Artigo de Opinião: o factor J. - 1ª parte

Na época transacta, a direcção do Belenenses apostou alto. Contratou bons jogadores e traçou uma meta mesmo antes da liga começar: uma classificação europeia. Chegaram mesmo a ser afixados cartaz no Restelo com o sonante título “Rumo à Europa”.
A verdade é que a grande maioria dos associados belenenses acreditaram neste desígnio, e tal como a direcção pensaram ser possível regressar à Europa do futebol. Claro que esta crença foi em muito fomentada pelos bons resultados do início da época: 3 vitórias nos primeiros 5 jogos – Leiria, Penafiel e Guimarães – e duas derrotas relativamente esperadas fora de casa: Sporting e Porto.
Resultado, Carvalhal e os seus jogadores encontravam-se no 5º lugar da classificação, e os associados azuis acreditavam na equipa e na presença na uefa.
Seguiram-se, como todos sabem, 4 derrotas difíceis de explicar: no Restelo frente ao Estrela e ao Rio Ave, e fora com a Naval e com Aves, o que significou o afastamento prematuro da Taça de Portugal.
Soou o alarme em Belém, os sócios duvidaram da qualidade da equipa e Carvalhal acabou por ser afastado: Couceiro era o treinador que se seguia.
Mas… os maus resultados prosseguiram: derrotas com Braga e Marítimo e empate com o Boavista.
10 pontos em 10 jornadas – 15º lugar da classificação - e 2 treinadores só podiam significar uma coisa na cabeça da grande maioria dos associados azuis: o plantel azul não tinha de facto qualidade.
O resto da decepcionante época confirmou isto mesmo, acabando o Belenenses por descer desportivamente de divisão.
Entretanto, surgiu toda a confusão que resultou do “Caso Mateus”, e os azuis do Restelo ficaram, afinal, entre os grandes do futebol português.
Devido a todas as vicissitudes – conhecidas por todos – o plantel azul acabou por ser formado a pensar na 2ª divisão, o que significou poucos reforços e duas saídas de peso: Pelé e sobretudo Meyong.
De resto, o plantel azul mantinha-se em grande medida sem alterações substanciais.

Foi então que surgiu o factor J.
J. de Jorge, J. de… JESUS!

Este factor ao qual chamámos J. não se fez, todavia, sentir imediatamente.
Assim, o Belenenses entra na Liga com uma vitória frente ao Setúbal, mas seguem-se 4 jogos sem vencer: empates com Académica e Naval e derrotas com Boavista e Nacional. O Belenenses chegava à 6ª jornada (com um jogo a menos) com somente 5 pontos e um pouco confortável 12º lugar da classificação.
Novas nuvens negras instalaram-se por sobre o Restelo, e a nova época assemelhava-se cada vez mais à anterior.
Seguem-se ainda assim duas vitórias moralizadoras frente ao Paços e ao Aves, série positiva imediatamente quebrada com a derrota em casa com o Leiria e com nova derrota desta feita na Amadora – perante uma assistência maioritariamente composta por adeptos do Belenenses. Perante 11 pontos conquistados à 10ª jornada a massa adepta azul inquietou-se e tudo o que esperava para o restante campeonato era não descer novamente de divisão. O clima de preocupação foi agravado devido ao calendário que restava completar na 1ª volta do campeonato: jogos com porto, braga, marítimo, Sporting e duas vezes com o Benfica. O futuro não parecia azul…

De facto, o jogo que se seguiu trouxe nova derrota, desta feita frente ao porto, da qual resultou nova descida na classificação: 12º lugar com 11 jornadas decorridas; 11 pontos obtidos que significavam somente 1 ponto mais em relação ao desastre de 2005-06 (10 pontos à 11ª jornada).

Surge então o ponto de viragem: vitória em Aveiro frente ao Beira-Mar, nova vitória, desta feita no Restelo, frente ao Braga e goleada imposta ao Marítimo, no Funchal.
O céu adquire nova tonalidade azul, e as nuvens são afastadas para outras paragens.
Apesar da derrota na luz – jogo em atraso – e do empate caseiro com o Sporting, o Belenenses de Jesus vira a 1ª volta numa tranquila 9ª posição da liga, fruto de 21 pontos obtidos em 6 vitórias e empates.

Segue-se um momento menos bom, com somente 3 pontos conseguidos em 3 jogos: vitória em Setúbal e derrotas caseiras com Benfica e Académica - pelo meio, vitória em Gondomar e passagem aos oitavos de final da Taça de Portugal.
Resultado: à 18ª jornada 24 pontos – 9º lugar - a somente 4 pontos dos lugares europeus.
Com os lugares europeus nivelados por baixo, muitos acreditavam nesta fase na possibilidade de uma classificação nos 5 primeiros da liga.

A percentagem de menos crentes, depois dos últimos 4 jogos, baixou certamente de forma considerável: 10 pontos obtidos fruto de 3 vitórias e 1 empate, num total de 34 pontos que situam finalmente o Belenenses nos lugares europeus da classificação – 5º lugar a 1 só ponto do 4º. Talvez mais importante seja a presença nas meias finais da taça, depois das vitórias de Fevereiro em Odivelas e Bragança.



Como está a ser possível obter estes resultados?
Uma só explicação: o factor J.

Atentemos ao factor jogadores.
O 11 mais utilizado por Jesus é muito semelhante ao utilizado – ou à disposição - por Couceiro. Dos 10 jogadores de campo, apenas 3 não se encontravam no plantel no ano passado: Cândido Costa, Rodrigo Alvim e Nivaldo.
Tendo em conta que saíram Meyong – o melhor marcador da liga no ano passado – e também Pelé, um excelente central, é evidente que o plantel actual não é superior ao do ano passado: quando muito equivalente.
Por outro lado, parece evidente que alguns jogadores foram quase completamente recuperados ou reciclados por Jesus.
O caso mais flagrante é o de Dady.
No Belenenses desde a reabertura do mercado do ano passado, o cabo-verdiano teve poucas oportunidades de jogar com Couceiro, preterido mesmo por jogadores como Ceára.
Com Jesus Dady foi quase sempre titular, tendo já obtido 6 importantes golos na liga.

Outro exemplo obvio é José Pedro.
O médio não fez parte do 11 titular de Couceiro – não actuou sequer em 9 jogos – e só à 26ª jornada entrou no 11 para não mais sair.
Marcou em toda a época passada 4 golos.
Nesta época é um dos indiscutíveis de Jesus, tendo já 8 golos apontados, um número impressionante para um médio.
A evidente melhoria da época transacta para a actual e ainda notória em jogadores como Ruben Amorim, Rolando e muito especialmente Silas.
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Amanhã a segunda parte no: Belém até Morrer.