História de Matateu - 6ª parte

Aquando na sua estreia em Lisboa, no encontro contra o F. C. do Porto, Matateu recebeu dos seus amigos de Lourenço Marques um expressivo telegrama de felicitações e desejos que o jovem Lucas soubesse honrar o desporto laurentino. Naquele primeiro jogo no Estádio Nacional, Matateu não conseguiu os seus intentos.
Ainda assim, pouco durou a dúvida no espírito dos adeptos belenenses que não tinham assistido à exibição do novo recruta. No jogo de 23 de Setembro, realizado nas Salésias, frente ao Sporting, surgiu o primeiro êxito clamoroso. A expectativa era enorme. Por parte dos adeptos “azuis” havia um sector que acreditava nas possibilidades do jovem moçambicano, outro que aparentava descrença.

Após os primeiros lances, Matateu começou a evidenciar-se. A sua figura aparecia em todas as jogadas, os seus “raids” tinham electrizado a grande multidão que enchia o velho campo do Belenenses. A pouco e pouco, à medida que o jogo ia decorrendo, mais a figura de Matateu se agigantava. Fintas extraordinárias, “dribles” consecutivos em espaços quase inacreditáveis , remates fulminantes a coroar avançadas verdadeiramente diabólicas, onde, por vezes, o adversário ficava estupefacto.
O delírio apoderava-se dos belenenses. Havia quem não quisesse acreditar, mas a prova era evidente, esteva ali naquele rectângulo, por onde tinham passado tantos nomes grandes do futebol português.

Naquela tarde de sol, a relva das Salésias era pisada por outra vedeta do futebol. Era aquele moço de cor de ébano que poucos dias antes havia chegado de Moçambique. Na sua primeira entrevista concedida aos jornais de Lisboa declarou, a uma pergunta do repórter, que não pensava por enquanto marcar uma posição de relevo, pois em Lisboa existiam muitas vedetas. Todavia, naquela tarde, Matateu guindava-se aos primeiros planos do futebol nacional.
Voltemos ao célebre jogo.
Pelas constantes oscilações do marcador, o desenrolar do encontro tornou-se apaixonante. Quando o resultado se encontrava em 2-1 favorável aos “leões”, o interior belenense, após uma jogada culminante que levou a assistência a vibrar delirantemente, igualou o “placard”: primeiro golo de Matateu ao serviço do Belenenses.
Minutos depois os “azuis” colocavam-se na posição de vencedores mas Jesus Correia, a dez minutos do fim, voltou a marcar.

Com o resultado de 3-3, mais se acentuou a emoção, dentro e fora do rectângulo.
O público não acreditava que o marcador voltasse a funcionar. Faltavam uns escassos minutos para o final do prélio. Eis que surge novamente Matateu de posse do esférico. A meio do meio campo parou a bola. Fez-se silêncio nas hostes belenenses. Os olhares não fugiam daquele rapaz inquieto que ali estava, olhando o melhor local para lançar a bola. Não viu nenhum colega desmarcado, e então, em fuga vertiginosa, foi progredindo, fintando este, driblando outro. Os adversários foram ultrapassados e, perto da baliza, Matateu rematou violentamente. Era o golo da vitória.
Quando o árbitro apitou, dando por terminado o encontro, o público não se conteve. Foi o delírio. Num ápice, o rectângulo foi invadido por uma multidão eufórica. Matateu foi passeado em triunfo. Ainda hoje (em 1960), Matateu recorda esse dia. A crítica rendeu-se ao valor do jovem jogador belenense.
O saudoso jornalista Alberto Valente comentou a actuação de Matateu com as seguintes palavras:
“Dessa beleza, dessa emoção e em particular do triunfo belenense, sobressaiu, contudo, a influência do novo recruta da equipa visitada.
Matateu foi o homem dos 45 minutos finais! Foi ele quem venceu, de facto, os dez homens que o Sporting manteve então no terreno.”
Mais adiante, Alberto Valente escreveu:
“Estamos em crer, sinceramente, que o Belenenses não se aguentaria tanto tempo na posição de notável vencedor do encontro de ontem sem a cooperação valiosíssima do seu novo interior-esquerdo. Ele foi o «fulcro» da toada que a equipa utilizou e, mais do isso, foi o «galvanizador» das energias dos seus colegas.
Dez contra onze… e Matateu contra o Sporting, deram, sem margem a dúvidas, um 4-3 que encheu de satisfação os entusiastas de Belém”

Começou assim o grande período de Matateu.
Depois da consagração, Matateu subiu a escadaria da fama. Em Belém havia um novo ídolo. Chamava-se Sebastião Lucas da Fonseca, mas todos o conheciam por Matateu.