1989: A VITÓRIA DE UMA GERAÇÃO BELENENSE.

Três anos apenas tinham passado após a final da Taça de Portugal de 1986 que impôs o Belenenses ao Benfica, e os azuis estavam de regresso ao Jamor. O adversário: novamente os benfiquistas.
O percurso azul até à final de 1989 foi brilhante, realizado através de seis jogos nos quais o Belenenses marcou 19 golos e sofreu apenas 4.
O primeiro adversário que calhou em sorte ao Belenenses foi o Sintrense: vitória tranquila por 2:0. Seguiu-se o Portalegrense, goleado por 7:2. A senda das vitórias fáceis manteve-se – 3:0 – desta feita impostos ao Sporting da Covilhã. Nos oitavos de final, o primeiro grande adversário: o F.C. Porto. Nova vitória belenense, por 1:0, poucos dias após Marinho Peres substituir Mortimor enquanto treinador azul.
De seguida, nos quartos de final, registou-se nova vitória tangencial – 2:1 – perante o Sporting de Espinho.

Um só jogo separava o Belenenses do regresso ao Jamor, ditando o sorteio a visita do Sporting ao Restelo.
Tratou-se, segundo o jornal do Belenenses, de “uma grande jornada azul, com o Restelo a registar a maior enchente da temporada e a equipa a revelar o ânimo e o moral, a categoria e a maturidade indispensáveis para rubricar o volta-face e subjugar o Sporting, que na segunda parte, verdade se diga, teve de conformar-se com o nítido ascendente dos pupilos de Marinho Peres”.
O sonho tornara-se realidade, e o Belenenses estava novamente presente no maior palco do futebol português: o Estádio Nacional.
Antevendo o jogo, Marinho Peres, perante as possibilidades belenenses na final e de serem “11 contra 11”, comentou:
“Isso é um papo muito antigo. Para nós o que conta é que é um jogo de vida ou de morte. Talvez não tão cedo tenha o Belenenses hipóteses de voltar a uma final. Vamos dar tudo por tudo. Vamos colocar o coração também em jogo.

A grande final de 1989.
Lisboa, 28 de Maio de 1989. 60.000 espectadores enchiam o Estádio Nacional. Perante um mar azul, surgem no túnel de acesso ao relvado os 11 heróis belenenses: Jorge Martins; José António; Teixeira; Sobrinho; Baidek; José Mário; Juanico; Chiquinho Conde; Macaé; Adão e Chico Faria.
Foi, escreveu José Manuel Freitas, “uma final da Taça com todos os ingredientes necessários para um grande espectáculo: bom futebol, incerteza no resultado, bancadas repletas, emoção dentro e fora das quatro linhas… o Belenenses acabou por levar a taça e diga-se com toda a justiça, pese embora a excelente actuação do Benfica. Mas uma figura imerge, 29 anos depois, desta proeza sensacional: Marinho Peres! A ele o Belenenses deve uma grossa fatia desta vitória”

Crónica dos golos azuis.
Depois de uma placagem incompleta de Mozer a Chico Faria, “que lhe surgiu embalado de trás para a frente, (o defesa brasileiro) levantando de imediato o braço como que a reclamar da sua infracção e permitindo que o avançado dos azuis se isolasse a caminho da baliza de Silvino e abrisse o activo”.
Cinco minutos depois do empate benfiquista surge o grande momento do jogo: “…a «estrelinha» de Marinho Peres estava na bota direita de Juanico, o qual, na sequência do livre… dispararia um petardo indefensável para Silvino. Um golão!”
Estavam decorridos 79 minutos de jogo e, pouco mais de 10 minutos volvidos, e Belenenses sagrava-se, 29 anos depois, vencedor da Taça de Portugal.

A festa.
Os minutos após a «bomba» de Juanico pareceram uma eternidade. A que… Alder Dante apita pela última vez. Marinho Peres corre então para o relvado e abraça, um por um, todos os jogadores azuis, os seus jogadores. Nacurva belenense o azul reina, orgulhoso, num mar de cachecóis e bandeiras que brindam a conquista dos heróis de 1989. O grande capitão José António recebe, tal como haviam recebido Amaro e Vicente, a taça e ergue-la de encontro ao céu. A taça que, tal como o céu, é azul passa então de mão em mão por todos os jogadores que a exigem, exultando de alegria, a sua gente, à gente belenense.
Para terminar, fazemos nossas as palavras de Hélio Nascimento:
"E foi o sensacional remate de Juanico que tornou, então “o vale do Jamor todo azul. Azulão. Foi na verdade o azul que imperou da Cruz Quebrada à Madragoa, de Belém ao Beato, de Campolide à Costa de Caparica. As horas que se seguiram foram de festa. De festa azul. Caravanas de carros que não paravam de apitar, os gritos «Viva o Belém» e «Ganhámos, ganhámos» e as bandeiras e cachecóis esvoaçando ao vento, enfim, o corolário lógico de hora e meia que ficará para sempre gravada na memória dos beléns".