História de Matateu - 5ª parte

Na história de Matateu há todo um rosário de datas que assinalam grandes momentos na vida desportiva do famoso jogador.
Umas mais do que outras, ele relembra com mais assiduidade, quando nos vai narrando a sua história.
4 de Setembro de 1951 figura justamente no número daqueles dias que Matateu jamais esquecerá.
Até esse dia, Lisboa era apenas um nome que muitas vezes lhe bailava no cérebro. Era quase uma lenda, que ouvia contar, como história para meninos, e que, lentamente, foi tomando forma, agigantando-se ao ponto de se tornar uma obsessão constante.

Quando João Belo lhe dirigiu o convite, mais se arreigou em si a estranha miragem.
Era uma tarde de sol. Ao fim de algumas horas o avião sobrevoava enfim a bela cidade das sete colinas. O sonho estava concretizado, aquilo que tinha sido uma miragem, era agora uma bela realidade.
Depois de uma manobra perfeita, a aeronave quedou-se inerte numa das pistas do aeroporto da Portela.
Aguardando o novo jogador “azul”, encontravam-se alguns adeptos da popular colectividade, que logo que o viram aparecer na escada que o conduziria a terra firme, o aplaudiram entusiasticamente. Não faltavam os jornalistas, homens da rádio e dirigentes do clube de Belém. Todos queriam ser os primeiros a ver o homem que vinha precedido das melhores referências, o elemento em quem os sócios do Belenenses depositavam as maiores esperanças para a época que ia começar.

Matateu tentou responder a todas as perguntas que lhe dirigiam, lançava sorrisos de agradecimento àqueles que o aclamavam.
A primeira surpresa do jovem moçambicano foi quando espraiou os olhos pela cidade. – Que bonita que é Lisboa!
Depois dos cumprimentos de apresentação, de gravadas as primeiras palavras para a rádio e arquivadas as suas esperanças e ambições para os jornais da capital, Matateu, acompanhado pelo dirigente do seu novo clube, Eugénio Moita e pelo chefe da secretaria, Manuel Vacondeus, dirigiu-se a um café onde era costume concentrarem-se alguns elementos de destaque na vida do Belenenses, e aí foi apresentado aos restantes membros da direcção, entre os quais Francisco Mega, na altura presidente do clube.

Naquela noite o homem de Alto Mahé não dormiu. As emoções naqueles últimos dias voltavam-lhe à mente. A despedida em Lourenço Marques, a viagem de avião, o acolhimento dispensado em Lisboa, os jornalistas, os homens da rádio, tudo num emaranhado turbulento vivia na sua cabeça.
Só mais tarde conseguiu descansar um pouco, mas logo se lembrou que no dia seguinte seria o seu primeiro treino no campo das Salésias.

Ia conhecer e ver em acção homens cujos os nomes tantas vezes ouvira pronunciar em África, como grandes do futebol português. Nomes que lhe “entravam” nos ouvidos e ecoavam em si como figuras lendárias, como verdadeiros génios da bola.
No dia seguinte no relvado das Salésias, Matateu era apresentado aos seus novos colegas e ao treinador do Belenenses, na altura Augusto Silva.

Logo no início do treino o novo recruta dos “azuis” teve a noção exacta de que o futebol praticado na Metrópole era bem diferente daquele que se jogava em Lourenço Marques. A sessão começou com alguns exercícios de ginástica, depois toques de bola, e por fim um curto período de treino de conjunto. A mudança de ambiente, a veloz transformação operada na sua vida, não causaram qualquer complexo no jovem moçambicano. Como tinha acontecido naquele jogo em Manjacaze, também nas Salésias depois de a bola saltitar à sua frente, depois de se entregar à luta, ele esquecera tudo para viver o seu mundo, para jogar à bola.
Os sócios que assistiram ao treino estavam radiantes com a nova aquisição do clube. Se até aí as esperanças eram grandes, embora com algumas reservas por parte dos mais pessimistas, a partir desse momento não ficara dúvidas a ninguém. Estava ali um grande jogador, afirmava-se à saída do campo da rua das Casas de Trabalho.

Durante toda a semana, Lucas da Fonseca entregou-se aos treinos com vontade, pois sabia que a sua estreia na equipa estava marcada para o dia dezasseis, ou seja, doze dias depois da sua chegada a Lisboa, num encontro contra o Futebol Clube do Porto, a contar para a “Taça Maio Loureiro”, disputada no Estádio Nacional.
E esse dia chegou. A sala de visitas do futebol nacional encontrava-se com bastante público. Matateu era o alvo de todos aqueles olhares.

A primeira exibição do moço laurentino não foi brilhante. O nome do adversário, que fora um dos que pretenderam os seus serviços, e o número de espectadores, influíram na sua actuação. E ele que normalmente não era nervoso deixara que naquele dia se apoderasse de si um estado nevrótico bastante denso.
Os críticos não se alongaram muito na apreciação ao jogo de Matateu.

E surgiram os primeiros desalentos por parte de alguns adeptos. Não, Matateu não era um fenómeno.
No Domingo seguinte disputava-se nas Salésias um grande jogo. Nada menos que um Belenenses–Sporting. Matateu voltou aos treinos, foi acarinhado pelos colegas e animado pelos dirigentes.
E em 23 de Setembro, a critica desportiva consagrou o futebolista moçambicano…