História de Matateu - XIII


Prosseguiu o campeonato, até que, em 20 de Novembro de 1955, de novo a equipa nacional esteve em acção. O encontro foi disputado no Estádio Nacional, e o nosso adversário era a excelente equipa sueca. Mais uma vez, Matateu alinhou no lugar de interior direito.
Embora não tivesse marcado qualquer golo, o jogador moçambicano creditou-se de notável exibição, partindo dos seus pés os momentos de maior perigo para o reduto defensivo da turma da Suécia, não obstante ter sido bastante vigiado pelos seus adversários.

Em 8 de Dezembro o torneio máximo do nosso futebol voltou a ser interrompido não para a realização de qualquer encontro da selecção nacional, mas por se efectuar em Madrid o jogo entre as selecções das capitais dos dois países ibéricos.
Matateu teve uma actuação brilhantíssima, que a enorme assistência aplaudiu com entusiasmo. A exibição de Matateu foi coroada com um excelente golo e, embora na turma de Madrid tivessem actuado Di Stéfano, Collar e Rial, entre outros, o que é certo é que tanto a crítica espanhola como a portuguesa o consideraram como o melhor jogador no rectângulo.

Dez dias depois, Matateu envergou mais uma vez a camisola das quinas. O jogo realizou-se em Istambul. A selecção da Turquia constituía, para nós, portugueses, uma autêntica incógnita. Depois de algumas derrotas com equipas de segundo plano, os turcos impuseram-se em Istambul aos espanhóis, vencendo por 1-0.

O primeiro Turquia-Portugal era aguardado com grande expectativa. Matateu era indicado, nos órgãos de imprensa turcos, como um dos mais difíceis obstáculos à sua selecção. Todavia o belenense teve nesta partida, em que fomos vencidos por 3-1, uma das suas piores tardes.
Três dias antes deste encontro, justamente no dia 15 de Dezembro de 1955, Lucas da Fonseca viveu um momento inesquecível, quando o papa Pio XII recebeu o grupo português.
Numa das salas do Vaticano, Pio XII dirigiu à caravana lusa uma mensagem em português em que exaltou as virtudes do nosso povo e na qual teceu interessantíssimas considerações a propósito das práticas desportivas, acabando por oferecer medalhas a todos os portugueses.

Matateu recorda (em 1960) sempre esse momento com verdadeira emoção, afirmando ser um dos grandes momentos que o futebol lhe ofereceu.
Após o jogo de Istambul, a equipa portuguesa efectuou outro encontro no Médio Oriente, desta vez na cidade do Cairo, tendo como adversário o 11 representativo do Egipto.
Neste encontro, Matateu alinhou a extremo direito, alcançando assim o curioso recorde de ter sido o único avançado que, ao serviço da selecção, actuou em todos os lugares da linha avançada.

O jogo realizou-se na estádio Zamalic, que registou regular assistência, e foi marcado por incidentes por parte do público, especialmente quando os portugueses fizeram o terceiro golo, ainda na primeira parte. Matateu foi um dos heróis da partida, alcançando dois dos quatro golos da nossa turma.
O malogrado jornalista e seleccionador nacional, dr. Tavares da Silva, disse em entrevistas concedidas a vários jornais, que Virgílio, Travaços e Matateu tinham sido os melhores da equipa portuguesa.

Recomeçado o campeonato, o Belenenses defrontou o lusitano nas Salésias. Os azuis venceram. Matateu marcou o golo da vitória. No Domingo seguinte, o Belenenses jogou no Jamor, e perdeu com o Sporting, tendo Matateu feito uma exibição bastante abaixo das suas possibilidades.
Quatro dias depois, o Belenenses voltou a perder, desta feita com o F.C. Porto, ficando assim, mais uma vez, arredado do título.
Matateu, contudo, mantinha-se em forma e, em 25 de Março de 1956, voltava a envergar a camisola da selecção nacional portuguesa.

O jogo teve como cenário o magnífico estádio do Jamor. Adversário: a Turquia. Encontro com características de desforra pois, em Istambul, tínhamos perdido.
O jogador belenense começou mal, mas, conforme o tempo decorria, foi subindo o seu nível exibicional, mormente na segunda parte em que foi desconcertante. Marcou um golo de óptimo efeito.
No final da partida, alguns dos elementos da equipa adversária consideraram o popular jogador como um dos melhores em campo.

E, em Abril desse mesmo ano, Matateu viu aumentado o número das suas internacionalizações ao alinhar no 11 que, no dia 8, defrontou o Brasil, também no Estádio Nacional.
Mais uma vez o famoso moçambicano vestiu a camisola número 7. Matateu nunca mais esqueceu esse dia.
Aos 30 minutos de jogo, à entrada da grande área, Matateu é carregado por De Sorti. O árbitro assinala grande penalidade que foi marcada pelo jogador belenense, o elemento que estava indicado pelo seleccionador nacional para essa função. O remate partiu, forte, mas à figura de Gilmar.

Aos 80 minutos, Matateu foi substituído por Fernando Caiado. Mesmo assim, a crítica brasileira foi unânime em afirmar que Matateu havia sido dos melhores avançados portugueses.
Milton Pinheiro escreveu no jornal “Última Hora”: “Que ideia foi aquela de substituir Matateu, que era o melhor avançado?”.
Depois do campeonato, veio mais uma edição da Taça de Portugal. O Belenenses, depois de eliminar o Montijo, vence também o Benfica. Dias depois, o Belenenses desloca-se a Sevilha onde defrontou a equipa principal daquela cidade. O Sevilha venceu por 4-1, e Matateu sofreu uma lesão no tornozelo.
Prosseguiu a taça onde o Belenenses, depois de ter eliminado o Caldas, veio a sucumbir perante o Torriense, num encontro efectuado na Tapadinha, e onde Matateu actuou muito abaixo das suas possibilidades, perdendo dois golos certos.

Na vida dos grandes ídolos também há muitas tardes cinzentas, e o popular jogador de Belém não fugiu à regra.