caso de Mateus, episódio que terá empolgado alguns beléns, mas de que não me gosto de lembrar, porque feriu o meu modo orgulhoso, quase altivo, de viver e sentir o Belenenses, porque se destinou a evitar um mal maior, porque uma coisa são as argoladas e arruaças do Sr. Fiúza, outra são as gentes de Barcelos, das bocas das quais (alguns, claro), naquele dia maldito de 7 de Maio de 2006, ouvimos palavras de consolo e de referência à grandeza do Belenenses, que não esqueço.
4ª jornada, a maldição do Boavista no Restelo. Há quantos anos há um golo no primeiro ou no último remate dos “gajos”. Não jogam nada, como o campeonato mostrou, mas levaram-nos os 3 pontos. Primeira grande irritação da época!
5ª jornada, vamos à Madeira defrontar o Nacional. Vemos em casa de amigo pastel, 4 beléns reunidos. Grande golo de Alvim, a confirmar que não é só bom a defender. Dady a mostrar-se, com grande tiro a esbarrar na trave. Perdemos, aceita-se – bolas, o 2º golo do Nacional estava a adivinhar-se –, mas não jogámos mal. Um problema começa a atormentar: e quem marca golos? E outro: com 2 jogos fora e 3 em casa, a média de pontos é inferior ao ano passado. Temos que ganhar ao Paços!
Ganhámos. 2-0. Com relativa facilidade. Na altura pensámos: que belos 3 pontos para dar tranquilidade! Mais tarde veríamos que teriam importância para outras contas. Voltou a calma mas também a desolação das bancadas, numa noite com chuva. Vamos às Aves, lugar da desolação na época anterior. A comoção: ver Belenenses daquela vila, fazer com que um pastel pudesse ver um jogo 45 anos depois. Malta porreira, os avenses. Jogo mal jogado, num terreno em péssimo estado. O Belenenses parecia que não queria ganhar... mas finalmente Dady estreia-se a marcar. O rapaz já merecia. E nós já mereciámos voltar a ganhar fora. Volta a alegria: “Eu, tu e nós todos, somos Belenenses, porque ele é bom, porque ele é o maior”. A Marcha de Pompa e Circunstância. Azul. 3 vitórias, 2 empates, 2 derrotas. Saldo positivo. Anh?! Estranho.
Leiria no Restelo. Entramos a dormir, a dormir estávamos quando eles fazem 1-0. Pessimismo: não temos quem marque. Na 2ª parte entramos com atitude. Vem a tempestade. O Restelo torna-se um lago. A equipa demora a adaptar-se. Naquele terreno só pode ser pontapé para o barulho. Os jogadores lutam, correm, mas já é tarde.
Amadora. Os lampiões com riscas verdes da Reboleira. Nunca vi tão poucos pastéis na Amadora. Tenho um mau pressentimento. Surgiu depois do jogo magnífico de andebol com o ABC, 2 dias antes, bela assistência no Acácio Rosa, bela vitória da equipa mais “o povo”. As coisas nunca correm bem várias vezes seguidas. O fio de esperança de que o Belenenses possa voltar a ser grande tinha que ser quebrado. Piores receios confirmados. Derrota e exibição paupérrima. O medo de descer, com toda a gozação que traria, instala-se. Manoel, pá, ao menos mexe-te!
Recebemos o Porto em casa. A confiança está quase no grau zero. Insólito: penso menos no futebol que no andebol, nesse dia. Como em 94, quando deixei a meio um jogo com o Boavista, para ir ver o Belenenses ser campeão no nosso Pavilhão. Foi lá que também festejámos o golo do 2-1 ao Boavista, do jogo de futebol que continuava. 19 de Março de 1994. O último campeonato de Andebol que ganhámos, em jogo decisivo com o Benfica, com o Pavilhão a rebentar pelas costuras. Empate que valeu o título. Agora, de novo o Benfica. E de novo um empate. Mas valeu a pena. 60 minutos sempre a gritar Belém, um ambiente fantástico, bela assistência, menos que em 94, claro, mas mesmo assim, mil pessoas. Com a nossa equipa no 1º lugar, viu-se o velho Belenenses. E viu-se um público sedento de orgulho, de vitórias, de lideranças, de rivalidades com outros grandes clubes. Pena a desconcentração a meio da 2º parte – ou terá sido melhor assim? Não sei, porque valeu a emoção da garra e querer da equipa, levada ao colo pela assistência, recuperando 3 golos de desvantagem. Chiça, a lendária “vaca” do Benfica: no último segundo a bola bate-lhes em 2 postes...e não entra!
Ah, pois, o jogo com o Porto. Perdemos como esperava. Inofensivos no ataque – como podemos fazer pontos sem marcar? Ao menos, fomos eficazes na defesa, grande Gaspar, que secou o Quaresma! A velha história, o canto de onde veio o golo era falta contra eles. Mas estava escrito. Perdemos.
E agora? Vamos a Aveiro. Se perdermos, a coisa fica muito feia, resvalamos para linha de água. Noutras condições, seria uma festa, que há muitos beléns naquela zona. Assim... A 20 minutos do estádio a camioneta avaria. Ao frio, numa paragem da auto-estrada, a notícia: Goooloooo! Belém, Zé Pedro! No táxi, a caminho do estádio, a telemóvel, vozes amigas, 2-0 Dady! Boa, rapaz! O insólito: ganhámos num jogo em que vi o adversário marcar um golo e nós nada. Que se lixe. 3 pontos que podem valer ouro. Alivia-se o sufoco.
E vem o Braga. Não sei que pensar. Gostava de ganhar àqueles novos-ricos com a mania que são alguém. Mas têm uma equipa forte, o seu a seu dono. As bancadas tristes: chuva, pouco mais de 2 mil pessoas, já contando os 30 “deles”. Melhor não podia começar: balão de Gaúcho, a classe e a calma de Silas – toma lá! Aguentamos a 1º parte, caímos em cima deles na 2ª...Ruben, olha é tua! É mesmo, está lá dentro, 2-0, vai buscar! As coisas recompõem-se. Temos tantas vitorias como derrotas...só que também com mais 2 jogos em casa.
Madeira de novo, com o Marítimo. Televisão, na mesma casa de pastéis. Que é isto? Entramos à campeão! 9 minutos, Zé Pedro, passe de uns 30 metros, genial, Silas, outra vez a classe, tira o adversário da frente, quem sabe, sabe, bola lá dentro, golaço...Uhhhhh! Fim da 1º parte...2-0! Querem ver que vamos ver a 2ª parte descansada?! Não, o Marítimo volta diferente, a coisa parece complicar-se mas Jesus não dorme. Entra o Eliseu. Recebe a bola de um lançamento, passa um, passa outro, outro ainda, que é que ele vai fazer? Cruzar? Não: bola lá dentro! Goooooooooloooo! Levantamo-nos, dançamos, apertamos as mãos no meio da sala, palmadas nas costas! E aí vai o Eliseu outra vez....vai, vai, vai, penalti! É Mesmo. Zé Pedro, vá...boa, tá lá! Vamos para os 5 e os 6...o árbitro não deixa, anula um golo limpo, inventa um fora de jogo, sempre o Eliseu, mais o Amorim, mais todos...pena sofrermos um golo esquisito. Mas que se lixe! 4-1 fora! E espreitamos os lugares cimeiros! E se jogarmos assim, o Benfica vai tremer na Luz!
E lá vamos. Grande entusiasmo. Mas sinto que vamos perder. Quando estamos bem, costumamos perder lá. E ganhamos ou empatamos quando estamos mal. Tirando velhos tempos. Saímos 150 do Restelo. Lá, somos uns 600. Contra 40 mil índios. Somos recebidos no meio da selva, por indígenas. Mas é nestas alturas que mais sinto que só podia ser Belém. "Tenho todo o orgulho, sou Belém até morrer". O jogo? A velha vaca do Benfica. Mais o árbitro. Nós a jogar e eles a marcar. Mas aqueles boçais são incapazes de reconhecer. Bem, se nos odeiam assim, é porque alguma coisa ainda somos e lhes faz sombra. Lindas as bandeiras e cachecoladas azuis. Penalty inventado: 1-0. Três cantos seguidos contra eles. Penalty por marcar contra eles. Nós a falhar oportunidades. Livre conta eles é marcado ao contrário. Bola bate na barreira, Costinha escorrega: 2-0. Intervalo. Mas quase só se ouviu Belém. Falhamos mais 2 oportunidades. Golo deles em fora de jogo: 3-0. Na selva, ousamos responder às feras desmioladas. Golo de Dady! Não, incrível, o Quim defende tudo mais o poste. E ainda só se ouve Belém! "Como gritas quando vences? Belenenses, Belenenses! Mas se não vences, gritas também...Belém, Belém, só Belém!" Mais um golo fora de jogo: 4-0. Toda a gente viu que jogámos melhor. Jogadores vêm agradecer e aplaudir-nos. A saída do estádio é quase épica: não celebramos a derrota, nem a vitória moral, mas o ORGULHO DE SER BELÉM! Eles riem-se, fazem gestos incompreensíveis...preferia estar na 5ª divisão dos distritais que ser da carneirada! Belém, só Belém!
Controlada a “raiva”, vamos a Setúbal. Comboio azul. A malta do VIII Exército é porreira. Bela sala de troféus do Vitória. Há muita gente – e carros – azuis por Setúbal. Costinha dá-nos quase um ataque de coração aos 2 ou 3 minutos mas logo Garcés serve Dady e este faz o golo. Foi o único. Chegou. Três pontos importantes. Boa disposição.
Esperava uma grande tarde em Odivelas, no nosso 3ª jogo da Taça de Portugal. Mas chove, o que afasta gente. A bancada (10 €!!!) é um lodaçal. E a nossa equipa parece atolar-se...complica, tenta jogar bonito naquele terreno. Em vão. Alguns calafrios, até. Na 2ª parte, entramos melhor mas o tempo vai passando. Finalmente, finalmente mesmo, Garcés descansa-nos...quase: 1-0. O Belenenses parece que vai resolver a questão mas o Odivelas resiste até ao fim, mesmo quando 1 deles é expulso...e só descansamos com o apito final. Não foi bom. Mas seguimos em frente, era o mais importante. Eheh, Benfica out! Boa, Varzim! (o 2º golo é do Mendonça).
E recebemos a Académica. 2ª f à noite. Com a combinação dos resultados da jornada, podemos saltar para lugares europeus. A história da Europa sempre me irritou um bocado. Acho que os jornalistas a usam para separar equipas de 2º plano das que lutam para o título, as de 1º plano; e não quero que o Belenenses seja de 2º plano. Mas, depois de 17 ou 18 anos sem jogos europeus, gostava, sim, de reviver essas noites. Vou para o estádio com a duplicidade: costumamos falhar sempre que podemos dar um salto; mas estamos a fazer melhor fora do que em casa, isto vai equilibrar. Foi o pior possível. Assistência miserável, a pior da época – bolas, custa assim tanto deixar o sofá? E custa assim tanto chamar as pessoas? E 1 derrota, com 1 intervenção infeliz de Costinha. Já vi este filme muitas vezes, estava na cara que íamos perder. No fim, algo a que nos “agarrarmos”, 15 jogadores com gripe. Explica, por exemplo, um Alvim de rastos, muito distante do gigante que vinha a ser.
Vamos à Figueira jogar com o Naval. Outra vez, como em Aveiro, não há a hipótese duma grande presença azul, face ao resultado desmotivante do jogo anterior. Sinto que é 1 jogo fundamental. Se ganharmos, continuamos a olhar os lugares cimeiros e vamos moralizados a Bragança. Se perdermos, o efeito anímico é o oposto e conformamo-nos a campeonato tranquilo. Entrada em grande: o magnífico Nivaldo, de canto, imperial! Eliseu, portentoso, ganha a bola ao guarda-redes, cruza, e Dady, no lugar certo, carimba. Euforia! As oportunidades sucedem-se. De repente, a surpresa. Golo deles. O Naval agiganta-se; o Belém parece perdido. 10 m da 2ª parte, 2-2. Mas que porra esta! Ainda perdemos. Mas não, entra Ruben, mesmo doente, a equipa serena. Volta a subir no terreno. Garcés amortece, mostra mais uma vez a sua utilidade, e Zé Pedro... pumba, 3-2! Festejo com muita gana, sim, um dos festejos mais vibrantes da época, sei que é importantíssimo. Há que aguentar...Acabou! Ganhámos! Voltamos a olhar para cima.
Seguiu-se o clube da Rotunda. 2ª feira à noite, dia de trabalho, impossível ir. Resta a TV. Um empate anunciado. À nossa equipa, cansada e assolada por gripes, dificilmente se poderia exigir mais. Talvez se pudesse ter arriscado mais; contudo, o ponto conquistado abre boas perspectivas para o próximo jogo. No estádio só se ouvia “Belém!”.
Quartos de final da Taça em Bragança. Não posso mesmo ir. Vai o meu coração. Que está apertado, por muito que razão me mostre que havemos de ganhar. Ansiedade. Que bom era marcarmos um golo cedo. Mas não...Vou para um sítio onde nada possa saber mas só aguento um pouco. Ao voltar 2 sms. Estamos a perder 1-0. Intervalo. Bolas! Em lojas, mulheres falam do jogo e vê-se que algumas são Belém. Continuamos a existir! Que eternidades passam...E já um quarto de hora da 2ª parte e, passa, passa...até que GOOOLO! Nervoso, ando de um lado para o outro. Pouco depois 2-1. Vou para um sítio isolado, estou nervoso e comovido demais. Um colega alapa-se-me ao computador, com miudezas do trabalho. É lagarto e sabe que eu sou Belém, que quero saber do jogo – mas o sacana não larga. Raio que o parta. Enfim sei notícias, acabou, ganhámos! Sei das confusões, enfim estou só, falo por tlm com um amigo belenenses, liberto a tensão acumulada e, abrindo a janela, exorcizo o “sacana” do lagarto, soltando um “Sporting é merda!". Estou aliviado, lá pego no trabalho... Quem sairá nas meias finais? E entretanto, o Boavista já foi "à vida"! Que "pena"...
Volta o Campeonato. Será desta? Ou vamos falhar de novo? Finalmente, agarramos uma oportunidade. Eis Dady em grande e chegamos ao intervalo com a tranquila vantagem de dois golos sobre o Nacional. Depois, foi controlar. Marco Gonçalves esteve seguríssimo, temos Guarda-Redes. Pequena festa… Estamos na zona Europeia. O Nacional fica para trás.
Paços de Ferreira, local de ansiedades o ano passado e há 3 anos. Desta vez, estou bem disposto. Perder será mau mas não desastroso. Empatar será razoável. Ganhar, será excelente. O Paços ainda não perdeu em casa e sinto que vamos ser nós. Mas temos 44 minutos desesperantes. Que é da nossa equipa? Paços à beira do golo, vale a segurança de Marco G. E de repente, tudo muda. A tal classe extra de Silas que às vezes aparece, um passe de génio a isolar Cândido Costa, que marca. O Cândido já merecia. Começou mal a época mas depois desatou a jogar. E é daqueles que vibra connosco. Vem a 2ª parte. A pouco e pouco, o PF volta a crescer. Jesus é cinicamente sublime. Estica a corda até onde pode, e então faz entrar Garcés. O jogo muda, e fazemos o 2-0. Dady! Está ganho! Se fosse o Benfica, o que não seriam as capas de amanhã… Até parece que estou a ler: "Nem o Paços resiste ao Benfica". Assim, como fomos nós...
Aves em Casa. Parece fácil mas é nestes jogos que a coisa às vezes se complica. O Restelo continua triste – acordem, caraças! Dady aos 15 m, volta a facturar – respira confiança, cresce jogo a jogo. Sofremos até ao fim, não sentenciamos o jogo nas oportunidades que tivemos mas... 1-0 chega. Um penalty inventado a favor do Braga contra o Naval, a terminar a partida, impede-nos de chegar ao 4º lugar. Mas seguimos na zona Europeia.
Segue-se Leiria. Outro local maldito, como Barcelos. Aqui se choraram as lágrimas da 1ª descida…o incrível! Vou optimista. Um empate e sobretudo a vitória deverá carimbar-nos o passaporte europeu, se não for pela Taça, é pelo Campeonato. A não ser que houvesse um cataclismo… Jesus é mestre de xadrez. Adormece o jogo no 0-0, a meio da 2ª parte volta a lançar Garcés e, de novo, pouco minutos depois, fazemos o golo. Amaral, finalmente ao seu melhor nível, cruza a preceito e Dady lá está! Grande alegria! Falta pouco; Nivaldo, Rolando, Sandro Gaúcho, Alvim e os outros controlam. Os belenenses estão em maioria no estádio e fazem a festa.
Muitos abraços. Só não percebo porque havemos de ficar separados em 2 sectores, cada um para seu lado. Porque é que não gostam da alegria de estarmos todos juntos? No caminho de regresso, a notícia. O Braga perde, estamos em 4º lugar. Nos 4 primeiros, os nossos lugares históricos.
Mais uma semana, e recebemos o Estrela. Com o pensamento já nas meias-finais, uma tarde alegre. Finalmente, o Restelo regista uma razoável assistência. A 1ª parte é um festival. Garcés, 2 vezes, e Dady, deixam-nos em delírio. Mas não só eles: Ruben, Silas, Zé Pedro, que bem trocam e passam a bola! Amaral e Alvim, sobem a preceito. Os centrais e o guardião controlam o resto. Há jogadas empolgantes. Grita-se “Belém” de uma bancada para a outra. O 3-0 ao intervalo dura até final mas a alegria também. O Braga perde, e temos 4 pontos de avanço sobre eles, apesar do Benfica, sempre a fazer o que não deve, não lhes conseguir ganhar na Lu. Nem para isso serve. A 5 jornadas do fim, estamos em 4º e comenta-se: “mais umas jornadas e apanhávamos o Sporting e o Benfica…”.
É sábado, 5ª feira é a aguardada meia-final. É preciso completar a coreografia idealizada e já adiantada por outros companheiros. Armada Invencível (no mar azul) Rumo ao Jamor. Tenho pouca habilidade. Mas estar presente pode ser um acto de solidariedade. Nem que seja carregar uns plásticos, pode ajudar. E assim partilhamos o nervoso miudinho, divididos entre a esperança e o receio. (entretanto, mais uma vez por 1 golo, acaba o sonho de sermos Campeões em Andebol. João Pinto lavado em lágrimas, é algo que nunca esquecerei. Vê-lo-ei de novo, trajado de Belém a rigor, na final do Jamor).
Chega “o“ dia. Saio bem cedo para o Restelo. Expectativa no ar. Quantos seremos ? E eles? Há versões desencontradas. Fala-se que dos nossos 15 mil bilhetes já saíram e que deles podem vir 4 mil. Como sempre, penso que o Belenenses devia ter feito muito mais para trazer a sua gente.
O jogo vai começar e a prova está feita. 9 mil pessoas. Um pouco menos de 2 mil deles, uns 7 mil nossos. Mas somos dos bons. O ambiente é magnifico, fantástico. A coreografia ergue-se. E aos 5m, o sonho parece real. Passe magistral de Amorim, Dady desvia a bola do guarda-redes e ela vai para a baliza. Entrou! É o delírio! Abraços, lágrimas, festejos sem fim e “Belém! Belém! Belém!”. E aí vamos nós outra vez para o ataque...mas sai mal. E então, tudo começa a sair mal e o Braga joga que se farta. São-lhes anulados 2 golos. Mas esperamos o pior. Não seria melhor entrar o Sandro Gaúcho, para reforçar o meio campo defensivo? Por outro lado, não seria cedo demais? Mas pronto...é golo deles! E agora? E se eles crescem mais e nós continuamos mal? Apesar de tudo não. O jogo reequilibra-se, eles parecem dar-se por satisfeitos, antes do intervalo começamos a recuperar a iniciativa.
É a loucura! Homens, mulheres, velhos, jovens, todos exultam e grande parte tem as lágrimas nos olhos. O grito “Belém! Belém! Belém!” atroa no estádio. Não há grito mais belo. Belém.... E já não se canta “até ao Jamor” mas “estamos no Jamor”! Até a bancada superior está toda de pé. É um mar de cachecós azuis a agitar-se. Acaba. É a festa, linda, de cá dentro. Só nós, só nós do Belenenses celebramos desta forma, com tantas lágrimas, com tanto coração! Ser do Belém é enorme, é único. Lágrimas de amor e de felicidade.... Toca o hino, como dantes, nas grandes vitórias. Alegria em cada rosto. Cá fora, abraço todos, até gente a quem pensei não perdoar. Fora do estádio há um concerto de buzinas que, sei depois, foram por Lisboa fora, pela Marginal, atravessando o Tejo. Vamos esperar os jogadores. Acenamos aos carros com bandeiras, eles apitam... é a alegria que volta a Belém. Foram 18 anos. Quanto fiz, vivi e passei em 18 anos! Vamos viver esta noite, guardá-la, festejar, com os nossos. Deitei-me às 6h da manhã. Não vou morrer parvo!
E já é Domingo. Ainda cansados, vamos ao Dragão. Todos nos sentimos assim. E todos queremos ganhar, dá gozo ganhar. Para uns, contudo, agora importante a sério é a final da Taça; outros, como eu, acham muito diferente ficar em 4º ou 5º, por razões históricas. A equipa é capaz de estar cansada dos 120m de 3 dias antes mas, no jogo, o seu cansaço parece é mental: desconcentrada, desequilibrada. Começamos cedo a perder, o 2-0 surge ainda antes do intervalo, péssima altura, porque retira a hipótese de pressão sobre os tripeiros, que nos permitisse chegar ao empate. Mas na 2ª parte, a nossa equipa surge muito melhor, e cedo Nivaldo reduz para 1-2. Um alívio, não vamos perder pesadamente, torneia-se o risco de eventual desmoralização; uma esperança, podemos empatar. Mas o jogo embrulha-se. Marco lesiona-se (tantas lesões dos nossos guarda-redes!), é longamente assistido mas tem que entrar Costinha. Fernando, isolado, perde o empate, que esteve à vista. Aí, sim, acho que se nos acaba o gás, o Porto volta a crescer, faz o 3-1, mata o jogo. Pena…bah, mas que se lixe. Perdemos dignamente. E o Braga empatou em casa com o Setúbal. Continuo com o pressentimento que ficamos em 4º.
O Beira-Mar vem ao Restelo, novamente bem composto, até por ser dia de eleições (sobre isso, claro, não falo aqui). Exibição razoável, com bom ambiente, de novo "Belém" de uma bancada para a outra. Garcés com um belo golo põe-nos a ganhar. Mesmo no fim, Dady, soberbo, faz mais outro. Alegria nas bancadas. O 4º lugar podia ter ficado assegurado mas a Académica e nós somos vítimas de novas decisões escandalosas a beneficiar o Braga, vitorioso em Coimbra. É com 3 pontos à maior que vamos ao Minho.
Entretanto, nessa tarde, reunião na sede da Fúria, cheia! É para se decidir o que se faz na final da Taça. Combina-se fazer 8 mil bandeiras azuis. Sente-se o entusiasmo no ar. Alguns recordamos outras finais. Temos que viver este momento.
Domingo seguinte. Bracarenses de Braga mas não forçosamente do Braga, como 1º clube. Um tutti fruti de adeptos de outros que vão ver o Braga (e alguns mesmo do clube), porque é lá da terra. Vão ser muitos, com Câmara e tudo o que é da terra a apoiar e com uma mobilização iniciada há mais de uma semana. Nós não mobilizamos, ou é tímida e tardiamente, porquê? Adiante. Autocarro da Margem Sul apedrejado por gajos boçais, de repente convencidos que são muito bons. Entradas sem consequência. Nós fizemos um estádio de uma pedreira, eles fizeram dum estádio uma pedreira. Na televisão parecia-me mais bonito. Mas não está mal feito. O estádio quase enche para ver o incomparável de Portugal: o grande e enorme Belém. Jogo morno. A meio da 1ª parte, golo deles, com a nossa defesa não isenta de culpa. Intervalo. O jogo já está no último terço quando o Belenenses começa a apertar. Duas, três jogadas perigosas e Dady, de novo, a 9 minutos do fim! Está a um golo do topo da lista de mercadores. Penso que estamos mesmo “abençoados”, em estado de graça; que bastou um bocadinho para chegar ao resultado que nos servia. O empate garantia o 4º lugar. Garantia… Inesperadamente, aos 90 minutos, na sequência de um livre, golo do Braga, quando “eles” já abandonavam o estádio. Fico a ver se é assinalado o offside que me pareceu. Não. Os gajos fazem a festa, parece que foram campeões europeus. O Belenenses é enorme. Ao longo dos tempos, quantos, cheios de ar de pavões vieram “marrar” connosco…e que é deles? Gosto da “pica” de sair altaneiramente de Braga. Penso que se perdermos o 4º lugar, ganhamos a Taça. Mas para já, o 4º lugar ainda é nosso, temos vantagem no goal-average.
O tempo vai passando, a coreografias e preparativos da Fúria para a Taça tardam a arrancar, mas hão-de arrancar.
Último jogo no Restelo, com o Marítimo. Impaciento-me com nada se fazer para encher ou compôr o Estádio. Informa-se que há entradas livres…20 horas antes do jogo. Timidamente. Para mais com tempo para o chuvoso, e com um discurso tipo “agora só a Taça é que interessa", que muito se poderia esperar? 7-8 mil pessoas. Merecia-se melhor ensaio para o Jamor. Mesmo assim, há algum ambiente, de uma bancada para a outra. Ao menos, somos todos beléns, apesar da despropositada referência a 3 de Lisboa nos 4 primeiros, que me revoltou, a mim e não só. O Belenenses joga em souplesse mas é quanto basta, com Garcés e Dady, este pela 1ª vez de Penalty, a facturarem. Marco Aurélio é titular, é acarinhado, aplaudido, recebe ramos de flores, vem agradecer. Emociona-se e emociona-me. Dói vê-lo partir. As más notícias vêm doutros lados. O Boavista, pois não havia de ser, perde em casa com o Braga. Liedson marca e continua com 1 de vantagem sobre Dadygol. A surpresa após o jogo: Jesus surpreende ao dizer que o Imperador vai ser titular em Alvalade e que ficará para o ano se quiser. Entretanto, nova reunião da Fúria. Acertam-se detalhes, acrescentam-se projectos e iniciativas e as 8 mil bandeiras estão a arrancar.
E nos dias seguintes, elas começam a afluir. Já há 2.500 feitas quando a notícia chega, brutal: não podem entrar. Depois...talvez afinal possam. O impasse arrasta-se e pára-se; mas outras coisas continuam a ser trabalhadas pela Fúria.
Alvalade para esquecer. Uma das 2 piores exibições da época. Tudo mau. Até o Liedson marca logo os 2 primeiros golos, arrumando a questão do melhor marcador. 4-0 é muito pesado: fere o orgulho. Há que reconhecer que o ambiente final deles foi espectacular. Mas ao menos não os vimos festejar o título. O Braga fez o pontito que nos tira o 4º lugar. Uma única dúvida: foi de propósito não mostrar o nosso jogo? Bem, sem Ruben e Gaúcho, não tínhamos meio-campo defensivo, de qualquer modo. Foi duro; mas como não pensava ganhar os dois jogos, talvez ganhemos o mais importante.
Começa a semana antes da final da Taça. Todas as noites menos uma no Restelo. Além das hastes das bandeiras proíbidas, muitos contratempos. Mas logo se recomeça, procurando alternativas. É isso o melhor do Belenenses: recomeçar sempre, resistir! Uma cruz vermelha imensa começa a surgir. E uma frase gigante: Belenenses Sempre! Sempre, sempre, sempre! E muitas faixas azuis de plástico. E sabe-se que há faixas de beléns de muitos sítios.
3ª feira, a esperança: talvez afinal autorizem as hastes das bandeiras. Pensa-se recomeçar. Há gente disposta a dar tudo por tudo. Mas vem, no fim de mais esperas, o não definitivo. Só com hastes levezinhas, tipo varetas. Acho que tanto empenho e trabalho não merece ser em vão, há quem possa mandar fazer, e o custo era limitado...tento um telefonema mas percebo que é em vão. Porquê?
Já é 5ª feira à noite. De novo para o Restelo. Passo no Marquês de Pombal na esperança de ver os cartazes “Descubra o Belenenses”. Nada. Tristeza. Vale a alegria da malta da Fúria, trabalha-se, há entusiasmo, camaradagem verdadeira. Alguns são autênticos heróis de esforço e dedicação. Fala-se do jogo...vamos ganhar? Já ninguém sabe, esperanças e receios misturam-se confusamente. E vai haver muita lagartagem no nosso lado? Combina-se que no meio da Fúria...nem um ficará.
6ª feira. Começa o fim-de-semana de toda uma geração. Há faixas que chegam. Aprontam-se as bandeiras enormes. A coreografia começa a ficar pronta: a bela cruz, a bela frase, o belo azul. Amanhã, bem cedo começa tudo a mexer, as últimas compras, começar a levar as coisas para o Jamor...tudo...
Sábado...um vento de emoção arrepia-me a pele. Saudamos, cá de cima, os jogadores que vão para o estágio. Força, rapazes! Almoço em Algés. No regresso, em dois ou três carros, cachecóis de fora, apitamos pelas ruas. Outros carros respondem, pessoas acenam. Estremeço de pensar na festa enorme que será, se ganharmos.
A sede da Fúria fervilha de trabalho. A Loja Azul está cheia, cheia, cheia. Restelo com vida, enfim! O Marinho Peres, os jogadores de 89, e outros no relvado do Restelo, para uma jogatana. Até nas bancadas há velhos rostos. Voo para 18, 20 anos atrás. Sinto o cheiro, o ambiente de outros tempos. “Meu velho Belém”! Alguns têm uma considerável barriguinha mas como sabem ainda jogar! Homenagem aos Campeões e vencedores de Taça. Mais o filho do primeiro de todos? Cansado, lá vou. Artur Quaresma é imenso, um mestre. Vicente, sem uma palavra, qual esfíngie, tem o peso da lenda. Comoção. Sinto-me feliz por sentirem o nosso respeito e gratidão infindáveis. Que bem fala o Castro! A história do Estevão impressiona-me: isso é belenensismo! Fez bem o Rodrigues em contar essa história, mais a do Raul Figueiredo. Juanico, Chico Faria, Sobrinho, parece que o tempo não passou. Na assistência, velhos rostos, venerandos... e gente que viu...e gente que quer ver. E a Fúria Azul tem igualmente o aplauso e reconhecimento merecidos.
Arranca-se para o Jamor. Começa a montar-se o tasco. Há alegria no ar. Estandartes de plástico, azuis com o nosso símbolo, sinalizam e bordeiam o caminho.
Tenho que ir dormir, o cansaço é muito. Mas chegamos cedo. Os sentimentos confundem-se, num turbilhão. Vai chegando cada vez mais gente. O tempo avança e vão-se pôr os materiais na bancada. Olho o estádio: como era diferente das outras vezes.... Olho para o outro lado, onde ficámos, penso no muro onde festejei a vitória de 89, lembro-me do meu Pai.
Há que comer qualquer coisa. Saúdam-se amigos. Passamos por lagartos. Vêm arrogantes: “Vai ser cada tiro um melro!” (penso: talvez te lixes); “olha, ainda há adeptos do Belém!” (muito mais do que imaginas. Vocês é que talvez não tivessem nenhum, se tivessem passado o que temos passado). Começam a chegar camionetas de fora. A malta rejubila, inflama-se: é o Belenenses profundo que ressurge.Vem de todo o país e do estrangeiro.
E chega a hora de entrar. Sentimos um aperto. No estádio há mais beléns, nessa altura, que lagartos. Mas sabe-se que a televisão só foi ao lado por onde entra a maior parte dos sportinguistas e diz que quase só há verdes. A **** do costume. Amanhã, se o Sporting ganhar, nos jornais vai parecer que jogaram sozinhos. O estádio vai enchendo. A malta do Belém está cheia de fôlego. Ainda domina o som do estádio. Mas começam a entrar lagartos para o nosso lado. Apetece-me fazer não sei o quê a quem traiu. A minha revolta só mudará de direcção quando, interrogando vários, sei que obtiveram os bilhetes no Sporting e na Federação (que nos dissera ao telefone que não vendiam ao público. Pois....).
O estádio está cheio, uns 35% são nossos, é menos que em 89, mas aguentámo-nos, ainda estamos vivos. Há muitos jovens azuis: a cadeia de transmissão continua a funcionar. Há um clube-mártir, uma nação clubística que resiste. As equipas entram. Erguemos tudo o que é Azul e Belém, as bandeiras, a cruz, a faixa, as vozes, as almas....
Vai começar. O Sporting faz logo perigo. Aos 10m, Amaral responde com remate perigoso. O jogo vai assentando. Eles atacam mais, mas reequilibrámo-nos. Aos 30m, o coração bate forte: sucessão de falhanços. É como se nós fizéssemos tudo para sofrer um golo e eles para não o marcarem. Reequilibramos. Agora somos nós a ameaçar. Boa jogada de Silas, belo remate...e Dady quase chegava para a recarga.
Intervalo. Estamos na luta. Tudo pode acontecer. O favoritismo deles ainda existe mas é ligeiro.
E reentramos bem, mais afoitos. Atacamos mais. O Sporting começa a ter cautelas. Aos 61m, Zé Pedro cruza...Dady de cabeça...Ricardo...bola na trave! A malta do Belenenses levanta-se, voltamo-nos para trás a pedir pata gritarmos todos e irrompe “Belém! Belém” Belém!”. Os minutos seguintes mostram a nossa equipa na mó de cima. O Sporting está receoso, até perde tempo. Rubén (que pena!) sai lesionado, entra Fernando. Jesus abre o jogo. E depois, mostra que veio para ganhar, lança Garcés e passamos a ter dois pontas de lança. Eu, que por cautela sou sempre pessimista, preparo-me para ganharmos. Chego a pensar: despachem isto, façam o golo para tranquilizar, estamos fartos de sofrer. Zé Pedro irrompe pela área, é tocado, mas ingenuamente, ou só a pensar no golo, não se atira para o chão. Vai ser na próxima, penso, espero. Mas o jogo embrulha-se, caminha para o final. Olho o relógio, faltam 5 minutos.. Penso no jogo de 1955...não, não pode ser, ainda por cima já perdemos este ano o 4º lugar no fim, não, não, não vai ser....Mas 2 minutos depois, com Amaral de fora e um a menos, vem o golpe: não posso acreditar!.... Tento ficar impávido. É a dor dos “meus” o que mais me preocupa. Desço mesmo cá para baixo, agarro na bandeira maior que ali há, agito-a: se cairmos, que seja de pé! Ainda se tenta gritar Belém. Nivaldo ainda quase que chega à bola num canto. Mas acaba. A festa é deles. Há lágrimas em tantos olhos azuis....outra vez! O que isto significava para nós, nem a lagartagem, nem os jornaleiros e repórteres podem imaginar. Saio lá para fora, para não parecer que faço número. A aparelhagem despeja músicas do Sporting; lá puseram o nosso hino mas nem o deixaram acabar.
Ainda há que carregar as coisas. Na malta do Belém, os sentimentos misturam-se: orgulho, inconformismo, tristeza, valeu a pena, olhar para o futuro. Todos sabemos que a nossa equipa foi digna. Mas só depois de uma noite dormida vejo tão claro que estivemos mesmo, mesmo a ganhar...
E acabou a época. Preocupações e esperanças: problemas financeiros? Não podemos jogar no Restelo para a Uefa? Vamos ter outra vez uma boa equipa. Talvez cheguemos no mínimo à fase de grupos, oxalá que sim, e só se não puder é que não vou ver o 1º jogo fora...
Apesar disto, fora um desfecho justo e feliz e, ao ver entrar a nossa equipa em campo, no lugar que nos é próprio, na divisão maior, novamente me comovi e senti revigorado, como todas as 3 vezes que tínhamos saído do inferno da divisão secundária. “Meu Deus, do que nos safámos”, pensei, e, ao mesmo tempo que senti algum calor, olhei os que estávamos presentes, menos de 6 mil nossos num domingo solarengo, lembrei outros tempos, e pensei “por este andar, quantos anos durará o Belenenses?”. Ganhámos 2-0, fizemos uma boa 2ª parte, houve alegria, fui para casa mais contente.
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2ª jornada, rumo a Coimbra. 500 belenenses presentes. Bom para os tempos que correm. Aos 12m já perdíamos mas Jorge Jesus começa a mostrar o que vale, mexendo arrojadamente na equipa, e o empate 1-1, com 20 minutos com menos um jogador, foi visto como positivo. O convívio com as gentes de Coimbra, o respeito com que nos continuam a ver (“desta vez, vocês foram malandrecos a ficar na 1ª, mas está bem, vocês sempre foram um clube de bem, ainda têm um crédito muito grande de respeito”), a alegria da Fúria, o regresso dos aplausos a jogadores, a alegria de estarmos juntos, reconciliou-me com a vida clubística. Voltei a ver: que triste seria o nosso clube sem a presença, as vozes e as cores da Fúria Azul!
3ª jornada, sábado à noite, 4.500 pessoas no Restelo. Empate decepcionante com a Naval, sem golos. Apesar de tudo, Jesus foi inteligente, porque Couceiro teria deixado fugir o ponto. Roma confirmou os receios de Coimbra: tecnicamente bom mas com deficit físico. A comoção veio no intervalo: dezenas de filiais de todo o mundo a desfilar na pista, mostrando onde chegou a grandeza do Belenenses! Sim, o Belenenses teve que ser enorme, para depois de tudo, ainda resistir! Foi para mim um ponto alto de muitas celebrações de 2006, que foram fraquinhas ou ignoradas.4ª jornada, a maldição do Boavista no Restelo. Há quantos anos há um golo no primeiro ou no último remate dos “gajos”. Não jogam nada, como o campeonato mostrou, mas levaram-nos os 3 pontos. Primeira grande irritação da época!
5ª jornada, vamos à Madeira defrontar o Nacional. Vemos em casa de amigo pastel, 4 beléns reunidos. Grande golo de Alvim, a confirmar que não é só bom a defender. Dady a mostrar-se, com grande tiro a esbarrar na trave. Perdemos, aceita-se – bolas, o 2º golo do Nacional estava a adivinhar-se –, mas não jogámos mal. Um problema começa a atormentar: e quem marca golos? E outro: com 2 jogos fora e 3 em casa, a média de pontos é inferior ao ano passado. Temos que ganhar ao Paços!
Ganhámos. 2-0. Com relativa facilidade. Na altura pensámos: que belos 3 pontos para dar tranquilidade! Mais tarde veríamos que teriam importância para outras contas. Voltou a calma mas também a desolação das bancadas, numa noite com chuva. Vamos às Aves, lugar da desolação na época anterior. A comoção: ver Belenenses daquela vila, fazer com que um pastel pudesse ver um jogo 45 anos depois. Malta porreira, os avenses. Jogo mal jogado, num terreno em péssimo estado. O Belenenses parecia que não queria ganhar... mas finalmente Dady estreia-se a marcar. O rapaz já merecia. E nós já mereciámos voltar a ganhar fora. Volta a alegria: “Eu, tu e nós todos, somos Belenenses, porque ele é bom, porque ele é o maior”. A Marcha de Pompa e Circunstância. Azul. 3 vitórias, 2 empates, 2 derrotas. Saldo positivo. Anh?! Estranho.
Leiria no Restelo. Entramos a dormir, a dormir estávamos quando eles fazem 1-0. Pessimismo: não temos quem marque. Na 2ª parte entramos com atitude. Vem a tempestade. O Restelo torna-se um lago. A equipa demora a adaptar-se. Naquele terreno só pode ser pontapé para o barulho. Os jogadores lutam, correm, mas já é tarde.
Amadora. Os lampiões com riscas verdes da Reboleira. Nunca vi tão poucos pastéis na Amadora. Tenho um mau pressentimento. Surgiu depois do jogo magnífico de andebol com o ABC, 2 dias antes, bela assistência no Acácio Rosa, bela vitória da equipa mais “o povo”. As coisas nunca correm bem várias vezes seguidas. O fio de esperança de que o Belenenses possa voltar a ser grande tinha que ser quebrado. Piores receios confirmados. Derrota e exibição paupérrima. O medo de descer, com toda a gozação que traria, instala-se. Manoel, pá, ao menos mexe-te!
Recebemos o Porto em casa. A confiança está quase no grau zero. Insólito: penso menos no futebol que no andebol, nesse dia. Como em 94, quando deixei a meio um jogo com o Boavista, para ir ver o Belenenses ser campeão no nosso Pavilhão. Foi lá que também festejámos o golo do 2-1 ao Boavista, do jogo de futebol que continuava. 19 de Março de 1994. O último campeonato de Andebol que ganhámos, em jogo decisivo com o Benfica, com o Pavilhão a rebentar pelas costuras. Empate que valeu o título. Agora, de novo o Benfica. E de novo um empate. Mas valeu a pena. 60 minutos sempre a gritar Belém, um ambiente fantástico, bela assistência, menos que em 94, claro, mas mesmo assim, mil pessoas. Com a nossa equipa no 1º lugar, viu-se o velho Belenenses. E viu-se um público sedento de orgulho, de vitórias, de lideranças, de rivalidades com outros grandes clubes. Pena a desconcentração a meio da 2º parte – ou terá sido melhor assim? Não sei, porque valeu a emoção da garra e querer da equipa, levada ao colo pela assistência, recuperando 3 golos de desvantagem. Chiça, a lendária “vaca” do Benfica: no último segundo a bola bate-lhes em 2 postes...e não entra!
Ah, pois, o jogo com o Porto. Perdemos como esperava. Inofensivos no ataque – como podemos fazer pontos sem marcar? Ao menos, fomos eficazes na defesa, grande Gaspar, que secou o Quaresma! A velha história, o canto de onde veio o golo era falta contra eles. Mas estava escrito. Perdemos.
E agora? Vamos a Aveiro. Se perdermos, a coisa fica muito feia, resvalamos para linha de água. Noutras condições, seria uma festa, que há muitos beléns naquela zona. Assim... A 20 minutos do estádio a camioneta avaria. Ao frio, numa paragem da auto-estrada, a notícia: Goooloooo! Belém, Zé Pedro! No táxi, a caminho do estádio, a telemóvel, vozes amigas, 2-0 Dady! Boa, rapaz! O insólito: ganhámos num jogo em que vi o adversário marcar um golo e nós nada. Que se lixe. 3 pontos que podem valer ouro. Alivia-se o sufoco.
E vem o Braga. Não sei que pensar. Gostava de ganhar àqueles novos-ricos com a mania que são alguém. Mas têm uma equipa forte, o seu a seu dono. As bancadas tristes: chuva, pouco mais de 2 mil pessoas, já contando os 30 “deles”. Melhor não podia começar: balão de Gaúcho, a classe e a calma de Silas – toma lá! Aguentamos a 1º parte, caímos em cima deles na 2ª...Ruben, olha é tua! É mesmo, está lá dentro, 2-0, vai buscar! As coisas recompõem-se. Temos tantas vitorias como derrotas...só que também com mais 2 jogos em casa.
Madeira de novo, com o Marítimo. Televisão, na mesma casa de pastéis. Que é isto? Entramos à campeão! 9 minutos, Zé Pedro, passe de uns 30 metros, genial, Silas, outra vez a classe, tira o adversário da frente, quem sabe, sabe, bola lá dentro, golaço...Uhhhhh! Fim da 1º parte...2-0! Querem ver que vamos ver a 2ª parte descansada?! Não, o Marítimo volta diferente, a coisa parece complicar-se mas Jesus não dorme. Entra o Eliseu. Recebe a bola de um lançamento, passa um, passa outro, outro ainda, que é que ele vai fazer? Cruzar? Não: bola lá dentro! Goooooooooloooo! Levantamo-nos, dançamos, apertamos as mãos no meio da sala, palmadas nas costas! E aí vai o Eliseu outra vez....vai, vai, vai, penalti! É Mesmo. Zé Pedro, vá...boa, tá lá! Vamos para os 5 e os 6...o árbitro não deixa, anula um golo limpo, inventa um fora de jogo, sempre o Eliseu, mais o Amorim, mais todos...pena sofrermos um golo esquisito. Mas que se lixe! 4-1 fora! E espreitamos os lugares cimeiros! E se jogarmos assim, o Benfica vai tremer na Luz!
E lá vamos. Grande entusiasmo. Mas sinto que vamos perder. Quando estamos bem, costumamos perder lá. E ganhamos ou empatamos quando estamos mal. Tirando velhos tempos. Saímos 150 do Restelo. Lá, somos uns 600. Contra 40 mil índios. Somos recebidos no meio da selva, por indígenas. Mas é nestas alturas que mais sinto que só podia ser Belém. "Tenho todo o orgulho, sou Belém até morrer". O jogo? A velha vaca do Benfica. Mais o árbitro. Nós a jogar e eles a marcar. Mas aqueles boçais são incapazes de reconhecer. Bem, se nos odeiam assim, é porque alguma coisa ainda somos e lhes faz sombra. Lindas as bandeiras e cachecoladas azuis. Penalty inventado: 1-0. Três cantos seguidos contra eles. Penalty por marcar contra eles. Nós a falhar oportunidades. Livre conta eles é marcado ao contrário. Bola bate na barreira, Costinha escorrega: 2-0. Intervalo. Mas quase só se ouviu Belém. Falhamos mais 2 oportunidades. Golo deles em fora de jogo: 3-0. Na selva, ousamos responder às feras desmioladas. Golo de Dady! Não, incrível, o Quim defende tudo mais o poste. E ainda só se ouve Belém! "Como gritas quando vences? Belenenses, Belenenses! Mas se não vences, gritas também...Belém, Belém, só Belém!" Mais um golo fora de jogo: 4-0. Toda a gente viu que jogámos melhor. Jogadores vêm agradecer e aplaudir-nos. A saída do estádio é quase épica: não celebramos a derrota, nem a vitória moral, mas o ORGULHO DE SER BELÉM! Eles riem-se, fazem gestos incompreensíveis...preferia estar na 5ª divisão dos distritais que ser da carneirada! Belém, só Belém!
Três semanas infindáveis sem jogar. Então, 1º jogo da Taça, em Paredes. Por vezes, estes jogos dão mau resultado. Temos tudo a perder e pouco a ganhar. Acidente impede-me de ir. Via sms, as boas notícias chegam cedo. Ainda não há 20 minutos e já ganhamos 2-0. Penso que está ganho. Subitamente, 1-2. Preocupo-me: ”se eles crescem...”. A 2ª parte corre. Sms diz-me que não estamos bem. E o golpe: 2-2. Inquietação. Grande porra! Prolongamento, sofrer... e o alívio 3-2. E para acabar as dúvidas 4-2. Bem, esta já está! E “ganda” Atlético! Bolas, não sequem tudo, queriam lixá-los com um penalty! Sempre o mesmo! Os três metralhas querem comer tudo, seja como for.
Recebemos o Sporting no Restelo. Gostava muito de ganhar. E era importante. Não mais do que 9 /10 mil espectadores, cerca de 50% nossos. A Fúria Azul faz coreografia que colegas meus, espectadores de TV, elogiam: “Afinal o Belém tem juventude!”. Controlamos o jogo na 1ª parte, 0-0. Na 2ª parte, começamos a dominar. Silas vai fazer golo, já gritamos, o frémito de emoção...incrível, sobre o risco um jogador deles salva. Eles estão à nora, expulsão, Sporting só com 10. Não nos adaptamos à situação, passamos a jogar pior. Tivemos a vitória ao alcance mas deixámo-la escapar. Jogo sem golos.
E acaba a 1ª volta. Meio da tabela, mesmo número de vitórias e derrotas, com 3 empates. A linha de água está longe, desvanecendo pesadelos. E lugares mais “nossos” não estão longe. Vamos ver...
Gondomar, jogo marcante. Na terra de Valentim Loureiro (mas de boa gente), oito panteras agridem dois belenenses. Nojo! Cobardes! São “dissidentes” da Fúria, mas nem por isso a mesma Fúria deixa de tentar perseguir os ranhosos. Já não se encontram. Damos a volta ao estádio (estranho percurso) e ao longe já se ouve gritar “Belém” – só “Belém”. Somos muitos. Alguns amigos do Salgueiros. E com a nossa equipa em grande, até Roma parece renascer e faz 1-0. O mais difícil está feito. Mas eles empatam! Outra vez?! Não, logo a nossa equipa pega no jogo! Grande golo de Ruben Amorim, brutal! Agora, nada de facilitar, anh? Silas joga, faz jogar e falha golos, mas enfim marca. 3-1. A Fúria e os restantes adeptos do Belém, todos juntos, fazem a festa. Os 45 minutos finais são um espectáculo! Sem parar! O novo cântico, ensaiado na viagem, impõe-se e pelo resto da época. Eliseu ainda faz 4-1. No fim, outro cântico surge, impressionante: “Oóó, até ao Jamor! Até ao Jamor, até ao Jamor, até ao Jamor”!. Sinto “algo” – que vamos lá mesmo. Daquelas coisas difíceis de explicar. E venho de Gondomar com a alma lavada...
Bem, não posso acreditar que haja 2 épocas seguidas no Restelo sem ganhar aos 3 metralhas nossos rivais! Temos de ganhar hoje ao Benfica. Noite fria, assistência aquém do que esperava (de ambos) – mais ou menos o mesmo que com o Sporting. Desce o pano “Orgulho de ser Belenenses”. É isso mesmo! Entramos a dominar. Logo nos 1ºs minutos, o nosso golo é iminente. Depois, 1 das jogadas mais estúpidas que já vi, infantilidade, mais a “velha vaca” do Benfica...e com outra falha da nossa defesa, 0-2. Ao intervalo, há amigos ainda confiantes. Eu não. Quando o Benfica tem sorte, e tantas vezes é assim, tem-na mesmo. Alvim faz um jogo fantástico, Garcés estreia-se e gosto. A 4 do minutos do fim, Silas reduz. Ainda nos “revoltamos”, tenta-se puxar pelo nosso público...vamos ao empate? Mas já quase não se joga. Zé Pedro ainda é indecentemente expulso. O árbitro já se rira no 1º golo do Benfica... Fico-me por aqui...Recebemos o Sporting no Restelo. Gostava muito de ganhar. E era importante. Não mais do que 9 /10 mil espectadores, cerca de 50% nossos. A Fúria Azul faz coreografia que colegas meus, espectadores de TV, elogiam: “Afinal o Belém tem juventude!”. Controlamos o jogo na 1ª parte, 0-0. Na 2ª parte, começamos a dominar. Silas vai fazer golo, já gritamos, o frémito de emoção...incrível, sobre o risco um jogador deles salva. Eles estão à nora, expulsão, Sporting só com 10. Não nos adaptamos à situação, passamos a jogar pior. Tivemos a vitória ao alcance mas deixámo-la escapar. Jogo sem golos.
E acaba a 1ª volta. Meio da tabela, mesmo número de vitórias e derrotas, com 3 empates. A linha de água está longe, desvanecendo pesadelos. E lugares mais “nossos” não estão longe. Vamos ver...
Gondomar, jogo marcante. Na terra de Valentim Loureiro (mas de boa gente), oito panteras agridem dois belenenses. Nojo! Cobardes! São “dissidentes” da Fúria, mas nem por isso a mesma Fúria deixa de tentar perseguir os ranhosos. Já não se encontram. Damos a volta ao estádio (estranho percurso) e ao longe já se ouve gritar “Belém” – só “Belém”. Somos muitos. Alguns amigos do Salgueiros. E com a nossa equipa em grande, até Roma parece renascer e faz 1-0. O mais difícil está feito. Mas eles empatam! Outra vez?! Não, logo a nossa equipa pega no jogo! Grande golo de Ruben Amorim, brutal! Agora, nada de facilitar, anh? Silas joga, faz jogar e falha golos, mas enfim marca. 3-1. A Fúria e os restantes adeptos do Belém, todos juntos, fazem a festa. Os 45 minutos finais são um espectáculo! Sem parar! O novo cântico, ensaiado na viagem, impõe-se e pelo resto da época. Eliseu ainda faz 4-1. No fim, outro cântico surge, impressionante: “Oóó, até ao Jamor! Até ao Jamor, até ao Jamor, até ao Jamor”!. Sinto “algo” – que vamos lá mesmo. Daquelas coisas difíceis de explicar. E venho de Gondomar com a alma lavada...
Controlada a “raiva”, vamos a Setúbal. Comboio azul. A malta do VIII Exército é porreira. Bela sala de troféus do Vitória. Há muita gente – e carros – azuis por Setúbal. Costinha dá-nos quase um ataque de coração aos 2 ou 3 minutos mas logo Garcés serve Dady e este faz o golo. Foi o único. Chegou. Três pontos importantes. Boa disposição.
Esperava uma grande tarde em Odivelas, no nosso 3ª jogo da Taça de Portugal. Mas chove, o que afasta gente. A bancada (10 €!!!) é um lodaçal. E a nossa equipa parece atolar-se...complica, tenta jogar bonito naquele terreno. Em vão. Alguns calafrios, até. Na 2ª parte, entramos melhor mas o tempo vai passando. Finalmente, finalmente mesmo, Garcés descansa-nos...quase: 1-0. O Belenenses parece que vai resolver a questão mas o Odivelas resiste até ao fim, mesmo quando 1 deles é expulso...e só descansamos com o apito final. Não foi bom. Mas seguimos em frente, era o mais importante. Eheh, Benfica out! Boa, Varzim! (o 2º golo é do Mendonça).
E recebemos a Académica. 2ª f à noite. Com a combinação dos resultados da jornada, podemos saltar para lugares europeus. A história da Europa sempre me irritou um bocado. Acho que os jornalistas a usam para separar equipas de 2º plano das que lutam para o título, as de 1º plano; e não quero que o Belenenses seja de 2º plano. Mas, depois de 17 ou 18 anos sem jogos europeus, gostava, sim, de reviver essas noites. Vou para o estádio com a duplicidade: costumamos falhar sempre que podemos dar um salto; mas estamos a fazer melhor fora do que em casa, isto vai equilibrar. Foi o pior possível. Assistência miserável, a pior da época – bolas, custa assim tanto deixar o sofá? E custa assim tanto chamar as pessoas? E 1 derrota, com 1 intervenção infeliz de Costinha. Já vi este filme muitas vezes, estava na cara que íamos perder. No fim, algo a que nos “agarrarmos”, 15 jogadores com gripe. Explica, por exemplo, um Alvim de rastos, muito distante do gigante que vinha a ser.
Vamos à Figueira jogar com o Naval. Outra vez, como em Aveiro, não há a hipótese duma grande presença azul, face ao resultado desmotivante do jogo anterior. Sinto que é 1 jogo fundamental. Se ganharmos, continuamos a olhar os lugares cimeiros e vamos moralizados a Bragança. Se perdermos, o efeito anímico é o oposto e conformamo-nos a campeonato tranquilo. Entrada em grande: o magnífico Nivaldo, de canto, imperial! Eliseu, portentoso, ganha a bola ao guarda-redes, cruza, e Dady, no lugar certo, carimba. Euforia! As oportunidades sucedem-se. De repente, a surpresa. Golo deles. O Naval agiganta-se; o Belém parece perdido. 10 m da 2ª parte, 2-2. Mas que porra esta! Ainda perdemos. Mas não, entra Ruben, mesmo doente, a equipa serena. Volta a subir no terreno. Garcés amortece, mostra mais uma vez a sua utilidade, e Zé Pedro... pumba, 3-2! Festejo com muita gana, sim, um dos festejos mais vibrantes da época, sei que é importantíssimo. Há que aguentar...Acabou! Ganhámos! Voltamos a olhar para cima.
Seguiu-se o clube da Rotunda. 2ª feira à noite, dia de trabalho, impossível ir. Resta a TV. Um empate anunciado. À nossa equipa, cansada e assolada por gripes, dificilmente se poderia exigir mais. Talvez se pudesse ter arriscado mais; contudo, o ponto conquistado abre boas perspectivas para o próximo jogo. No estádio só se ouvia “Belém!”.
Quartos de final da Taça em Bragança. Não posso mesmo ir. Vai o meu coração. Que está apertado, por muito que razão me mostre que havemos de ganhar. Ansiedade. Que bom era marcarmos um golo cedo. Mas não...Vou para um sítio onde nada possa saber mas só aguento um pouco. Ao voltar 2 sms. Estamos a perder 1-0. Intervalo. Bolas! Em lojas, mulheres falam do jogo e vê-se que algumas são Belém. Continuamos a existir! Que eternidades passam...E já um quarto de hora da 2ª parte e, passa, passa...até que GOOOLO! Nervoso, ando de um lado para o outro. Pouco depois 2-1. Vou para um sítio isolado, estou nervoso e comovido demais. Um colega alapa-se-me ao computador, com miudezas do trabalho. É lagarto e sabe que eu sou Belém, que quero saber do jogo – mas o sacana não larga. Raio que o parta. Enfim sei notícias, acabou, ganhámos! Sei das confusões, enfim estou só, falo por tlm com um amigo belenenses, liberto a tensão acumulada e, abrindo a janela, exorcizo o “sacana” do lagarto, soltando um “Sporting é merda!". Estou aliviado, lá pego no trabalho... Quem sairá nas meias finais? E entretanto, o Boavista já foi "à vida"! Que "pena"...
Volta o Campeonato. Será desta? Ou vamos falhar de novo? Finalmente, agarramos uma oportunidade. Eis Dady em grande e chegamos ao intervalo com a tranquila vantagem de dois golos sobre o Nacional. Depois, foi controlar. Marco Gonçalves esteve seguríssimo, temos Guarda-Redes. Pequena festa… Estamos na zona Europeia. O Nacional fica para trás.
Paços de Ferreira, local de ansiedades o ano passado e há 3 anos. Desta vez, estou bem disposto. Perder será mau mas não desastroso. Empatar será razoável. Ganhar, será excelente. O Paços ainda não perdeu em casa e sinto que vamos ser nós. Mas temos 44 minutos desesperantes. Que é da nossa equipa? Paços à beira do golo, vale a segurança de Marco G. E de repente, tudo muda. A tal classe extra de Silas que às vezes aparece, um passe de génio a isolar Cândido Costa, que marca. O Cândido já merecia. Começou mal a época mas depois desatou a jogar. E é daqueles que vibra connosco. Vem a 2ª parte. A pouco e pouco, o PF volta a crescer. Jesus é cinicamente sublime. Estica a corda até onde pode, e então faz entrar Garcés. O jogo muda, e fazemos o 2-0. Dady! Está ganho! Se fosse o Benfica, o que não seriam as capas de amanhã… Até parece que estou a ler: "Nem o Paços resiste ao Benfica". Assim, como fomos nós...
Aves em Casa. Parece fácil mas é nestes jogos que a coisa às vezes se complica. O Restelo continua triste – acordem, caraças! Dady aos 15 m, volta a facturar – respira confiança, cresce jogo a jogo. Sofremos até ao fim, não sentenciamos o jogo nas oportunidades que tivemos mas... 1-0 chega. Um penalty inventado a favor do Braga contra o Naval, a terminar a partida, impede-nos de chegar ao 4º lugar. Mas seguimos na zona Europeia.
Segue-se Leiria. Outro local maldito, como Barcelos. Aqui se choraram as lágrimas da 1ª descida…o incrível! Vou optimista. Um empate e sobretudo a vitória deverá carimbar-nos o passaporte europeu, se não for pela Taça, é pelo Campeonato. A não ser que houvesse um cataclismo… Jesus é mestre de xadrez. Adormece o jogo no 0-0, a meio da 2ª parte volta a lançar Garcés e, de novo, pouco minutos depois, fazemos o golo. Amaral, finalmente ao seu melhor nível, cruza a preceito e Dady lá está! Grande alegria! Falta pouco; Nivaldo, Rolando, Sandro Gaúcho, Alvim e os outros controlam. Os belenenses estão em maioria no estádio e fazem a festa.
Muitos abraços. Só não percebo porque havemos de ficar separados em 2 sectores, cada um para seu lado. Porque é que não gostam da alegria de estarmos todos juntos? No caminho de regresso, a notícia. O Braga perde, estamos em 4º lugar. Nos 4 primeiros, os nossos lugares históricos.
Mais uma semana, e recebemos o Estrela. Com o pensamento já nas meias-finais, uma tarde alegre. Finalmente, o Restelo regista uma razoável assistência. A 1ª parte é um festival. Garcés, 2 vezes, e Dady, deixam-nos em delírio. Mas não só eles: Ruben, Silas, Zé Pedro, que bem trocam e passam a bola! Amaral e Alvim, sobem a preceito. Os centrais e o guardião controlam o resto. Há jogadas empolgantes. Grita-se “Belém” de uma bancada para a outra. O 3-0 ao intervalo dura até final mas a alegria também. O Braga perde, e temos 4 pontos de avanço sobre eles, apesar do Benfica, sempre a fazer o que não deve, não lhes conseguir ganhar na Lu. Nem para isso serve. A 5 jornadas do fim, estamos em 4º e comenta-se: “mais umas jornadas e apanhávamos o Sporting e o Benfica…”.
É sábado, 5ª feira é a aguardada meia-final. É preciso completar a coreografia idealizada e já adiantada por outros companheiros. Armada Invencível (no mar azul) Rumo ao Jamor. Tenho pouca habilidade. Mas estar presente pode ser um acto de solidariedade. Nem que seja carregar uns plásticos, pode ajudar. E assim partilhamos o nervoso miudinho, divididos entre a esperança e o receio. (entretanto, mais uma vez por 1 golo, acaba o sonho de sermos Campeões em Andebol. João Pinto lavado em lágrimas, é algo que nunca esquecerei. Vê-lo-ei de novo, trajado de Belém a rigor, na final do Jamor).
Chega “o“ dia. Saio bem cedo para o Restelo. Expectativa no ar. Quantos seremos ? E eles? Há versões desencontradas. Fala-se que dos nossos 15 mil bilhetes já saíram e que deles podem vir 4 mil. Como sempre, penso que o Belenenses devia ter feito muito mais para trazer a sua gente.
O jogo vai começar e a prova está feita. 9 mil pessoas. Um pouco menos de 2 mil deles, uns 7 mil nossos. Mas somos dos bons. O ambiente é magnifico, fantástico. A coreografia ergue-se. E aos 5m, o sonho parece real. Passe magistral de Amorim, Dady desvia a bola do guarda-redes e ela vai para a baliza. Entrou! É o delírio! Abraços, lágrimas, festejos sem fim e “Belém! Belém! Belém!”. E aí vamos nós outra vez para o ataque...mas sai mal. E então, tudo começa a sair mal e o Braga joga que se farta. São-lhes anulados 2 golos. Mas esperamos o pior. Não seria melhor entrar o Sandro Gaúcho, para reforçar o meio campo defensivo? Por outro lado, não seria cedo demais? Mas pronto...é golo deles! E agora? E se eles crescem mais e nós continuamos mal? Apesar de tudo não. O jogo reequilibra-se, eles parecem dar-se por satisfeitos, antes do intervalo começamos a recuperar a iniciativa.
Vem a 2ª parte. Equilíbrio, talvez ligeiro domínio nosso. Nós temos equipa mais consistente, eles mais unidades que podem desequilibrar. Roem-se unhas, há quem não páre de chorar de nervos – que crescem em todos. O jogo caminha para os 90m e nós agora dominamos. Carlitos entrou muito bem. E em cima dos 90, cruza, Dady salta...goooloooo! É goloooo! Não...foi com a mão... Anulado, bem.
Vem o prolongamento. Tenho a boca seca de gritar. Peço um gole de cerveja. Dão-me. Somos todos Belém! E todos estamos a sofrer. O Belenenses corre contra o tempo, tentando marcar para evitar odesempate por penaltys. Eles ficam com dez. Só quase se joga no meio campo deles. O perigo ronda a baliza bracarense mas a bola não entra. Até que aos 112m, penalty indiscutível a nosso favor. Delírio. Perco a cabeça: só grito, “tem que ser, tem que entrar, tem que entrar!”. Mas de repente fico sereno. Tantas vezes vi falharmos penaltis decisivos mas tenho a certeza que este vai ser golo. Cessam enfim as cenas dos jogadores do Braga, até para desestabilizar o Zé Pedro. O estádio está todo de pé, é um momentum, um instante que vale 18 anos. Zé Pedro olha o guarda-redes e tem a superioridade nos olhos. Parte para a bola, remata, está lá dentro!
Vem o prolongamento. Tenho a boca seca de gritar. Peço um gole de cerveja. Dão-me. Somos todos Belém! E todos estamos a sofrer. O Belenenses corre contra o tempo, tentando marcar para evitar odesempate por penaltys. Eles ficam com dez. Só quase se joga no meio campo deles. O perigo ronda a baliza bracarense mas a bola não entra. Até que aos 112m, penalty indiscutível a nosso favor. Delírio. Perco a cabeça: só grito, “tem que ser, tem que entrar, tem que entrar!”. Mas de repente fico sereno. Tantas vezes vi falharmos penaltis decisivos mas tenho a certeza que este vai ser golo. Cessam enfim as cenas dos jogadores do Braga, até para desestabilizar o Zé Pedro. O estádio está todo de pé, é um momentum, um instante que vale 18 anos. Zé Pedro olha o guarda-redes e tem a superioridade nos olhos. Parte para a bola, remata, está lá dentro!
É a loucura! Homens, mulheres, velhos, jovens, todos exultam e grande parte tem as lágrimas nos olhos. O grito “Belém! Belém! Belém!” atroa no estádio. Não há grito mais belo. Belém.... E já não se canta “até ao Jamor” mas “estamos no Jamor”! Até a bancada superior está toda de pé. É um mar de cachecós azuis a agitar-se. Acaba. É a festa, linda, de cá dentro. Só nós, só nós do Belenenses celebramos desta forma, com tantas lágrimas, com tanto coração! Ser do Belém é enorme, é único. Lágrimas de amor e de felicidade.... Toca o hino, como dantes, nas grandes vitórias. Alegria em cada rosto. Cá fora, abraço todos, até gente a quem pensei não perdoar. Fora do estádio há um concerto de buzinas que, sei depois, foram por Lisboa fora, pela Marginal, atravessando o Tejo. Vamos esperar os jogadores. Acenamos aos carros com bandeiras, eles apitam... é a alegria que volta a Belém. Foram 18 anos. Quanto fiz, vivi e passei em 18 anos! Vamos viver esta noite, guardá-la, festejar, com os nossos. Deitei-me às 6h da manhã. Não vou morrer parvo!
E já é Domingo. Ainda cansados, vamos ao Dragão. Todos nos sentimos assim. E todos queremos ganhar, dá gozo ganhar. Para uns, contudo, agora importante a sério é a final da Taça; outros, como eu, acham muito diferente ficar em 4º ou 5º, por razões históricas. A equipa é capaz de estar cansada dos 120m de 3 dias antes mas, no jogo, o seu cansaço parece é mental: desconcentrada, desequilibrada. Começamos cedo a perder, o 2-0 surge ainda antes do intervalo, péssima altura, porque retira a hipótese de pressão sobre os tripeiros, que nos permitisse chegar ao empate. Mas na 2ª parte, a nossa equipa surge muito melhor, e cedo Nivaldo reduz para 1-2. Um alívio, não vamos perder pesadamente, torneia-se o risco de eventual desmoralização; uma esperança, podemos empatar. Mas o jogo embrulha-se. Marco lesiona-se (tantas lesões dos nossos guarda-redes!), é longamente assistido mas tem que entrar Costinha. Fernando, isolado, perde o empate, que esteve à vista. Aí, sim, acho que se nos acaba o gás, o Porto volta a crescer, faz o 3-1, mata o jogo. Pena…bah, mas que se lixe. Perdemos dignamente. E o Braga empatou em casa com o Setúbal. Continuo com o pressentimento que ficamos em 4º.
O Beira-Mar vem ao Restelo, novamente bem composto, até por ser dia de eleições (sobre isso, claro, não falo aqui). Exibição razoável, com bom ambiente, de novo "Belém" de uma bancada para a outra. Garcés com um belo golo põe-nos a ganhar. Mesmo no fim, Dady, soberbo, faz mais outro. Alegria nas bancadas. O 4º lugar podia ter ficado assegurado mas a Académica e nós somos vítimas de novas decisões escandalosas a beneficiar o Braga, vitorioso em Coimbra. É com 3 pontos à maior que vamos ao Minho.
Entretanto, nessa tarde, reunião na sede da Fúria, cheia! É para se decidir o que se faz na final da Taça. Combina-se fazer 8 mil bandeiras azuis. Sente-se o entusiasmo no ar. Alguns recordamos outras finais. Temos que viver este momento.
Domingo seguinte. Bracarenses de Braga mas não forçosamente do Braga, como 1º clube. Um tutti fruti de adeptos de outros que vão ver o Braga (e alguns mesmo do clube), porque é lá da terra. Vão ser muitos, com Câmara e tudo o que é da terra a apoiar e com uma mobilização iniciada há mais de uma semana. Nós não mobilizamos, ou é tímida e tardiamente, porquê? Adiante. Autocarro da Margem Sul apedrejado por gajos boçais, de repente convencidos que são muito bons. Entradas sem consequência. Nós fizemos um estádio de uma pedreira, eles fizeram dum estádio uma pedreira. Na televisão parecia-me mais bonito. Mas não está mal feito. O estádio quase enche para ver o incomparável de Portugal: o grande e enorme Belém. Jogo morno. A meio da 1ª parte, golo deles, com a nossa defesa não isenta de culpa. Intervalo. O jogo já está no último terço quando o Belenenses começa a apertar. Duas, três jogadas perigosas e Dady, de novo, a 9 minutos do fim! Está a um golo do topo da lista de mercadores. Penso que estamos mesmo “abençoados”, em estado de graça; que bastou um bocadinho para chegar ao resultado que nos servia. O empate garantia o 4º lugar. Garantia… Inesperadamente, aos 90 minutos, na sequência de um livre, golo do Braga, quando “eles” já abandonavam o estádio. Fico a ver se é assinalado o offside que me pareceu. Não. Os gajos fazem a festa, parece que foram campeões europeus. O Belenenses é enorme. Ao longo dos tempos, quantos, cheios de ar de pavões vieram “marrar” connosco…e que é deles? Gosto da “pica” de sair altaneiramente de Braga. Penso que se perdermos o 4º lugar, ganhamos a Taça. Mas para já, o 4º lugar ainda é nosso, temos vantagem no goal-average.
O tempo vai passando, a coreografias e preparativos da Fúria para a Taça tardam a arrancar, mas hão-de arrancar.
Último jogo no Restelo, com o Marítimo. Impaciento-me com nada se fazer para encher ou compôr o Estádio. Informa-se que há entradas livres…20 horas antes do jogo. Timidamente. Para mais com tempo para o chuvoso, e com um discurso tipo “agora só a Taça é que interessa", que muito se poderia esperar? 7-8 mil pessoas. Merecia-se melhor ensaio para o Jamor. Mesmo assim, há algum ambiente, de uma bancada para a outra. Ao menos, somos todos beléns, apesar da despropositada referência a 3 de Lisboa nos 4 primeiros, que me revoltou, a mim e não só. O Belenenses joga em souplesse mas é quanto basta, com Garcés e Dady, este pela 1ª vez de Penalty, a facturarem. Marco Aurélio é titular, é acarinhado, aplaudido, recebe ramos de flores, vem agradecer. Emociona-se e emociona-me. Dói vê-lo partir. As más notícias vêm doutros lados. O Boavista, pois não havia de ser, perde em casa com o Braga. Liedson marca e continua com 1 de vantagem sobre Dadygol. A surpresa após o jogo: Jesus surpreende ao dizer que o Imperador vai ser titular em Alvalade e que ficará para o ano se quiser. Entretanto, nova reunião da Fúria. Acertam-se detalhes, acrescentam-se projectos e iniciativas e as 8 mil bandeiras estão a arrancar.
E nos dias seguintes, elas começam a afluir. Já há 2.500 feitas quando a notícia chega, brutal: não podem entrar. Depois...talvez afinal possam. O impasse arrasta-se e pára-se; mas outras coisas continuam a ser trabalhadas pela Fúria.
Alvalade para esquecer. Uma das 2 piores exibições da época. Tudo mau. Até o Liedson marca logo os 2 primeiros golos, arrumando a questão do melhor marcador. 4-0 é muito pesado: fere o orgulho. Há que reconhecer que o ambiente final deles foi espectacular. Mas ao menos não os vimos festejar o título. O Braga fez o pontito que nos tira o 4º lugar. Uma única dúvida: foi de propósito não mostrar o nosso jogo? Bem, sem Ruben e Gaúcho, não tínhamos meio-campo defensivo, de qualquer modo. Foi duro; mas como não pensava ganhar os dois jogos, talvez ganhemos o mais importante.
Começa a semana antes da final da Taça. Todas as noites menos uma no Restelo. Além das hastes das bandeiras proíbidas, muitos contratempos. Mas logo se recomeça, procurando alternativas. É isso o melhor do Belenenses: recomeçar sempre, resistir! Uma cruz vermelha imensa começa a surgir. E uma frase gigante: Belenenses Sempre! Sempre, sempre, sempre! E muitas faixas azuis de plástico. E sabe-se que há faixas de beléns de muitos sítios.
3ª feira, a esperança: talvez afinal autorizem as hastes das bandeiras. Pensa-se recomeçar. Há gente disposta a dar tudo por tudo. Mas vem, no fim de mais esperas, o não definitivo. Só com hastes levezinhas, tipo varetas. Acho que tanto empenho e trabalho não merece ser em vão, há quem possa mandar fazer, e o custo era limitado...tento um telefonema mas percebo que é em vão. Porquê?
Já é 5ª feira à noite. De novo para o Restelo. Passo no Marquês de Pombal na esperança de ver os cartazes “Descubra o Belenenses”. Nada. Tristeza. Vale a alegria da malta da Fúria, trabalha-se, há entusiasmo, camaradagem verdadeira. Alguns são autênticos heróis de esforço e dedicação. Fala-se do jogo...vamos ganhar? Já ninguém sabe, esperanças e receios misturam-se confusamente. E vai haver muita lagartagem no nosso lado? Combina-se que no meio da Fúria...nem um ficará.
6ª feira. Começa o fim-de-semana de toda uma geração. Há faixas que chegam. Aprontam-se as bandeiras enormes. A coreografia começa a ficar pronta: a bela cruz, a bela frase, o belo azul. Amanhã, bem cedo começa tudo a mexer, as últimas compras, começar a levar as coisas para o Jamor...tudo...
Sábado...um vento de emoção arrepia-me a pele. Saudamos, cá de cima, os jogadores que vão para o estágio. Força, rapazes! Almoço em Algés. No regresso, em dois ou três carros, cachecóis de fora, apitamos pelas ruas. Outros carros respondem, pessoas acenam. Estremeço de pensar na festa enorme que será, se ganharmos.
A sede da Fúria fervilha de trabalho. A Loja Azul está cheia, cheia, cheia. Restelo com vida, enfim! O Marinho Peres, os jogadores de 89, e outros no relvado do Restelo, para uma jogatana. Até nas bancadas há velhos rostos. Voo para 18, 20 anos atrás. Sinto o cheiro, o ambiente de outros tempos. “Meu velho Belém”! Alguns têm uma considerável barriguinha mas como sabem ainda jogar! Homenagem aos Campeões e vencedores de Taça. Mais o filho do primeiro de todos? Cansado, lá vou. Artur Quaresma é imenso, um mestre. Vicente, sem uma palavra, qual esfíngie, tem o peso da lenda. Comoção. Sinto-me feliz por sentirem o nosso respeito e gratidão infindáveis. Que bem fala o Castro! A história do Estevão impressiona-me: isso é belenensismo! Fez bem o Rodrigues em contar essa história, mais a do Raul Figueiredo. Juanico, Chico Faria, Sobrinho, parece que o tempo não passou. Na assistência, velhos rostos, venerandos... e gente que viu...e gente que quer ver. E a Fúria Azul tem igualmente o aplauso e reconhecimento merecidos.
Arranca-se para o Jamor. Começa a montar-se o tasco. Há alegria no ar. Estandartes de plástico, azuis com o nosso símbolo, sinalizam e bordeiam o caminho.
Tenho que ir dormir, o cansaço é muito. Mas chegamos cedo. Os sentimentos confundem-se, num turbilhão. Vai chegando cada vez mais gente. O tempo avança e vão-se pôr os materiais na bancada. Olho o estádio: como era diferente das outras vezes.... Olho para o outro lado, onde ficámos, penso no muro onde festejei a vitória de 89, lembro-me do meu Pai.
Há que comer qualquer coisa. Saúdam-se amigos. Passamos por lagartos. Vêm arrogantes: “Vai ser cada tiro um melro!” (penso: talvez te lixes); “olha, ainda há adeptos do Belém!” (muito mais do que imaginas. Vocês é que talvez não tivessem nenhum, se tivessem passado o que temos passado). Começam a chegar camionetas de fora. A malta rejubila, inflama-se: é o Belenenses profundo que ressurge.Vem de todo o país e do estrangeiro.
E chega a hora de entrar. Sentimos um aperto. No estádio há mais beléns, nessa altura, que lagartos. Mas sabe-se que a televisão só foi ao lado por onde entra a maior parte dos sportinguistas e diz que quase só há verdes. A **** do costume. Amanhã, se o Sporting ganhar, nos jornais vai parecer que jogaram sozinhos. O estádio vai enchendo. A malta do Belém está cheia de fôlego. Ainda domina o som do estádio. Mas começam a entrar lagartos para o nosso lado. Apetece-me fazer não sei o quê a quem traiu. A minha revolta só mudará de direcção quando, interrogando vários, sei que obtiveram os bilhetes no Sporting e na Federação (que nos dissera ao telefone que não vendiam ao público. Pois....).
O estádio está cheio, uns 35% são nossos, é menos que em 89, mas aguentámo-nos, ainda estamos vivos. Há muitos jovens azuis: a cadeia de transmissão continua a funcionar. Há um clube-mártir, uma nação clubística que resiste. As equipas entram. Erguemos tudo o que é Azul e Belém, as bandeiras, a cruz, a faixa, as vozes, as almas....
Vai começar. O Sporting faz logo perigo. Aos 10m, Amaral responde com remate perigoso. O jogo vai assentando. Eles atacam mais, mas reequilibrámo-nos. Aos 30m, o coração bate forte: sucessão de falhanços. É como se nós fizéssemos tudo para sofrer um golo e eles para não o marcarem. Reequilibramos. Agora somos nós a ameaçar. Boa jogada de Silas, belo remate...e Dady quase chegava para a recarga.
Intervalo. Estamos na luta. Tudo pode acontecer. O favoritismo deles ainda existe mas é ligeiro.
E reentramos bem, mais afoitos. Atacamos mais. O Sporting começa a ter cautelas. Aos 61m, Zé Pedro cruza...Dady de cabeça...Ricardo...bola na trave! A malta do Belenenses levanta-se, voltamo-nos para trás a pedir pata gritarmos todos e irrompe “Belém! Belém” Belém!”. Os minutos seguintes mostram a nossa equipa na mó de cima. O Sporting está receoso, até perde tempo. Rubén (que pena!) sai lesionado, entra Fernando. Jesus abre o jogo. E depois, mostra que veio para ganhar, lança Garcés e passamos a ter dois pontas de lança. Eu, que por cautela sou sempre pessimista, preparo-me para ganharmos. Chego a pensar: despachem isto, façam o golo para tranquilizar, estamos fartos de sofrer. Zé Pedro irrompe pela área, é tocado, mas ingenuamente, ou só a pensar no golo, não se atira para o chão. Vai ser na próxima, penso, espero. Mas o jogo embrulha-se, caminha para o final. Olho o relógio, faltam 5 minutos.. Penso no jogo de 1955...não, não pode ser, ainda por cima já perdemos este ano o 4º lugar no fim, não, não, não vai ser....Mas 2 minutos depois, com Amaral de fora e um a menos, vem o golpe: não posso acreditar!.... Tento ficar impávido. É a dor dos “meus” o que mais me preocupa. Desço mesmo cá para baixo, agarro na bandeira maior que ali há, agito-a: se cairmos, que seja de pé! Ainda se tenta gritar Belém. Nivaldo ainda quase que chega à bola num canto. Mas acaba. A festa é deles. Há lágrimas em tantos olhos azuis....outra vez! O que isto significava para nós, nem a lagartagem, nem os jornaleiros e repórteres podem imaginar. Saio lá para fora, para não parecer que faço número. A aparelhagem despeja músicas do Sporting; lá puseram o nosso hino mas nem o deixaram acabar.
Ainda há que carregar as coisas. Na malta do Belém, os sentimentos misturam-se: orgulho, inconformismo, tristeza, valeu a pena, olhar para o futuro. Todos sabemos que a nossa equipa foi digna. Mas só depois de uma noite dormida vejo tão claro que estivemos mesmo, mesmo a ganhar...
E acabou a época. Preocupações e esperanças: problemas financeiros? Não podemos jogar no Restelo para a Uefa? Vamos ter outra vez uma boa equipa. Talvez cheguemos no mínimo à fase de grupos, oxalá que sim, e só se não puder é que não vou ver o 1º jogo fora...
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