
História de Matateu - 7ª parte.
O nome de Matateu foi popularizando-se no firmamento do futebol português. Domingo após Domingo, as suas características de jogador eram focadas pela critica, que não se cansava de proclamar a recente chegada a Portugal de um dos mais extraordinários futebolistas que actuavam nos rectângulos nacionais.A sua figura felina, desconcertante, era um problema constante para os adversários. Os seus “tiros” fulminantes onde a força se aliava à rapidez quase diabólica, eram o terror das guarda-redes.
A fama do popular interior belenense foi crescendo. Os seus dotes de futebolista nato ultrapassavam barreiras. Matateu vivia a euforia da sua ascensional carreira. De Norte a Sul do país, o seu nome era pronunciado como o de um dos mais famosos jogadores portugueses.
Mas Matateu não se deixou embalar pelos louros conquistados. Em seu entender, ele pouco tinha feito ainda. Trabalharia com vontade, dedicar-se-ia aos treinos, para que pudesse ser ainda mais útil ao seu clube.
Sucederam-se as exibições em bom plano, e Matateu, que desde pequeno se habituara a sonhar, a deixar vogar os seus sonhos, voltou a sonhar. Não como naquelas noites em Alto Mahé que pensava que queria ser um jogador a sério. Esses sonhos tinham sido realizados. Eram outros, agora, aqueles que começavam a povoar-lhe o cérebro.
Vestir a camisola nacional constitui, sem dúvida, o mais alto galardão da vida de um desportista. E Matateu queria ser internacional. Queria envergar a camisola de Portugal, e com ela bem cingida no seu dorso de lutador incansável honrar o futebol português e satisfazer os votos daqueles amigos de Lourenço Marques que lhe tinham enviado um telegrama no dia da sua chegada a Lisboa.
Decorria a época de 1951/52. Matateu era uma das vedetas do Belenenses. A temporada futebolística estava a chegar ao fim. E, naquela época, Matateu não fora seleccionado. Mas o sonho não morrera. Na ânsia incontida de realizar o seu desejo, Matateu entregou-se denodadamente ao futebol. O seu dia devia chegar, mais tarde ou mais cedo. Ele continuaria a alimentar o seu sonho.
Finalmente, no dia em que fez 14 meses que tinha sido consagrado pela critica de Lisboa, Lucas Sebastião da Fonseca atingia o galardão máximo da vida de um futebolista. Envergava pela primeira vez a camisola vermelha com as quinhas no peito. A estreia de Matateu na equipa nacional registou-se na cidade do Porto no dia 23 de Novembro de 1952. O adversário de Portugal era a então famosa equipa da Áustria, recheada de valorosos elementos. O resultado final do prélio cifrou-se num empate a uma bola. A actuação do jovem laurentino não fora brilhante. Todavia, o seu espírito de lutador esteve sempre bem patente e foi bem recebido por toda a critica. Esta foi a primeira internacionalização de Matateu; porém, já em 20 de Abril desse mesmo ano de 1952 ele tinha estado em Colombes como suplente da selecção portuguesa.Os críticos aprovaram a actuação de Matateu, e, passados apenas 21 dias, envergou novamente a camisola de Portugal. Foi cenário da contenda o maravilhoso Estádio Nacional. O adversário: a Argentina. Lucas da Fonseca teve a sua primeira grande exibição pela equipa nacional. Apesar da cerrada marcação de que foi alvo por parte dos defesas sul-americanos, o interior-esquerdo português foi um constante perigo para as balizas adversárias.
Consequência da brilhante exibição efectuada, a critica desportiva voltou a destacar a acção do magnífico jogador belenense. Também no país das Pampas a exibição de Matateu foi realçada pelos jornais. Depois de Lisboa e das colónias, o nome de Matateu iniciava a sua digressão pelo estrangeiro.
Por vezes tudo parecia uma lenda na história de Matateu. Numas das últimas vezes que falámos (em 1960) com o “ariete” azul para a recolha de elementos para esta história, o notável jogador disse-nos:
“- É verdade, a minha história tem coisas que nem parecem certas mas pode crer que o são. Longe estava eu de pensar que tantas peripécias viriam a passar-se na minha vida…”
(8ª parte na Quarta-feira)






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